domingo, janeiro 27, 2013

Querer aprender com quem sabe mais é um acto de humildade

Moçambique continua a ser fustigado por chuvas intensas. Um pouco por todo o país. Em diferentes locais das diversas províncias. Os prejuízos causados pelas águas são elevados. Em bens pessoais perdidos, incluindo culturas e habitações, e em infra-estruturas sociais. Também em vidas humanas. Em mortes. Até à passada quarta-feira, haviam sido registados 44 óbitos, em todo o país. Diga-se, em abono da verdade, que a situação no campo não é igual à registada nas cidades. Principalmente Maputo e Matola. Lá no campo, quando o caudal dos rios engrossa e o leito deixa de respeitar as margens, a solução, ao que parece única, é retirar as pessoas em risco de vida. Para locais onde fiquem em segurança. Nas cidades, principalmente na capital do país e na cidade da Matola, a origem do problema parece residir e resultar de erros humanos. Ou na falta de poder por parte de quem o devia exercer. De falta de vontade para exercer o poder. Sobre o assunto, na sua edição da passada quarta-feira (página 7), o jornal “Notícias” titulava que “Teodato Hunguana critica falta de exercício do poder”. E, escrevia que A ocupação desordenada de espaços em zonas urbanas, um problema que conta com a conivência de titulares de órgãos de governação, está na origem do agravamento das inundações que ciclicamente afecta algumas cidades moçambicanas. Logo a seguir, pode ler-se na local que Segundo o membro do Comité Central da Frelimo, Todato Hunguana, nos últimos anos nota-se que há parcelamentos e atribuição de terrenos pelas autoridades municipais em zonas de grande risco. Logo a seguir, a notícia esclarece que Hunguana deu o exemplo do município da Matola, onde se assiste à ocupação de zonas destinadas à evacuação das águas das chuvas, como é o caso da zona localizada entre o terminal de carga (FRIGO) e a empresa CMC, actualmente ocupada por uma série de armazéns, impedindo o escoamento rápido das águas. Agora, acrescentemos, por nossa conta e risco, que quem fala com tanta clareza e tanta objectividade não é gago. Nem tem, como alguém disse, “rabos-de-palha”. Ou seja, compromissos. O bom do cidadão, que falava segunda-feira durante a entrega formal de um donativo para as vítimas das enxurradas na Matola, as águas das chuvas acumulam-se em zonas residenciais, inundando casas e outras propriedades. E, para não deixar dúvidas sobre a sua posição e o seu pensamento, terá dito que Algumas destas zonas nunca antes sofreram os efeitos das enxurradas, porque as águas fluíam facilmente para o mar. Ora, se tal já não acontece hoje, é por ter havido por ali mão humana. Talvez erro humano. Por hipótese ganância humana. Na melhor das hipóteses, municipal. Mas, passemos ao ponto que parece ser a questão principal. Vejamos. Na Matola estamos a criar condições para o agravamento da situação das calamidades. Temos de chamar a responsabilidade de quem autoriza a construção em zonas impróprias. Isto é uma urbanização selvagem. E, para não deixar dúvidas sobre o seu pensamento e o seu posicionamento, o orador, que é residente na cidade da Matola, disse em alguns casos nota-se falta de exercício da autoridade, porque a governação não está sendo efectiva ao ponto de as pessoas desafiarem as ordens, construindo ou permanecendo em zonas impróprias. E, ao que parece, concluindo o seu pensamento terá dito que Temos de educar as populações para saírem das zonas de risco. Mas, sobretudo, deve-se fazer o uso do poder instituído para manter a disciplina e evitar que as pessoas estejam numa situação de risco. Ao que se pode constatar, estamos perante uma questão de poder. Ou de ausência de poder. Ou de vontade e de coragem para exercer o poder. Espero e só desejo que a mensagem e os recados, bens claros e em sinal aberto, tenham sido bem entendidos. Bem interpretados. Lá na capital da província de Maputo, como aqui na capital do país. Afinal, aprender, querer aprender com quem sabe mais é um acto de humildade.

domingo, janeiro 20, 2013

As eleições estão à porta.

