terça-feira, junho 19, 2007

compreender a diferença entre roubo e sabotagem

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Junho 10, 2007

antes e depois

Luís David

Em termos de língua de comunicação, temos de convir, nem sempre nos entendemos. Ou, na melhor das hipóteses, entendemos menos bem. Sendo que a culpa não pode ser atribuída à língua portuguesa, só pode ser atribuída a nós próprios. Que empregados ou utilizamos mal determinada palavra ou expressão num certo contexto. Por exemplo, perante acontecimentos recentes em Moçambique, fala-se muito de roubo. A questão é se estaremos, de facto, perante casos de roubo ou de sabotagem. Aqui é ou parece claro que, em termos psicológicos, roubar é coisa do quotidiano. Todos os dias há notícias de quem rouba e quem é roubado. Sabotar, não. Sabotar, parece palavra mais arredia do léxico popular. Mesmo do entendimento de muitos. Então, o que pode acontecer é que ao definirmos, ao classificarmos, certos acontecimentos como roubo, estarmos a aligeirar o seu real objectivo.


Registaram-se no país, nos últimos tempos, um conjunto de acontecimentos difíceis de explicar. De difícil de explicação e de difícil entendimento. Um, terá sido esclarecido. O das explosões do Paiol. Outro, o do incêndio no Ministério da Agricultura, parece em vias de o ser. Também. Estranhamente, os casos dos roubos de componentes dos sistemas de iluminação das pistas do Aeroporto de Nampula e do acesso ao Porto de Nacala, terão sido encarados como simples “casos de polícia”. Como simples casos de roubo. E quando não há esclarecimento, parece justo e obrigatório colocar a dúvida. Interrogar, se, de facto, estamos perante aquilo que pode ser definido como um roubo normal. Ou não. Se estaremos, isso sim, perante casos de sabotagem. Se isto pode, de alguma forma, contribuir para o aclarar do fenómeno, desde já se deixe claro que uma coisa é roubar um pato ou uma vaca, um telefone móvel ou um carro. Coisa bem diferente, é roubar um míssil. Como o fizeram os dois majores do Exército do Botswana detidos na fronteira de Machipanda. E, por isso, extraditados para serem julgados no seu país. Na mesma lógica, uma coisa é roubar umas tantas lâmpadas de iluminação pública e algumas dezenas de metros de cabo de transporte de energia num bairro de qualquer cidade. Outra coisa, e bem diferente, é colocar fora de serviço todo o sistema de iluminação das pistas de um aeroporto internacional. Ou o sistema de iluminação da balizagem de acesso nocturno a um porto. Como aconteceu com o de Nacala. Muito provavelmente, há uma grande diferença entre os objectivos e as consequências do roubo do pato ou da vaca e os do roubo de componentes dos sistemas de iluminação dos acessos a instalações áreas e portuárias. Isto para dizer que é necessário compreender a diferença entre roubo e sabotagem.