quinta-feira, maio 31, 2007

O direito de poder pensar

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Maio 13, 2007

antes e depois

Luís David

Hoje mesmo, nesta tarde de sexta-feira, alguém me perguntou o significado de antes e de depois. Tive dificuldade em responder. Não só tive, como tenho. Continuo a ter. Porque o que para muitos parece claro, o não é para outros. Antes, não é mais do que isso. É antes. Depois, também não é mais do que isso. É depois. Antes, é sempre o que já aconteceu. É o acontecido, é o ido. É o ido e o acontecido. Que não podemos modificar nem alterar. O depois é o futuro. Talvez o presente futuro. Mas, se por hipótese presente não é presente, havemos de nos haver entre passado e futuro. De esquecer, de ignorar, o presente. Neste contexto, nesta realidade concreta, o antes é precisamente isso. O que sabemos e o que não conhecemos do antes. O depois não pode ser diferente nem diverso. É o que somos ou parecemos ser a partir do que sabemos, ou julgamos saber, do antes. Do que foi, embora o que foi possa parecer o que não foi.. Ora, digamos, o que parece ter sido, pode não ser o que, realmente, é. Por exclusão de partes, tudo o que não é, é. Digamos, assim, que não pode haver um antes sem que lhe suceda um depois, sem que o depois tenha antecedido um antes.. Mas, cuidado. Se para haver um depois tem de haver um antes e se a existência de um antes obriga a existência de um depois, caso não exista um antes, também não haverá espaço para a existência de um depois.



Parece irrelevante repetir, hoje, as condições em que foram mortos, recentemente, três cidadãos na zona da Costa do Sol, cidade de Maputo .O que há de relevante é o de saber, é o de repetir, que foram mortos com tiros na cabeça. Disparados a curta distância. E sem possibilidade de defesa. Dos vário inquéritos mandados instaurar sobre o incidente, resultaram posições diferentes. Diversas, No concreto e em resumo, mesmo que se aceite não haver esquadrões da morte como tal, há um fenómeno que preocupa. E esse fenómeno, essa realidade, provada e confirmada, é a de haver quem tem acesso e usa armas de fogo e a viaturas com matrícula policial para matar supostos criminosos. De forma sumária. Ora, quando chegamos a este ponto, quando chegamos a um ponto que parece incontroverso, só acrescem duvidas. Acrescem mais duvidas, Só restam duvidas. E, perante a duvida, cada qual, cada um, é livre de pensar o que quiser. Pelo menos, ainda resta a cada um o direito de pensar. O direito de poder pensar.
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