domingo, junho 27, 2010

Esconder uma mentira por detrás de meia verdade

É bom fazer-se leitura atenta de quanto é jornal ou notícia impressa. Assim como escuta de rádios e de televisões. Trata-se de matérias sobre as quais muito se poderia, e pode, escrever. Não só comentários, opiniões pessoais. Mas, também, compêndios. Talvez, até, teses de doutoramento. No mínimo, estudos comparativos. De facto, há por aí notícias e programas televisivos para todos os gostos. E paladares. O que permite a liberdade de lhes atribuir uma classificação. Se assim, poderá dizer-se que uns são bons. Outros, nem tanto. Alguns, maus. Para não ter de escrever medíocres. Acontece isto, acontece assim, em todas as televisões e em todos os géneros. Do recreativo e do informativo ao musical. Aqui, neste último género de programas, estamos perante aquilo que se poderia definir como um “vale tudo”. Onde o que conta é quem tem as saias mais curtas. Quem insinua que, num próximo programa, até poderás ver a cor das cuecas das apresentadoras. Ali, é a tentativa de transformar artistas, em início de carreira, em vedetas. Através da manipulação de imagens de uma determinada situação. Imagens essas, aparentemente, conseguidas através de uma câmara oculta. O que poderá ser considerado ilegal. Por fim, temos o que não será menos significativo. Em termos de mediocridade. Obviamente. Trata-se de um programa, também dito musical. Ou, se se preferir, classificado como de entretenimento. Chato e de duvidosa qualidade. No decorrer do qual o apresentador faz gala em abrir uma garrafa de champanhe. Para brindar com o seu convidado do dia. Sem pretender elaborar sobre o assunto, por desnecessário, que seja o leitor a tirar, por si, a sua conclusão. Cá por mim, direi, apenas, “sem comentários”.



Ainda neste campo, do que parece e é e do que parece e não é, há por aí muitas tentativas de distracção. De manipulação. É assim que se assiste á publicação de comunicados das mais diversas instituições como verdades. E sem nenhuma investigação jornalística. Sendo, igualmente, verdade que a lei não obriga a publicação desses textos. O que a lei define, salvo melhor interpretação, é, isso sim, quem pode emitir comunicados oficiais. E quem tem a obrigatoriedade de os divulgar. Mas, nunca, e em tempo algum, documentos aparentemente apócrifos. Como o poderão ser esses que as Alfândegas, periodicamente, fazem chegar às Redacções. É que, espera-se mais, exige-se mais de uma instituição do Estado. É que, não satisfaz a ninguém dizer-se os valores, sonegados ao Estado, que foram cobrados. Resultantes da importação de mercadorias diversas por operadores públicos e privados. (Notícias, 24 do corrente). Estamos em acreditar, estamos em crer, que esses operadores públicos e privados têm nome e estão identificados. Que estão domiciliados em Moçambique. Da mesma forma que temos como verdade não ser possível combater o contrabando protegendo os contrabandistas. Sejam eles quem sejam. Não se trata, aqui, de prender primeiro para investigar depois. Trata-se, simplesmente, de divulgar os nomes dos contrabandistas. Dos seus agentes e das viaturas que utilizavam. As quantidades e os tipos das mercadorias aprendidas não passam de dados acessórios. É velha, tem barbas brancas, a táctica de tentar esconder uma mentira por detrás de meia verdade.

domingo, junho 20, 2010

O último álibi


Há notícias que nos surpreendem. Que nos causam surpresa. Que não esperávamos ouvir ou ler. A avaliar pelas informações que nos haviam sido fornecidas anteriormente. Outras, não. Outras notícias não causam surpresa. Por já havermos sido preparados para as receber. Será, é, como ficarmos a saber o que já sabíamos. E, o que já sabíamos, o que há muito tempo era público, é que as obras do Estádio Nacional e do Aeroporto Internacional de Maputo não iriam ficar concluídas antes do início do Mundial de Futebol. Um Mundial que foi o motivo alegado para justificar ambas as construções. Muito em nome do turismo. Pouco em nome do realismo. Afinal, por este ou por outros motivos, Moçambique recebeu, para estágio, selecção nenhuma. Turistas, até momento, menos ainda. Ora, se assim, se ambas as construções não foram concluías em tempo útil, deixaram de poder cumprir com os objectivos que as motivou. Comprovadamente, revelaram-se inúteis em relação a esses objectivos. Concluamos, pois, que algo terá falhado. Em termos de prazos, de objectivos. Muito por acaso, de estratégia. E, neste domínio, os erros podem ter custos muito elevados. Como, aliás, sucede no desporto, em geral. E, no futebol, em particular.


Quem será ou não será o futuro seleccionador nacional de futebol, parece ter deixado de ser notícia. Logo, aqui já não há surpresa. Notícia e surpresa mudaram-se, agora, para as bandas do hóquei em patins. Modalidade, tal como o futebol, de nível mundial. Já profissionalizada e que não admite improvisações. Muito menos erros de percurso, falta de cumprimento de metas e de prazos. Ou seja, situações que, internamente, na nossa realidade nacional, foram definidas como “deixa andar”. Pois bem, o facto que causou surpresa, a notícia que surpreendeu refere-se a ter sido retirada a Moçambique a realização do próximo Mundial de Hóquei. Trata-se de uma decisão da Federação Internacional da modalidade. Com base na falta de garantias oficiais por parte dos organizadores, com particular ênfase para a remodelação do recinto de jogos, como principal razão para tal decisão. No mesmo documento, a FIRS revela não ter tido respostas por parte da FMP às petições que lhe foram sendo feitas durante o processo de organização. (Notícias de 17 do corrente). Posição que, a nossa federação da modalidade, no imediato, contestou. Dizendo que vem cumprindo com todos os prazos, mesmo ao nível da renovação das infra-estruturas (...). Acrescentando, em sua defesa, vários outros argumentos. Que, todos nós, gostaríamos venham a ser convincentes. Para alterar a referida decisão. Caso tal não venha a acontecer, caso tal não venha a ser possível, pode ser sintoma de que algo vai mal no nosso desporto. Que o desporto nacional está doente. A menos que se tente e consiga provar que não. E que um novo profeta da verdade nos venha tentar iludir com uma actualizada e inédita teoria da conspiração. Será um último recurso. O último álibi.

domingo, junho 13, 2010

Uma questão de dignidade nacional

Andam turvas. Parece que estão cada vez mais turvas as águas em que navegam os mandantes do futebol nacional. Mais precisamente, ou talvez, as águas que procura manter-se à tona o respectivo presidente federativo. Temos de ter presente o que parece ser elementar. E, o que parece ser elementar, aqui, é que a federação não tem dono. E que não tendo dono, não tendo um único dono, não pode ser gerida nem administrada como o podem uma machamba, uma mercearia ou uma papelaria. Como tal, não pode estar à mercê de vontades individuais. Tem, isso sim, a federação, órgão dirigentes. Colegiais e colectivos. Entre os quais uma direcção. Que, ao que se sabe, é um órgão colectivo. E que, como tal, como colectivo deve funcionar. E, tomar decisões. Depois de devidamente ponderados todos os factores que as justifiquem. Que as fundamentem. Se assim, é aqui que se deve colocar a questão fundamental. A questão de saber se o dar por findo o contrato com o antigo seleccionador nacional, se a não renovação do seu contrato, cabe nas competências de uma única pessoa. E, de igual forma, se essa mesma pessoa tem poder bastante para decidir, por si, sobre a quem entregar os destinos do “onze” nacional. Cujo passado, cujo currículo, só poucos conhecem.


Pode dizer-se que não terá sido bem vista, por alguns sectores, a intervenção do ministério de tutela nesta questão. Nesta questão da contratação do novo seleccionador nacional. Bem vistas as coisas, no mínimo, foi oportuna. E teve o mérito de evitar erros futuros. Mas, muito mais, e sobretudo, de não permitir o avançar para uma aventura. Que antes de antes do mais, logo à partida, se prognosticava como desastrosa. Como um descalabro total, como um recuo dos poucos passos em frente até agora dados. Indo em frente, há que estabelecer novas metas. Há que traçar planos de trabalho. Há que definir objectivos a serem cumpridos pelo seleccionador e pelos jogadores. Como exigência nacional. Mesmo quando, ou principalmente, tal possa contrariar algumas agendas pessoais. Mesmo quando tal possa contrariar interesses pessoais. É que, o futebol nacional, como na maioria dos países, exige profissionais competentes. A todos os níveis. Por se ter transformado numa indústria e numa máquina que movimenta e que faz movimentar elevadas somas de dinheiro. Logo, não se compadece, nem podemos permitir que se compadeça, com estas guerrilhas internas. Caseiras. Trata-se, em última análise, de uma questão de prestígio. De uma questão de dignidade nacional.

domingo, junho 06, 2010

Por aqui há muito fumo

Em Moçambique verificam-se situações para as quais parece difícil encontrar explicação. Como, certamente, em muitos outros países do mundo. Mas que em nada tem a ver com a actual globalização. Neste campo, nesta área, todos percebemos um pouco. Talvez muito pouco, quase nada. Digamos, mesmo nada. A questão está em que admitir, em que aceitar, que sabemos nada é, em princípio saber. Saber que se sabe o que não se sabe. E de uma forma geral, todos sabemos muito mais e muito mais além do que julgamos saber. Ou, em outros casos, ficamos situados em campo inverso. O do não saber. O que é, em si, um saber. Talvez, mesmo, o saber absoluto. Já não o saber de quem afirma saber. Mas o saber do sage. A sageza. Recuemos, então, não muito, no tempo. Interroguemos e perguntemos sobre o desfecho final do caso desse grupo de estrangeiros que sequestrava jovens rapazes numa residência em um bairro de Maputo. A título de lhes dar educação. Interroguemos e perguntemos, também, sobre o desfecho final dos casos dessas dezenas de jovens que estavam a ser transportados do norte para o sul do país. Para estudar. Em madraças. Felizmente, nos tempos que correm, nem tudo é mau. É que, de acordo com o noticiado, o sacrifício de dois bois e de dois cabritos foi suficiente para acabar com os desmaios de alunas em uma escola de Maputo. Em tempos idos, recorde-se, a edificação de templos de certas religiões, implicava o sacrifício de seres humanos. De crianças. Depois, as crianças terão sido substituídas por animais. Mas, em última análise, não terá sido eliminado o sacrifício. O cabrito e o carneiro, em situação inversa a vaca, sustentam o mito. Fazem parte de tradições. Ancestrais. Que os povos transportam na sua memória colectivas. E que o tempo poderá nunca fazer esquecer.


Recuando para tempos mais recentes, continuamos por conhecer as causas e as circunstâncias de duas mortes, violentas. Primeiro, de um agente alfandegário. De um homem que tinha por missão combater o crime Depois, de um chamado “perigoso cadastrado”. Acresce, a quanto se disse, a divulgação, na África do Sul, da existência de campos de treino da Al-Qaeda em Moçambique. A seguir, a explosão de um estabelecimento comercial na cidade da Beira. Donde terão sido retiradas, antes, mercadorias de valor. Por fim, a notícia de que Em 1 de Junho de 2010, o Presidente dos Estados Unidos identificou o cidadão moçambicano, Mohamed Bachir Suleman (“MBS”), como traficante de narcóticos estrangeiro significativo ou “barão da droga”, de acordo com a “Lei de Designação de Barões da Droga Estrangeiros”. Sendo facto que, de imediato, tanto o Presidente da República, a partir de França, como o MBS, tenham tomada posições de distanciamento sobre o noticiado, tal não invalida a exigência de uma investigação séria, nacional, sobre o divulgado a partir do estrangeiro. E, se, por hipótese, existe alguma relação entre as mortes e os factos das notícias. Parece ser necessário ter presente que, como se diz, não há fumo sem fogo. E que, por aqui há muito fumo.