domingo, janeiro 29, 2012

Ve para crer

Há promessas, há compromissos assumidos publicamente que, depois, se revelam de difícil cumprimento. Tanto entre os homens, entre pessoas, como entre Estados. Ou por não terem sido devidamente ponderados todos os aspectos, todas as consequências, todas as implicações da promessa feita ou por qualquer outro motivo. Ou por, como diz o ditado popular, “prometer não custa”. Tanto pode ser como pode não ser o caso. Da prometida fábrica de anti-retrovirais. Pelo anterior presidente brasileiro. Aquando da sua primeira visita a Moçambique. A realidade é que a promessa do bom do homem ainda hoje não passa do que foi. Apenas uma promessa. É que, água vai e água vem, nada. Ou, como se diz em matemática, “noves fora, nada”. Os motivos de assim ser, de assim continuar a ser, nunca foram claros. Mas, pode especular-se que o problema reside no facto de os pobres não terem dinheiro para comprar medicamentos. Óbvio, e como já aqui se disse, estamos a elaborar apenas no campo da especulação. Poderá haver outros motivos, outras razões, outras condicionantes que não são do domínio público. Aqui já estamos a elaborar no campo da transparência governativa. De cá e de lá. Ou seja, pode acontecer estar-se a entrar em terrenos movediços. E se acontece a terra fugir-nos debaixo dos pés, lá se vai tudo. Incluindo promessas, compromissos e desejos. Vontades já outra coisa e bem diferente. De tempos a tempos, o tema da prometida fábrica feita pelo compatriota do “Tira Dentes” constitui matéria noticiosa. Por cá. É assim que o “Notícias”, na sua edição do passado dia 24 (página 8), titula: “Fábrica de anti-retrovirais o mais tardar em Agosto”. Isto, depois de nos dar a conhecer que a mesma é “avaliada em 23 milhões de dólares”. Convenhamos que se trata de muitos milhões de dólares para instalar umas tantas maquinetas. Em instalações que já existem e apenas para embalar certas variedades de comprimidos. Que virão do Brasil por não nos terem sido dados os conhecimentos, as fórmulas, para os fabricar localmente. Aparentemente, trata-se de um montante altamente inflacionado. Oxalá não. Mas, voltemos à local. Que esclarece: “O embaixador cessante do Brasil, António de Sousa e Silva, garantiu ontem à Imprensa moçambicana que a fábrica de anti-retrovirais que está sendo instalada na província do Maputo, com o apoio do seu país, deverá entrar em funcionamento ainda este ano”. É caso para comentar, finalmente! E desejar que a promessa se cumpra e não seja mais uma vez adiada. Nesta questão de números, não há melhor que transcrever. Para evitar erros de interpretação. Pois bem. Então é assim: “A primeira fase do projecto é avaliada em oito milhões de dólares e no global custará 23 milhões”. Mas, tem mais. “ (...) o diplomata brasileiro disse que o cronograma de actividades está a sendo devidamente cumprido e a fábrica deverá começar a funcionar entre Julho e Agosto próximo”. Façamos votos para que assim aconteça. Esperemos, pacientemente, para ver. Ou, como terá dito São Tomé, ver para crer.

domingo, janeiro 22, 2012

Conflitos de interesses

Mortes, milhares de famílias desalojadas, bens privados ou públicos danificados ou destruídos. Este um balanço resumido e preliminar dos estragos causados pela tempestade tropical “Dando”. À sua passagem por várias províncias do sul do país. Sendo que a “mais afectada foi Gaza”, onde “se registaram quatro mortes” (“Notícias” de 19 do corrente, página 1). Segundo o matutino, “Pelo menos três mil crianças deverão estudar nos próximos dias debaixo de árvores devido ao facto de 169 salas de aulas terem ficado sem tecto.”. Enquanto isto, “Em Inhambane 18 escolas foram atingidas totalizando 72 salas de aulas, o lar feminino com 200 alunos, sete casas de professores, dois blocos administrativos ficaram igualmente sem tecto.”. “Aqui – segundo o jornal – decorre o arrolamento visto quer o “Dando” afectou igualmente distritos como Inharrime, Homoíne e Panda.”. Repita-se que os referidos dados são preliminares. Provisórios. Pois, para além de outros estragos, sabe-se que instalações onde operam serviços de Saúde também foram atingidas pela “Dando”. Tenhamos consciência de que versão final dos prejuízos e danos pode demorar semanas a ser conhecida. Ou mesmo meses. Como pode acontecer que nunca venha a ser conhecida na sua totalidade. Na sua globalidade. Pela simples razão de que os interesses em jogo são muitos. Mas do que muitos. Ou seja, pode haver por aí muitos conflitos de interesses.



Perante a realidade parcial que nos é dada a observar, parece pertinente colocar uma questão. De entre várias outras possíveis de apresentar. Comecemos, então, por questionar sobre o que aconteceu para que a “Dando” tenha seleccionado tantas construções de utilidade pública na sua trajectória devastadora. Ou se, pelo contrário, não seleccionou, não escolheu nada. Nem coisa nenhuma. E que o que aconteceu foi aquilo que acontece repetidamente. Que as referidas construções não tinham um mínimo de qualidade para servirem o seu objectivo. O fim para que foram construídas. Sem observarem a realidade climática local. Logo, bastou um vento ligeiramente mais forte, alguns milímetros de chuva acima da média para deixarem de ser aquilo que deveriam ser. Sobre a qualidade ou a má qualidade deste tipo de obras, façamos coro ou façamos eco das preocupações de vários governadores provinciais. E de vários ministros. Que se terão oposto e recusado receber edifícios construídos sem um mínimo de qualidade. Sem uma qualidade mínima para acolher seres humanos. Para servir aquilo a que se convencionou chamar a comunidade local. Que em linguagem dos doadores, que no pensar e no agir de muitos dos doadores, são os pobres. Cá da terra. Neste confronto de ideias, de interesses e de vontades políticas, sobra outra questão. Que é a de saber a que nível existe competência técnica e suficiente honestidade para garantir que este género de construções não irá ruir com um “ventinho” mais forte ou com meia de “pingos” de chuva acima do normal. A nível do distrito não o é. Claramente. A nível da província, a realidade não será uniforme. No concreto, é preciso pensar no que deve passar a ser fiscalizado a nível central. Sem excesso de centralismo. Mas tendo presente que há muitos dinheiros em jogo. E, também, muitos conflitos de interesses.

domingo, janeiro 15, 2012

Dizer não ao despesismo

Em boa hora decidiu o jornal “Notícias” criar um espaço semanal de crítica. De crítica leve e brejeira. Se assim se pode chamar. Ou de chamada de atenção, de alerta para situações que se lhe afiguram anómalas. Anormais. Mas que, com o rodar do tempo, com o passar do tempo, tendem a transformar-se em normais. A ser aceites como normais. Digamos que se trata de um trabalho, de texto jornalístico útil. À sociedade, à cidade, ao cidadão, a governados e a governantes. Assim o possa ser entendido e compreendido. Por quem pode e deve corrigir situações e comportamentos errados. Abusivos e atentatórios aos interesses individuais e colectivos. Como parece ser o mau hábito, o abusivo hábito, que tende a transformar-se em direito, de cortar árvores. De abater árvore. Algumas plantadas há muitas décadas nas mais diversas artérias da capital do país. Cidadão comum, empresa privada, igreja, serviço público, quando assim o entende, corta árvore. Quando entende que a árvore não é compatível com os seus interesses, com a sua actividade, corta o mal pela raiz. Que o mesmo é dizer, corta a árvore. Abate a árvore. Aliás, este é um campo, é uma área em que o Conselho Municipal tem sido exemplar. Pela negativa. Por qualquer motivo que escapa à compreensão do citadino, começou por aí a abater árvores. Muitas delas com décadas de existência. De vida. E, certamente, com muitos e bons serviços prestados à cidade que as viu plantar e crescer. Quanto aos seus troncos, permanecem no local do abate. Do massacre. Há meses. Teimosos como o são, esses troncos já nos começaram a oferecer nova ramagem verdejante. Como quem procura afirmar que não abate uma árvore quem quer. Isso sim, quem pode e quem sabe. E se ninguém os removeu, também ninguém se deu ao trabalho de plantar novas árvores no espaço das abatidas. Das árvores massacradas para satisfação de interesses pessoais e mesquinhos. É caso para perguntar, para questionar, a quem incomodam as árvores. No geral. Ou se as árvores também têm inimigos. Em Maputo, com toda a certeza que os têm. E não custa descobrir quem são.



Também parece estar a tornar-se hábito que deputados e dirigentes governamentais façam publicar os seus discursos na íntegra. Nos mais diversos jornais. Discursos, esses, proferidos nas mais diversas circunstâncias e locais. Naturalmente, como publicidade e como tal pagos. Ou seja, pagos, como costuma dizer-se, a preço de ouro. O que pode ser um bom negócio para as empresas jornalísticas. Como pode não o ser em termos de prestígio e de qualidade da informação. Dado que a publicação desses discursos está a ser feita com significativa redução do espaço informativo. Para se ser claro, em vez de se comprar um jornal para ler notícias, comentários e críticas recebemos um jornal com longas e enfadonhas páginas de discursos. Que, muito provavelmente, poucos irão ler. Por abordarem questões que não são do seu interesse. Uma questão parece pacífica. Os jornais podem estar a ganhar muito dinheiro mas, quase de certeza, estão a perder muitos leitores. Logo, os tais discursos não estarão a ser lidos. Não atingem objectivo nenhum. Se fossem publicados no formato de destacável, ainda poderiam ter um mínimo de sucesso. Assim, como está a acontecer, será o mesmo que “dar pérolas a porcos”. A vaidade humana é, de facto, questão muito complicada. Não olha a gastos para se afirmar. Para vir ao de cima. Mesmo em tempo de austeridade. Em tempo que deveria ser de contenção de despesas. E em que se deveria dizer não ao despesismo.

domingo, janeiro 08, 2012

Não dá para acreditar

Tornou-se voz corrente afirmar que a última quadra festiva foi calma. E ordeira. Em certos aspectos e em certas zonas do território, parece que sim. Noutros e em outras, nem tanto. Caso concreto no que respeita a acidentes rodoviários. Segundo o jornal “Notícias” (edição de 5 do corrente mês, página 5), “Acidentes ceifaram 45 vidas”. A informação foi divulgada pelo porta-voz do Comando-Geral da PRM. Que disse, também, que (...) “no global os acidentes resultaram em 59 feridos graves e 90 ligeiros, mas comparativamente ao ano anterior os números representam uma redução de 10 casos.”. Digamos que ainda bem. Que ainda bem que houve uma redução. O que invalida acrescentar que as mortes na estrada continuam a ser em número demasiado elevado. Com os correspondes custos materiais para o Estado, a sociedade e a economia. Custos directos e indirectos. Para não falar nos danos morais que essas tantas mortes provocam nas famílias. Como novidade, como mudança positiva a saudar, a mudança de comportamento e de atitude dos componentes das brigadas de trânsito. Colocadas ao longo da EN 1. Esperamos que não sejam mudanças ocasionais ou oportunísticas. Que sejam mudanças que vieram para ficar. Ao que vimos no terreno, essas brigadas deixaram de estar escondidas. “Emboscadas” e “camufladas” com a vegetação nas bermas da estrada. Passaram a ser e a estar visíveis. Como deveria a deve ser sempre. Tendo abandonado esse terrível e tenebroso comportamento de mandar parar todo e qualquer condutor. Sem qualquer outro motivo que não seja para estabelecer uma conversa “mole”. A acabar com o conhecido pedido de “refresco”. Ou por estar muito calor ou para evitar o pagamento de multa. Por hipotética, inventada e falsa violação da Lei. O que, até ao momento, em nada mudou nem melhorou na EN 1 foi a sinalização vertical. A que existe e teimosamente teima em não ser mudada, não passa de um insulto aos condutores. E tanto pode ser o resultado de incompetência para efectuar as necessárias correcções como uma atitude consciente e premeditada. Uma armadilha para favorecer os agentes de fiscalização desonestos. A manobra é tão clara e evidente que nem merece mais comentários.



Continuando a escrever sobre acidentes de viação e comportamentos durante a quadra festiva. Fabricantes e vendedores de bebidas alcoólicas parece não ter deixado os seus créditos por, como costuma dizer-se, “mãos alheias”.Para manterem as suas vendas em alta. Ou as aumentarem. Se possível. Para tanto, valeram-se da imaginação dos publicitários. Vai daí, recorreram ao método de publicidade encoberta. Ou enganosa. Ou camuflada. Quer dizer, publicitam os seus produtos e as suas marcas com textos e imagens apelativas ao consumo. Depois aconselham o inverso. Aconselham o não consumo. Ou a que “Beba com responsabilidade”. Ou, ainda que “Seja responsável. Beba com moderação”. Em nenhum caso ou em nenhum momento se diz, simplesmente, “Não beba”. É que tal poderia parecer uma atitude fundamentalista O curioso em todo este processo, é que o INAV aparece associado a todas estas mensagens. A todas estas falsas campanhas que pretendem ser destinadas a reduzir o consumo de bebidas alcoólicas. Mas que, claramente, têm como objectivo o contrário. É caso para dizer “Ao que chegámos”. Ou, se assim, Não dá para acreditar.

domingo, janeiro 01, 2012

Mesmo em férias é possível continuar a pensar

Foi o presente texto escrito em 2011. Mas para ser lido já em 2012. Se é que alguém se der ao trabalho de o ler. E, por motivo ou necessidade editorial, feito chegar à Redacção com a antecipação de 24 em relação ao habitual. Perguntar-se-á o leitor, com toda a justeza, em que aspecto é que isso lhe interessa. Ou poderá interessar. Provavelmente em nenhum, respondo eu. De resto, só há 2012, por ter havido, antes, 2011. Aquilo a que nos ensinaram a chamar passagem do ano resulta de acordos. De convenções estabelecidas entre homens. De mitos perpetuados através de ritos. Ao longo do tempo e desde tempos imemoriais. Servindo cada um e de diversas formas diferentes interesses. Pessoais ou de grupo. Sem nada de científico. Nada que possa ser provado ou comprovado. Parece ser por assim ser que o mês de Fevereiro não tem todos os anos o mesmo número de dias. De quatro em quatro, passou a ter 29 em vez de 28. Pura convenção. Muito provavelmente para corrigir erros anteriores de medição. Talvez por ter aumentado o conhecimento humano. Em diferentes áreas e em diferentes campos. Aqui, cuidado, não ensinem coisas erradas às crianças. Elas merecem mais e melhor. Sobretudo, merecem que lhes seja dada a oportunidade de poderem questionar. Duvidar. Sempre. Como forma de fugirem ao estereótipo e ao dogma. Trata-se, afinal, de uma forma de liberdade.




Dizer mais o quê? Pouco. Este tempo não é, tradicionalmente, um tempo para dizer muita coisa. Sobretudo em voz alta. Ou em voz escrita. É um tempo de calma, de relaxe, de descanso, de férias. Mas é também um tempo em que não é proibido pensar. E agir. Tenhamos por perto e por bom que esta questão de férias e de férias colectivas resulta de mais uma convenção. E bem recente. Imagine o leitor, que também os animais selvagens, as plantas, os pássaros e os peixes decidem reunir em assembleia. E que, para o evento, como agora pomposamente se diz, convidam os rios e os mares, a Lua e o Sol. E que, democraticamente, seja por consenso, decidem convencionar, para si e em simultâneo, o direito a umas merecidas férias. Melhor, férias colectivas. Muito provavelmente, nesse preciso momento da decisão seria o fim das férias. E das férias colectivas dos humanos. Que não se imaginam poder ser privados de tantas benesses, de tantas ofertas, de tanta generosidade da Natureza. Em troca de nada nem de coisa nenhuma. Ou não mais do que chorudo pagamento a ocasional hospedeiro. Acompanhado de meia dúzia de frases de estilo, de frases feitas, retiradas de manual de ecologia. Escrito em várias línguas e destinado a turistas. Na maioria dos casos fundamentalistas. Que esqueceram ou que tentam fazer por esquecer que só a destruição que praticaram nos seus países é que lhes permitiu ser ricos. O suficiente para fazerem longas viagens. E tentar travar o progresso e o desenvolvimento de muitos outros que pretendem e anseiam deixar de ser pobres. Tentando impor-lhes regras, normas e convenções que nunca respeitaram. Por não existirem nos seus tempos. Por isso, a sua prosperidade, o seu bem-estar, a sua riqueza. À custa da destruição da natureza. Do natural. Nos seus países. Para todos, um bom ano de 2012. E não esqueçam que mesmo em férias é possível continuar a pensar.