Durante a passada semana, o Ministro do Interior efectuou uma visita de vários dias à cidade de Maputo. A diferentes bairros da capital do país. Onde e no decorrer da qual elementos da população colocaram vários e deferentes problemas. Que em muitos casos podem ser considerados como problemas gerais de toda a capital do país. Por exemplo, reportando sobre a visita ao bairro de George Dimitrov, o “Notícias” da passada quinta-feira (página 3), titulava que PRM e comunidade cercam crime. E, logo em seguida, escrevia que A Polícia da República de Moçambique (PRM) assumiu ontem o seu maior engajamento e partilha de acções com a comunidade de forma a deter e a responsabilizar todos os malfeitores que assaltam e protagonizam vários crimes da cidade de Maputo. Acrescenta a local, que o Ministro do Interior, falando no referido bairro garantiu que a sua corporação não descansará enquanto não prender todos os indivíduos que se apoderam de bens dos cidadãos ou que protagonizam outros tipos de crimes. Mais adiante, o matutino escreve que Na ocasião o governante foi confrontado com várias denúncias feitas pelos moradores (...) dentre as quais alguns “excessos” da Polícia no processo de manutenção da ordem, tranquilidade e segurança públicas. Acrescenta que uma moradora terá pedido ao Ministro do Interior para dialogar com os seus elementos para que sejam mais ponderados na repressão de cidadãos que no exercício do seu negócio violam a lei. Mais adiante, pode ler-se que A questão de cobranças ilícitas e certa “arrogância” protagonizada por alguns elementos da corporação foram apontados pelos moradores como outros problemas da actualidade. O que, acrescento eu, pode ser entendido como problema geral. Problema de toda a cidade. Posição que eu assino por baixo. Pode ler-se, também, que para o governante, para quem os seus efectivos estão de parabéns O crime não vai crescer mais no país pois a Polícia está melhor organizada agora. Pensamos que faz bem o Ministro do Interior em efectuar estas visitas. Para ouvir, de viva voz os problemas que afectam os cidadãos residentes nos diferentes bairros e ficar mais sensibilizado para a procura de soluções. Por isso, saudamos a sua iniciativa e o seu método de trabalho. Transparente e frontal. Assim possa ensinar colegas, transmitir a sua experiência e o seu saber fazer a colegas. E, pelo que estamos a assistir, há vários que precisam de aprender com sigo. Por exemplo, aquele que andou por aí a comprar barcos com dinheiro público. E que acabaram por ficar parados por a população não ter dinheiro suficiente para pagar o valor exigido pelos bilhetes. Ou a comprar autocarros que ninguém sabe para que servem ou onde circulam. Há quem diga e escreva que circulam lá pelas bandas do Zambeze. Lá por Tete. Será? Um outro, um outro seu colega, afadigou-se em conseguir favores de jornais, rádios e televisões para tentar mostrar que estava a trabalhar muito. E lá foi fazendo umas tantas aparatosas reuniões. Para nos tentar tranquilizar, para nos dizer que durante a quadra festiva não iria faltar nem de comer nem de beber. E mais, que não iria haver especulação nos preços. Não terá havido nesse então. Só que não sei nem percebo como é que um ministro, mesmo sendo formado em economia, pode controlar as leis do mercado. A questão primária é que não pode. E, como não pode, o resultado aí está. Agora. Aumentou o preço da batata, da cebola, dos ovos, do tomate. E por aí em diante. Tudo está mais caro. E em valores exponenciais. Ë caso para dizer, bem dita Pátria Amada que produzes e reproduzes tanta incompetência. Tanta sanidade mental. Alertar que as eleições estão a chegar. Que as eleições estão à porta.

domingo, janeiro 13, 2013

Evitar que as crises se repitam

Depois de cerca de uma semana de greve, os médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) já retomaram as suas actividades. Em todo o país. Acrescentemos que ainda bem. E façamos votos no sentido de que no balanço final não figurem mortes. Nem prejuízos graves para as populações eventualmente afectadas. Vejamos, em resumo, como foi possível atingir o desejado açodo. Na sua edição do passado dia 16 (Primeira página), o jornal “Notícias” informa que Os médicos moçambicanos, em greve desde o passado 7 de Janeiro, voltaram ontem aos seus postos de trabalho na sequência dos consensos alcançados entre a classe desavinda e o Governo sobre os pontos de discórdia. Esclarece o matutino que Três pontos constituíam o caderno reivindicativo dos profissionais filiados na Associação Médica de Moçambique (AMM), concretamente a questão das casas, estatuto médico e a necessidades de ajustamento dos salários. Os primeiros dois pontos, terão sido satisfeitos aquando da primeira ameaça de greve, em Dezembro passado. A questão dos salários transitou para a fase seguinte das negociações, cujo fracasso ditou o início da greve. Agora, uma vez atingido um acordo, o ajustamento salarial deverá entrar em vigor a partir de Abril próximo. Ainda segundo a local, as partes garantiram, em conferência de Imprensa, que as preocupações apresentadas pelos médicos foram cabalmente resolvidas nos encontros conjuntos que se vêm realizando desde a paralisação, pelo que aqueles profissionais voltaram ao trabalho. O “Notícias” cita também o presidente da Direcção da AMM a garantir que a questão do ajuste salarial era o último ponto que continuava pendente e foi resolvido nas conversações, que suspensas na madrugada de ontem foram retomadas de manhã, terminando com um acordo entre as duas partes. Comentemos que ainda bem que tudo já terminou e em bem. No rescaldo do conflito laboral, que opôs médicos e entidade patronal, e já com a “cabeça fria”, parece importante que o MISAU faça uma reflexão sobre o acontecido. Séria e honesta. Em primeiro lugar, para explicar, publicamente, o motivo a, ao que parece, não ter levado muito a sério as reivindicações dos médicos. Digamos, em resumo, que esta greve poderia, perfeitamente, ter sido evitada. Se, acaso, no momento de contar as armas o MISAU não tivesse feito um cálculo errado. Uma contagem errada. Agora, que a crise e o conflito já são passado, importa saber olhar em frente. Tendo presente que, independentemente do acordo alcançado entre as partes, de quem fez mais ou menos cedências, parece haver um aspecto que é líquido e indesmentível. O MISAU saiu desgastado na sua imagem e os médicos terão saído prestigiados. No mínimo de forma airosa no desafio e no repto que lançaram à sua entidade patronal. Deixemos, agora, que o tempo corra e que seja o melhor conselheiro. Para já, fica a lição ou a ilação de que esta equipa da MISAU não é capaz nem tem capacidade para lidar e resolver situações de crise. De crises laborais. Sobretudo, que apresenta um elevado défice de respeito para com a classe médica. Que deveria ser o primeiro a respeitar e a acarinhar. Infelizmente, não é isso que está a acontecer. Não foi isso que aconteceu. Quem manda, quem tem o poder do mando, sabe perfeitamente como proceder em casos como este. Tendo em vista evitar que as crises se repitam.

