domingo, dezembro 02, 2007

uma festa exclusivamente moçambicana

Um pouco por todo o país, o dia da última terça-feira foi dia de festa. De alegria. Houve quem tivesse classificado este 26 de Novembro como dia da segunda independência. Para além da carga emotiva que a afirmação possa conter ou da diferente perspectiva de quem opina, foi, sem dúvida, um dia muito especial para Moçambique. Por constituir um marco importante na história política e económica do país. Haja, embora, quem ainda pensa e continue a afirmar que a HCB não é do Estado moçambicano mas, sim, dos financeiros estrangeiros. Um pensar errado, que o Presidente da República terá, uma vez mais, corrigido a partir do Songo. Com efeito, foi a vila do Songo que acolheu as cerimónias principais que assinalaram, publicamente, a reversão irreversível da posse da Barragem por parte de Moçambique. Dada a importância da cerimónia, ali se fizeram presentes várias individualidades africanas, que se misturaram com o povo local e assistiram a muito cantar e a muito dançar. A muita alegria. Uma alegria nacional e moçambicana.


A reversão, definitiva, da Barragem de Cahora Bassa para o controlo do Estado moçambicano, poderá ter tido dois aspectos negativos. Duas grandes falhas. O primeiro aspecto negativo poderá ter sido o de a tolerância de ponto no dia da festa realizada na vila do Songo, ter abrangido apenas a província de Tete. Em nossa modesta opinião, o país inteiro merecia ter tido tolerância de ponto para poder assistir à cerimónia, à festa do Songo. Através da televisão, como parece óbvio. Mas, como se soube e dado que tal tolerância não foi declarada, houve o recurso a soluções locais. Marcha de apoio aqui e ali, mais concentração acolá, Governador de província a convidar governados para pavilhão desportivo. E, assim, poderem estar, sem terem estado, no Songo. O segundo aspecto, a segunda grande falha negativa, situa-se no nível da delegação de Portugal. Que, ao que se diz e devido ao arrastamento nas negociações, em Maputo, sequer se deslocou ao Songo. Ou, se de facto ali se deslocou, terá passado desapercebida. Digamos, mesmo, não terá sido notada. Que terá sido ignorada. E, dada a importância do acontecimento, o caso não era para menos. Perante esta realidade, perante a realidade, concreta e objectiva, Portugal terá perdido a última oportunidade de descolonizar com dignidade. Portugal perdeu, em concreto e em definitivo, a possibilidade de afirmar que tendo colonizado mal, podia descolonizar bem. E, assim, passar a figurar na História mundial. Mas, tal não aconteceu. E, não tendo acontecido já não existe tempo para que possa vir a acontecer. Assim, a festa no Songo, neste último 27 de Novembro, ficará registada na história como uma festa exclusivamente moçambicana.