domingo, setembro 23, 2007

Cerveja e água são negócio

Jornais, rádios e televisões, muitas vezes nos surpreendem em matéria de publicidade. Pela negativa. Naturalmente e para que não restem dúvidas. Digamos que, por vezes, talvez muitas, se nos depara aquilo a que bem se pode chamar de publicidade enganosa. Outras vezes, a publicidade será a produtos de duvidosa qualidade. Também acontece serem publicitados produtos estrangeiros numa linguagem e em termos que nada tem a ver com a realidade nacional. Ou com a cultura indígena local, se assim o permitirem que o digamos. Não se quer dizer, com o atrás dito, que a publicidade, em si própria seja má. Não. O que se está a dizer é que é bem pior do quer má. E, quando se está dizer que é pior do que má, já se poupa, já se evita o recurso ao vernáculo apropriado. Adequado. Pois, bem, o que se está a dizer, o que se está a procurar fazer entender, é que a dita publicidade deve obedecer a regras e a normas. Para que o potencial comprador possa encontrar o produto ou o serviço publicitado. Tal como foram publicitados. E não, como parece poder acontecer, como pode ter acontecido, de formas e maneiras diferentes. Para que quem se dê ao trabalho de procurar o produto ou o serviço publicitado não corra o risco de sofrer desilusão. E de ter de pagar caro. Veja-se só, quanta publicidade enganosa não anda por aí. Podemos, até, citar como mais recente aquela que foi feita pela tvcabo. Que prometeu e deu, mas que depois retirou. Sem mais. É caso para dizer, que em terra de cegos, quem tem um olho é rei. Ou para questionar, se faz sentido Moçambique ir participar na Cimeira Europa-África.


Atenho-me e atento-me, já num tempo mais recente, numa outra peça publicitária. Numa obra prima de anúncio publicitário. Obra prima, será de deixar claro, desde já, pela negativa. Trata-se, aqui, de um anúncio da Águas de Moçambique, que insulta quem comprou a última edição do “Magazine” (19 de Setembro de 2007), quem gosta de beber cerveja nacional e quem paga, pontualmente, a água que consome. Perguntam os senhores a quem, para nossa desdita e má sorte, foi atribuído o direito de fazerem chegar a água a nossas casas, se Sabia que? E, o anúncio, matreco e saloio, em estilo copofónico, dá a resposta. Diz, em legenda sobre quatro garrafas, que 2,5 litros de cerveja custam 125, 00 Mt. Em outras legenda, sobre uns tantos jerricans de plástico, afirma que 10.000 Litros de Água, seu consumo mínimo mensal, custam 120.00 Mt. E, apela de forma carinhosa, infantil e burrical: Pague a sua factura de água, contribuindo assim para a melhoria do serviço. Claro que sim. Mesmo que seja impossível deixar de reconhecer que a melhoria do serviço não se compadece com a exigência de comprovativos de pagamento. Nas tardes de sexta-feira. E de dívidas que nunca existiram. Aquilino Ribeiro, cujos restos mortais repousam desde há poucos dias no Panteão Nacional, em Lisboa, fez da literatura uma causa. E da sua causa uma luta. E não lutou, com toda a certeza, para que estes pedaços de asno, exportados para Moçambique, para aqui fossem enviados com a missão confundir cerveja com água. Sejamos claros: Em Moçambique, cerveja é cerveja, água é água. Cerveja e água são negócio.