domingo, janeiro 06, 2013

Quando mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão

A polémica parece estar instalada. Parece ter vindo para continuar. Isto no que se refere à greve dos médicos. Ao que se sabe, ao que tem vindo a público, a questão é por demais controversa. O que se pode concluir, em primeiro lugar, é que estão perante ideias e concepções completamente diferentes de remunerar o trabalho. E, tenhamos sempre presente que trabalho é sempre trabalho. Que pode haver trabalho sem haver emprego. Que emprego é coisa bem diferente de trabalho. Para além das questões de ética, de deontologia ou de moral que a greve, em si própria, possam suscitar, há outras que não podem ser perdidas de vista. Diz o provérbio popular que “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Pode não ser exactamente o caso. O que acontece, o que pode estar a acontecer, para quem lê jornais e recebe mensagens por correio electrónico, é que existe pão. Pode ser pouco mas há pão. Só que não estará a ser distribuído com justiça. Com justiça social. O que pode ser visto à luz do verso do cantor quando canta que “Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada”. De resto, neste ano de 2013 vir falar e pedir sacrifícios a uns tantos, não ocorreria nem a Belzebu. Porque não passa de argumento falacioso. Demagógico. De recordar que o tempo do trabalho voluntário e dos sacrifícios individuais e colectivos terminou há muitos anos. Terminou quando acabou a I República. Terminou com a morte de Samora Machel. E nada adianta, hoje, tentar transformar uma questão laboral em questão ideológica. Seguir por estes caminhos não passa de tentativa para atirar poeira para os olhos do cidadão. Sem perceberem, certamente, que os olhos do cidadão começam a ficar imunes à poeira. Que conseguem ver o que se passa para além dela. Para além da poeira. O que é bom para todos, para a sociedade. Resumir que o conflito entre os médicos e o Estado não é um problema conjuntural e nem temporal. É um problema estrutural. Que deve merecer a devida atenção e análise do governo, do Conselho de Ministros. A questão é demasiado grave, demasiado profunda, demasiado complexa para que possa continuar a ser tratada com a ligeireza, a leviandade e a infantilidade com que tem vindo a ser tratada. Isto, em nome e em defesa dos direitos constitucionais dos cidadãos e dos doentes que recorrem aos hospitais públicos. Na sua edição da passada quinta-feira (página 1), o “Notícias” titulava que “Numa medida mais abrangente”, “Estuda-se ajuste salarial na Saúde”. E, logo a seguir escreveu que O Governo está a equacionar um aumento salarial para o pessoal da Saúde, incluindo os médicos, em greve geral desde segunda-feira convocada pela respectiva associação, não se sabendo em que moldes será, nem quando vai se materializar. O matutino cita, a seguir, um porta-voz do Ministério da Saúde a dizer a jornalistas que mais dados serão revelados oportunamente, sendo que aquela instituição com outras entidades do Executivo está a discutir um incremento de honorários daqueles profissionais. Ainda segundo o “Notícias”, o referido porta-voz Ressalvou, porém, que esta análise já estava em curso antes da eclosão da greve. O que sendo, sendo, sem dúvida, uma boa notícia, uma boa informação, não chega, não é suficiente para acalmar os espíritos. Muito pelo contrário. Revela incompetência e burrice. Quer dizer, os burróides a quem foi entregue a gestão da Saúde no nosso país conheciam e estavam a par dos problemas que existem na sua área. Mas preferiram esperar para ver. O resultado desse vosso “deixa andar” foi a greve. Muito provavelmente e pelo que se está a ver, o Ministério da Saúde está infiltrado por agentes de serviços secretos estrangeiros. Será, nesta eventualidade, um pólo de conflito. Entre secretas. E como acontece nestes casos, quando mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão.