domingo, dezembro 26, 2010

Façam o favor de ler

Em boa hora, decidiu o IESE (Instituto de Estudos Sociais e Económicos) editar os trabalhos apresentados, por diferentes autores, na sua II Conferência Científica. Realizada a 22 e 23 de Abril de 2009. E, subordinada à temática genérica “Padrões de Acumulação Económica e Dinâmica da Pobreza em Moçambique”. Os textos, agrupados por temas, estão reunidos em três volumes com um total de mais de 600 páginas. Um dos livros tem como título “Economia Extractiva e Desafios de Industrialização em Moçambique”. Contem sete artigos e analisa os padrões de industrialização como proxy para a compreensão mais geral dos padrões de acumulação económica em Moçambique e discute como é que estes padrões são estruturados pela natureza extractiva da economia. Um outro dos três livros, contem oito artigos e tem como título “Protecção Social: Abordagens e Experiências para Moçambique”. (...) equaciona diferentes abordagens e debates sobre protecção social no contexto dos padrões de acumulação em Moçambique. O terceiro livro, que contém sete artigos, tem como título “Pobreza, Desigualdade e Vulnerabilidade em Moçambique”. Na contra capa da publicação, pode ler-se que Em dois destes artigos, discute-se o discurso político oficial sobre pobreza com base na análise de discursos do Chefe do Estado moçambicano. Acrescenta o mesmo texto que, Desta análise ressaltam dois aspectos fundamentais, a saber: que o discurso político não define bem problematiza “pobreza” (...) e que o discurso político enfatiza a mentalidade miserabilista (cultura ou mentalidade dos pobres) como causa central da pobreza, ao mesmo tempo em que promove a ideia do enriquecimento pessoal.



Seria completamente impossível, em tão reduzido espaço, tentar fazer qualquer tipo de crítica. Se é que, em si mesmo, não seria ousadia. Contudo, não resisto à transcrição de umas tantas linhas, do livro sobre “Protecção Social”. Muito concretamente, do texto assinado por Alberto Farré sobre “Formas de investimento das poupanças no local de origem dos emigrantes do Sul de Moçambique. O caso do distrito de Massinga (Inhambane)”. Na conclusão na sua investigação, o autor escreve que o discurso de desenvolvimento, promovido de cima para baixo, sobrepõe-se às realidades locais simplificando a sua pluralidade e inviabilizando as suas escolhas, as suas preocupações e os seus conflitos. (...) Portanto há coisas que, para o bem de todos, devem mudar. E, por fim, mesmo a concluir, pode ler-se que O desafio não é fácil mas uma primeira fase é aceitar que não é com discursos e projectos que inviabilizam os projectos dos próprios cidadãos que se vai conseguir um desenvolvimento enraizado e sustentável. As pessoas são a razão de ser dos Estados e do desenvolvimento e é preciso que os dois trabalhem para elas, e não o contrário. Aqui chegados, resta dizer que vale a pena ler. Vale a pena ler mais. Então, façam o favor de ler.

domingo, dezembro 19, 2010

Para que jamais venha a ser assim

Casos de desvio de fundos do Estado, estão a dar trabalho aos tribunais. Mais do que muito. Para só referir os mais recentes. Talvez os mais mediatizados pelos órgãos de Informação. Estamos a falar dos chamados “caso” Aeroportos e CPD. Também do desvio de fundos na província de Maputo. Através de complexa engrenagem dirigida por funcionário do Ministério das Finanças. Em todos os referidos casos, os acusados foram condenados a pesadas penas de prisão. Por haver sido provado terem-se beneficiado de dinheiro do Estado. Ou de empresas do Estado. Em tribunal, está a decorrer, agora, o chamado “caso MINT”. Já em fase final. E com a leitura da sentença marcada para 22 de Março do próximo ano. Ao que parece, todos estes processos têm um denominador comum. A apropriação de dinheiros alheios em proveito próprio. Ou de familiares. Ou de próximos. O último caso referido, no chamado “caso MINT, parece apresentar contornos novos. Diferentes. Inovadores. Em relação aos quais parece oportuno tecer algumas considerações. No mínimo, fazer uma breve reflexão. Uma breve análise. A partir do que tem sido público. Por publicado.


Na sua edição do passado dia 15 do corrente, o semanário “Magazine Independente” titula à largura de duas páginas (2 e 3), que “Em nome da defesa de interesses nacionais”, Manhenje esquiva-se a dizer as verdades. Na longa introdução ao longo texto, pode ler-se que “Manhenje afirmou que há determinadas verdades que não podem ser reveladas em nome do interesse nacional”. “A paz e a reconciliação nacional têm o seu preço”. Acrescenta o semanário que vincou Manhenje perante o espanto e a incredulidade dos presentes. Não tendo, eu, estado presente, logo, não me espantei. Fiquei, isso sim, incrédulo, com o relato do dito em sala de tribunal. Em que abundam frases como “interesse do Estado e da segurança nacional”, “a paz e a segurança que hoje os moçambicanos vivem tem o seu preço” e por aí em diante. E, repito, fiquei incrédulo, por questões muito simples. A primeira, é por não saber quem define o quê. Ou seja, quem define o que são interesses nacionais. Outra, é que a paz e reconciliação nacional dependem, ou dependeram da vontade de um ministro. Da sua boa ou má vontade. Do seu critério na atribuição de fundos do Estado. Em termos de lógica, amanhã, um outro dia qualquer, um outro ministro, que venha a decidir aplicação diferente dos dinheiros do Estado, estará a atentar contra a paz e a reconciliação. Seria bom que as coisas fossem tão simples. E que cada ministro pudesse gerir à sua maneira e segundo as suas convicções e os seus interesses, pessoais, os dinheiros do Estado. Ainda não é assim. Façamos todos votos para que nunca venha a ser assim. Estamos em tempo de recuar. Para que jamais venha a ser assim.

domingo, dezembro 12, 2010

A culpa não será exclusiva dos estudantes

O governo tem vindo e fazer elevados investimentos em diferentes áreas. Com destaque para as da Educação e da Saúde. Áreas que não proporcionam qualquer retorno. Melhor, em que o retorno deve ser avaliado em termos não materiais, não monetários ou financeiros. Se assim, o que se espera, o que se exige do sector da Saúde é que, progressivamente, possa abranger um cada vez maior número de cidadãos. E que, em paralelo, possa melhorar a qualidade dos serviços já prestados. O mesmo, ou quase igual, se pode esperar da Educação. Digamos, a Educação deve, cada ano, conseguir que um maior número de crianças e de jovens tenham acesso à escola. E que a qualidade do Ensino seja melhorada. Só assim conseguiremos organizar um exército de jovens, homens e mulheres, capacitados para retirar o país da pobreza. China e Índia podem ser apontados como países de sucesso neste campo. Como resultado da definição de estratégias claras e de políticas de médio e de longo prazo. Hoje, apresentam resultados visíveis. Talvez, mesmo, assustadores e ameaçadores para alguns.


Já, neste espaço, em algumas ocasiões, defendemos que as estatísticas valem o que valem. Quanto a números, a leitura, a apreciação, parece ser diferente. Como pode ser o caso do alarmante número de alunos reprovados nos exames do Ensino Secundário Geral. Na sua última edição, este semanário titulava (página 11) que “Reprovações em massa marcam a primeira época”. E, logo a abrir a notícia, escrevia: “Os exames da primeira época que decorrerem em todo o país foram marcados por reprovações nas disciplinas de História, Matemática, Química e Física. A título de exemplo, na cidade de Maputo, na décima classe, foram a exame cerca de 23 mil alunos e destes somente 385 passaram de classe. Acrescenta a local que Dos 13 mil alunos submetidos ao exame final da décima segunda classe na cidade de Maputo apenas pouco mais de dois mil conseguiram transitar de classe, o que corresponde a cerca de 20 por cento de aprovações. Sobre o assunto, director de Educação da Cidade de Maputo, contactado pelo “Domingo”, disse que É difícil dizer o que está a acontecer. Primeiro temos que descobrir o que está a correr mal, embora se saiba que muitas vezes o que acontece é que os alunos em situação negativa não se mostram preocupados. Em nosso modesto entender, este descalabro, este caos, deve merecer, de facto, uma investigação séria. Para poderem ser tomadas urgentes medidas correctivas. Para ser aplicada uma terapia adequada. A culpa, se é que existe, também pode ser dos alunos. Mas pode, muito bem, não ser só dos alunos. Ou ir para além dos alunos. O Estado, e o Estado, neste contexto, somo todos nós, não podem, em definitivo, investir num Ensino que não apresente resultados. Positivos. O mesmo é dizer na formação de jovens estudantes que se diz que não estudam. Ou que não querem estudar. Em definitivo, a culpa não será exclusiva dos estudantes.

domingo, dezembro 05, 2010

Os pobres agradecem

Entrámos já no chamado mês das festas. Festas do Dia da Família para uns, do Natal, para outros. Também da entrada no Novo Ano. Festas ou festejar, tem aqui o significado de comer e beber. Diferente. Mais e melhor do que o habitual. Do que é habitual durante a maioria dos dias de todos os meses do ano. Logo, tal implica gastos e despesas acrescidas. Quase sempre e em muitos casos com reflexos no consumo de Janeiro. Um mês que, por motivo das festas, sempre parece mais longo. Mais comprido e com mais dias do que todos os outros. Anteriores e seguintes. Dezembro é, também, tradicionalmente, o mês em que quase todos os produtos sobem de preço. Em que, tradicionalmente, custam mais caro. Ano a seguir a ano, fica sempre uma dúvida, uma incógnita. Que deixa a resposta em aberto. Para saber se tal aumento, se o aumentos dos preços ao consumidor é devido ao aumento dos preços na origem. Ou, simplesmente, ao oportunismo dos vendedores e dos especulares internos. Talvez, por mera hipótese de trabalho, a verdade possa estar no meio. E a justificação para os aumentos dos preços possa estar no meio. As culpas possam ser divididas. Quase ao certo, lá para os meios do próximo Janeiro, os preços irão baixar. Só que, nesse futuro próximo, poucos seremos os que iremos ter dinheiro. Para comprar, mesmo pouco e a preços mais baixos.



Cabe neste espaço e neste tempo, reconhecer o mérito de duas iniciativas governamentais. Uma a nível da cidade de Maputo, outra a nível do país. Na sua edição do passado dia 2, titula o jornal “Notícias” (página 3), “Não meter a mão” no bolso do cidadão. O título encima uma local que reporta uma reunião dirigida pela governadora da cidade de Maputo. Com todos ou a maioria daqueles que têm por dever proporcionar uma quadra festiva tranquila. No sentido de proporcionarem um ambiente favorável às festas do Natal e do final do ano, evitando a especulação dos preços e a colocação de produtos fora de prazo. Na primeira página da edição do mesmo dia, o “Notícias” afirma estarem “Assegurados stocks para a quadra festiva”. A notícia, a todos os títulos tranquilizadora, como se tornou habitual, cita o director nacional de comércio a dizer que quem praticar especulação poderá perder os seus produtos. E, acrescenta, que “Aos especuladores, haverá apreensão dos produtos pelos inspectores e depois serão revendidos a preços reais e os valores irão reverter a favor do Estado”. É nesta questão, em relação a este processo, que queremos manifestar a nossa discordância. Por ser um processo nada claro. E por poder vir a ser semelhante às apreensões efectuadas por agentes corruptos da chamada Polícia Municipal. De resto, algumas centenas ou uns tantos milhares de meticais resultantes da venda de produtos apreendidos em nada irá contribuir para o Orçamento do Estado. Mas, isso sim, pode contribuir para melhorar, durante algum tempo, as refeições de idosos e de crianças. Em definitivo, os produtos que possam vir a ser apreendidos devem ter como destinos centros de acolhimento de idosos e de crianças. O Estado não necessita destas migalhas. Os pobres agradecem.

Os pobres agradecem

Entrámos já no chamado mês das festas. Festas do Dia da Família para uns, do Natal, para outros. Também da entrada no Novo Ano. Festas ou festejar, tem aqui o significado de comer e beber. Diferente. Mais e melhor do que o habitual. Do que é habitual durante a maioria dos dias de todos os meses do ano. Logo, tal implica gastos e despesas acrescidas. Quase sempre e em muitos casos com reflexos no consumo de Janeiro. Um mês que, por motivo das festas, sempre parece mais longo. Mais comprido e com mais dias do que todos os outros. Anteriores e seguintes. Dezembro é, também, tradicionalmente, o mês em que quase todos os produtos sobem de preço. Em que, tradicionalmente, custam mais caro. Ano a seguir a ano, fica sempre uma dúvida, uma incógnita. Que deixa a resposta em aberto. Para saber se tal aumento, se o aumentos dos preços ao consumidor é devido ao aumento dos preços na origem. Ou, simplesmente, ao oportunismo dos vendedores e dos especulares internos. Talvez, por mera hipótese de trabalho, a verdade possa estar no meio. E a justificação para os aumentos dos preços possa estar no meio. As culpas possam ser divididas. Quase ao certo, lá para os meios do próximo Janeiro, os preços irão baixar. Só que, nesse futuro próximo, poucos seremos os que iremos ter dinheiro. Para comprar, mesmo pouco e a preços mais baixos.



Cabe neste espaço e neste tempo, reconhecer o mérito de duas iniciativas governamentais. Uma a nível da cidade de Maputo, outra a nível do país. Na sua edição do passado dia 2, titula o jornal “Notícias” (página 3), “Não meter a mão” no bolso do cidadão. O título encima uma local que reporta uma reunião dirigida pela governadora da cidade de Maputo. Com todos ou a maioria daqueles que têm por dever proporcionar uma quadra festiva tranquila. No sentido de proporcionarem um ambiente favorável às festas do Natal e do final do ano, evitando a especulação dos preços e a colocação de produtos fora de prazo. Na primeira página da edição do mesmo dia, o “Notícias” afirma estarem “Assegurados stocks para a quadra festiva”. A notícia, a todos os títulos tranquilizadora, como se tornou habitual, cita o director nacional de comércio a dizer que quem praticar especulação poderá perder os seus produtos. E, acrescenta, que “Aos especuladores, haverá apreensão dos produtos pelos inspectores e depois serão revendidos a preços reais e os valores irão reverter a favor do Estado”. É nesta questão, em relação a este processo, que queremos manifestar a nossa discordância. Por ser um processo nada claro. E por poder vir a ser semelhante às apreensões efectuadas por agentes corruptos da chamada Polícia Municipal. De resto, algumas centenas ou uns tantos milhares de meticais resultantes da venda de produtos apreendidos em nada irá contribuir para o Orçamento do Estado. Mas, isso sim, pode contribuir para melhorar, durante algum tempo, as refeições de idosos e de crianças. Em definitivo, os produtos que possam vir a ser apreendidos devem ter como destinos centros de acolhimento de idosos e de crianças. O Estado não necessita destas migalhas. Os pobres agradecem.

domingo, novembro 28, 2010

Um exemplo a seguir

Durante bastante tempo, ignorámos a crise financeira mundial. Global. Ou fizemos por ignorar. Não faltaram, até, declarações públicas, oficiais. Extremamente optimistas. Manifestando a convicção de que era possível tirar benefícios da crise. Que haveríamos de saber tirar benefícios da crise. Pura ilusão. Ruinosa falta de perspectiva para além do curto prazo. Do imediato. De facto, como se viu e como se verificou, a crise chegou. E pode até ter vindo para ficar. Os anunciados aumentos dos preços de bens e de serviços, viriam a ser suspensos, congelados. Temporariamente. Por decisão governamental e após dois dias manifestações populares. Mas, ao que se vê, nada será como dantes. Não existe varinha mágica que permita conter ou fazer recuar os preços os preços dos produtos que necessitamos de consumir em cada dia. Todos os dias. Há exemplos acabados que não se compadecem com dados e estatísticas. Atenhamo-nos, apenas como exemplo ilustrativo, nos preços que se pagavam e que agora se pagam no informal. Ou os praticados pelos muitos vendedores que se encontram nas bermas das estradas. A poucos quilómetros da cidade capital do país. Frutas, legumes e muitos outros produtos agrícolas de produção familiar, custam, hoje, quase o dobro do que custavam há cerca de um ano.



A crise financeira mundial está também a afectar, ao que parece de forma devastadora, vários países da Europa. Portugal é um deles. Onde as medidas tomadas pelo governo para enfrentar a situação, foram recebidas com uma greve geral. Ali, a crise é de tal grandeza que já está a fazer alterar e modificar hábitos e tradições. A pensar com lucidez, com sensatez, e a evitar gastos supérfluos. Por exemplo, segundo a edição electrónica do jornal “Expresso” (22 do corrente), Juntas de freguesia de Sintra trocam iluminação natalícia por apoio social. E, logo a seguir escreve que O aumento dos pedidos de ajuda levou algumas juntas de freguesia de Sintra a abdicarem da tradicional iluminação de Natal para, em vez disso, comprarem bens alimentares e ajudar famílias carenciadas. A mesma local, depois de apresentar as justificações dos presidentes das juntas de freguesia, acrescenta que “Em Rio de Mouro não vai haver iluminação porque vamos ent5regar cabazes a 120 carenciados. Tem havido muitos pedidos de ajuda a nível de medicamentos e de alimentação. Há muita gente a perder subsídios e, perdendo esses rendimentos, aumentam as suas necessidades. Isto, segundo o presidente da referida junta de freguesia. O jornal cita, ainda, os exemplos de outras juntas de freguesia. Nós por cá, vamos cantando e rindo. Assobiando para o ar. Parece que essa coisa de crise nem sequer é connosco. Continuamos insensíveis. Até já começaram a aparecer figuras do Pai Natal em locais onde se aconselha cometimentos nos gatos. Nos gastos de dinheiros públicos. Em tempo de crise profunda. E, até ao presente, incontornável. Digamos, mesmo, que a decisão das juntas de freguesia de Sintra deveria ser vista como chamada de atenção. Como modelo e exemplo. Um exemplo a seguir.

domingo, novembro 21, 2010

O seu a seu dono

A História, seja de um país ou de um povo, nunca é um produto acabado. Definitivo. É sempre um processo. Que se altera ou pode alterar, que se modifica, que se vai completando. Há medida que, com o passar do tempo, novos factos, novas facetas vão sendo conhecidas. A partir de consecutivas e mais aprofundadas investigações. O que parece válido em relação a povos e países, o será, também, relativamente a homens. Principalmente estadistas e governantes. É assim que, em tempos recentes, um vasto conjunto de obras, de trabalhos de investigação sobre o nosso país, nos permitiu ficar a saber mais sobre nós mesmos. Trata-se de livros editados em Moçambique ou em Portugal. Da autoria de moçambicanos ou de portugueses. Em relação a alguns dos quais há quem opine tratar-se de branqueamento da história. Pode ser que sim. Como pode ser que não. Muito provavelmente, o mais acertado, o mais ajuizado, seja aceitar os novos factos, as revelações. E, partir para novas investigações. Descobrir novos factos. Contrapor.



Pela nossa história recente, passaram personagens e personalidades, que não necessitam que lhes branqueiam a imagem. Nem a memória. Devido à sua verticalidade, à sua postura moral, em vida. Devido ao seu comportamento, ao seu modo de ser e de estar. Podem alguns assim não pensar. É um direito. Acontece que, em tempos e em espaços diferentes, leio informação sobre as últimas transferências de ouro para Portugal. Antes da independência nacional. Ouro esse que constituía o pagamento de parte dos salários dos moçambicanos a trabalharem em minas da África do Sul. A última abordagem sobre o assunto, está em edição recente do jornal “Canal de Moçambique”. Num texto assinado pelo Dr. Carlos Adrião Rodrigues. Em nome da verdade, importa dizer que, no período de Transição, ao tempo em que o Dr. Soares de Melo foi Governador de Moçambique, se efectuou transferência de ouro para Portugal. Talvez a última. Mas efectuou. Sobre a matéria, está publicada uma reportagem na extinta revista “Tempo”. Amplamente documentada com fotos do falecido Ricardo Rangel e texto da minha autoria. Que prova a saída do ouro da casa forte do então BNU e a sua colocação em contentores no terminal de carga do aeroporto. Antes de ser embarcado e seguir viagem para Portugal em avião da TAP. Para a elaboração da referida reportagem, procurei recolher, entre outras, a opinião do Dr. Mário da Graça Machungo. Recentemente regressado de Portugal e nesse então ao serviço do também já extinto Banco de Fomento Nacional. A sua delicada recusa em fazer qualquer comentário sobre o assunto, terá impedido enriquecer o texto. Mas, não impediu a sua publicação. Para os vindouros, importa dizer o seu a seu dono.

domingo, novembro 14, 2010

Nem exigimos nada em termos de troca

Quando atingimos uma certa idade, digamos uma idade avançada. Por vezes convencemo-nos que já sabemos tudo. Que já conhecemos tudo. Ou quase tudo. Mas não. Trata-se de pura ilusão. Por erro, por deformação própria. Quando não acontece haver quem nos queira iludir. Quem esteja possesso por nos querer iludir. Ao tentar a presentar como inovação, como grande descoberta, como técnica tida como revolucionária, práticas ancestrais. Centenárias. Milenares. Tão antigas como o homem. Mas que o aumento do conhecimento veio tornar ultrapassadas. Obsoletas. Mas que um amor serôdio ao passado tenta recuperar. Em nome de uma nova invenção. Neste caso concreto, a ecologia e a defesa do ambiente. Uma intenção, a todos os títulos, louvável. Não fosse o facto de serem aqueles que viram flora e fauna dos seus países destruídas em nome do progresso e do desenvolvimento económico, os mesmos que nos pedem para parar no tempo. Para regredir no tempo. Para voltar às práticas ancestrais. E deixar de utilizar métodos de produção agrícola comprovadamente mais rentáveis. Mais produtivos. Aqui, a questão fundamental parece ser, única e exclusivamente, a defesa do ambiente. Só que não se pode defender nem proteger o ambiente se o custo a pagar for permanecer de barriga vazia. Se assim, a dita questão fundamental assume os contornos de fundamentalismo.


A toda a largura da sua página 18 (edição de 3 do corrente), titula o semanário “Magazine”: Water Aid promove uso de excrementos humanos para agricultura. E, logo no primeiro parágrafo, escreve que O uso de excrementos humanos como fezes e urina é uma técnica tida como revolucionária na agricultura moçambicana, no sector da horticultura, que vem demonstrando potencialidades em relação ao uso de fertilizantes industriais. Acrescenta a local que a iniciativa da referida ONG tem a ver com o uso de saneamento ecológico (ECOSAN), que consiste em armazenar os excrementos e posterior fertilização no solo (...). A notícia, que nos fornece largos detalhes sobre o desenvolvimento deste projecto em alguns bairros de Maputo, acrescenta que A aplicação dos fluidos armazenados separadamente no intestino e na bexiga e, posteriormente, expelidos de forma separada, na agricultura, é promovida pela Water Aid através de um programa designado saneamento ecológico, que promove o uso da urina nas hortas de uma das cinturas verdes da cidade de Maputo (...). Pena é que a mesma notícia seja omissa em alguns aspectos que se apresentam como cruciais. Para nos permitir ficar a conhecer, por exemplo, o montante gasto neste projecto. E na mesma linha de pensamento, os salários pagos aos seus funcionários. Da mesma forma que não esclarece se os excrementos dos moçambicanos têm valor de exportação. Se são exportáveis. Inclusive com o selo “Made in Mozambique”. É que nós somos mais de vinte milhões. Que defecam diariamente. Parte significativa a céu aberto. Para dizer, por fim, que um bem organizado recolha desta enorme quantidade de excrementos pode transformar a vossa agricultura bem mais ecológica. Do que é actualmente. Trata-se, simplesmente, de saber pensar em termos de negócio. Da nossa parte, nem exigimos nada em termos de troca.

domingo, novembro 07, 2010

Nós temos o direito de poder rir

Não é novo nem é recente o interesse do Brasil por Moçambique. Ou interesses brasileiros em relação a Moçambique. Têm, no mínimo, mais de meio século. Virão, pois da época colonial. Dos tempos de António de Oliveira Salazar. Nessa altura, nesse tempo, ao que parece, tratava-se, apenas de interesses comerciais. O que estava em jogo, o que se pretendia, era acelerar e aumentar o volume das trocas comerciais. Apenas isso. Daí o ter sido prevista a construção de um entreposto comercial brasileiro. Em Maputo. Muito precisamente em terrenos localizados próximo da Sonefe. E que estariam registados em nome de António Almeida Santos. A queda do regime colonial português fez anular esse projecto. Fez abortar o projecto. Mas, não terá feito o Brasil esquecer o seu interesse por Moçambique. Que, progressivamente, se terão transformado em interesses em Moçambique. Como hoje parece e é evidente.


Aquando da sua primeira visita ao nosso país, o presidente do Brasil trouxe na sua bagagem uma mala cheia de promessas. Entre as quais a da construção de uma fábrica de anti-retrovirais. Veio depois, mais tarde, pela segunda vez, e disse, novamente que. Falou. Apenas falou. Sendo que de fábrica havia nada. A prometida fábrica passara a ser simples processo de empacotamento de comprimidos. Para vários e variados fins. Anuncia-se, agora, a terceira deslocação de Lula da Silva a Moçambique. Acompanhado da sua eleita sucessora. E, o descendente dos colonos portugueses, que aclamaram e proclamaram Pedro II de Portugal como Pedro I do Brasil, volta. Terceira e última vez. Como presidente, obviamente. E sem ter a prometida fábrica para inaugurar. Diz-se (“Notícias de 2 do corrente), que irá inaugurar a primeira fase dos projectos da fábrica de anti-retrovirais e do programa pró-savana para o desenvolvimento agrícola do centro e norte do país (...). De resto, como todos sabemos, os pobres não têm dinheiro para comprar medicamentos. Daí o não se justificar o investimento numa fábrica para a sua produção. Como, de facto, não existe nenhuma em toda a África. O que dá, no que vale a pena investir é na exploração de carvão, de gás e de petróleo. Vá, como faz parte do seu programa, a Tete. Mas, depois, regresse ao Brasil. E volte rapidinho. É, que, antes de ter chegado já estamos com saudades do seu regresso. E, já agora faça mais uma promessa. E, esta até pode cumprir. Prometa que nos vai trazer o Tiririca. É, que, nós, por cá, já estamos a ficar cansados com tantas televisões sustentadas por igrejas brasileiras. Milagreiras. Que só transmitem curas. Que só nos dão imagens de mazelas e de desgraças humanas. Afinal curáveis. Ao vivo e em directo. Com um simples gesto, com um mero sinal. Tiririca pode não poder fazer melhor. Nem ir mais além. Mas tem, isso sim, o poder de nos fazer rir. E, nós precisamos de rir. Nós temos o direito de poder rir.

domingo, outubro 31, 2010

Assim haja vontade

Desde há muitos anos que o sector da agricultura se vem mostrando como dos mais problemáticos. Dos ineficientes, ineficazes. Porquê, é a questão que pode e deve ser colocada. Recorde-se que, ainda recentemente, o primeiro-ministro visitou regadios. Existentes um pouco por todo o país. Onde, localmente, de forma geral, ao que foi noticiado, terá verificado o seu fraco aproveitamento. O mesmo será dizer que se nesses locais não se produz ou produz pouco, o motivo não está na falta de água. Estará, sim, na sua não utilização, no seu não aproveitamento conveniente e potencial. Na falta de capacidade, de vontade ou de conhecimentos para a transformar em elemento determinante na produção agrária. Já mais recentemente (25 do corrente), o jornal “Notícias” divulgou o resultado de uma auditoria realizada ao sector agrário. E, titulava, em primeira página, com grande destaque, “Falta estratégia para a irrigação”. E acrescentava que a referida auditoria, encomendada pela Inspecção-Geral das Finanças, “sugere acção integrada e sustentável”. Segundo a local, O sector de irrigação no país precisa urgentemente de uma Política e Estratégia Nacional por forma a orientar as iniciativas visando o aumento da produção e produtividade (...). Pode ler-se, logo a seguir, que Segundo constatação da auditoria, a planificação do subsector de irrigação no país é feita de forma desanexada do objectivo final, que é o aumento da produção e da produtividade. De igual modo, não existem no sector pacotes tecnológicos específicos e disponíveis localmente para o fácil acesso dos beneficiários. E, por aí em diante, muito mais se diz.


Logo no dia seguinte, o mesmo diário reportava sobre o lançamento da próxima campanha agrícola. Que teve lugar na província do Inhambane, com a presença do Chefe do Estado. E titulava “Muita comida nas mãos dos camponeses em I’bane”. Como que a justificar o título, podia ler-se logo a seguir que O Presidente da República disse que a mandioca de Inharrime, tão boa e saborosa para o pequeno-almoço, o maheu feito a partir da casca de banana, bem como o sumo de caju, entre outros derivados de recursos produzidos em Inhambane, tudo começa e termina com os camponeses. É por isso que alguns pensam que o nosso país continua muito pobre, porque o que se faz não sai ao mercado, não é encontrado nos centros comerciais. A ideia, o conceito, a filosofia, parecem claras como água. De verdade, alguns desses produtos, ou similares, poderão estar a ser vendidos nas bermas nas estradas. Não só da província de Inhambane. Também em outras. Agora, a questão de fundo, a questão que fica por saber é porque não conseguem ultrapassar as portas de centros comerciais e de mercearias. Cujas prateleiras estão carregadas de produtos importados. Iguais. Muitas das vezes fora de prazo e embalados em latas já dominadas pela ferrugem ou opadas. De verdade, temos institutos, vários, com reconhecido mérito internacional. Em todas estas diferentes áreas. Cuja actuação coordenada parece pouco visível no terreno, na prática, para alcançar de um objectivo comum. O que será possível. Tudo é possível. Assim haja vontade.

domingo, outubro 24, 2010

Criar condições para conservar e comerciar

Um pouco de diferentes pontos do país, chegam boas notícias. Referentes à produção de comida. À produção agrícola. Oxalá as previsões se confirmem, se materializem. Oxalá que se esteja a caminhar no sentido de uma total satisfação das necessidades internas. E, logo, da redução do recurso à importação. Com a correspondente poupança de divisas. Até porque parece fazer pouco sentido ver muito do que podemos ver em estabelecimentos comerciais. Seja, ver produtos importados, alguns de países europeus, de países bem distantes, iguais aos que também sabemos produzir. E, talvez, com melhor qualidade. E mais vantagens, em termos de preços, para o consumidor. Não se trata, aqui, de impedir importações, de alterar hábitos e costumes alimentares outros. Trata-se, sim, de conseguir valorizar mais e melhor o que produzimos com igual qualidade. Em última análise, de conseguir fazer chegar ao mercado, ao consumidor, em tempo útil, a produção do camponês, do agrário. O que pode exigir uma planificação mais cuidada, mais ajustada às diferentes realidades nacionais. Digamos, em última análise, a definição de políticas integradas. Que definam, claramente, todas as etapas e todos os intervenientes no processo.



Em termos de produção agrícola, a par das boas notícias também há as más. Ainda há poucos dias, uma televisão nacional nos fez chegar os lamentos de um agricultor. Por a sua produção de batata reno estar a começar a apodrecer. Por falta de escoamento, seja, de comprador. E, também, por outro lado, por falta de meios adequados de conservação. De meios de frio. Como todos sabemos, a batata reno é um produto facilmente perecível. Que não suporta um longo período de tempo fora da terra. Antes de ser consumida. Logo, terá sido um erro estratégico, grave, ter incentivado a sua produção um pouco por todo o país. Onde não há hábitos para o seu consumo, poder de compra para a sua aquisição localmente, meios de conservação e de transporte para a fazer aos centros urbanos. Em tempo útil e sem possibilidades de apodrecer. E, sempre foi assim. Basta recordar que, antes da independência, uma parte da batata produzida em Moçambique, na região ao Sul do Save, era consumida internamente. Por falta de meios de conservação, outra parte, talvez a maior, era enviada, por caminho-de-ferro, para a África do Sul. Onde era conservada em frigoríficos. Durante meses. E de onde regressava à medida das necessidades do consumo. O exemplo acima pode ser, e com toda a certeza é, válido para outros produtos agrícolas. É aconselhável meditar. E ter presente que não é suficiente produzir. Que é preciso criar condições para conservar e comerciar.

domingo, outubro 17, 2010

Dois governos

Atenhamo-nos em algumas questões que podem parecer menores. Menores no sentido de sem importância. De sem ou de menor importância. Mas que o não são tanto assim. Por fazerem parte da nossa vida, do nosso quotidiano. Por nos condicionarem, por afectarem o nosso bolso ou o nosso estômago. Então, a primeira dessas questões é referente ao fabrico do pão. Que, ao que tudo indica, pode vir a ser cozido com combustíveis alternativos. Mais baratos do que os utilizados actualmente, mais económicos. Bastou promover o diálogo e reunir vontades para provar que o cenário que se apresentava não era tão negro como alguns pretendiam. Depois, temos a questão do peso do mesmo pão. Que, tal como tem vindo a ser colocada, não passa de mera questão académica. E que tende em transformar-se num diálogo de surdos. Parece pacífico e lógico que o deve e pode ser controlado é o peso da massa à entrada do forno. Nunca o peso do produto final. Logo, teimar neste posicionamento não passa de atitude demagógica e populista. Como o é, como foi, ter-se visto um ministro, um já ex-ministro, a desempenhar a missão de fiscal. Digamos, para abreviar a prosa, que ministro é ministro e fiscal é fiscal. Ou seja, como diz o ditado, cada macaco no seu galho. Ainda sobre pesos e balanças, a TVM apresentou, no passado dia 13, cerca das 10 horas, um programa ou uma rubrica a que chamou “Tribuna do Consumidor”. Oportuno o tema do roubo na pesagem dos mais diversos produtos, o assunto deveria ter sido aprofundado. Salvo melhor entendimento, deveria ter ser explicado ao consumidor como pode verificar se uma dessas balanças redondas está ou não viciada. Intencionalmente. O que é tão simples como verificar quanto marca a balança antes de ser carregada. E se possui ou não o parafuso regulador. Na maioria dos casos não tem. Se queremos trabalho e informação útil, há que começar por dar ao consumidor as adequadas e necessárias ferramentas para se proteger. Contra os que querem enriquecer através do roubo.


Continuemos a dissecar sobre questões que, parecendo menores, nos afectam o bolso e o estômago. Algumas das quais se assemelham a barbaridades. Ou resultantes de oportunismo primário. Talvez da convicção, errada, que todos os governados passam, dia e noite, a dormir. De que quem governa sabe tudo e de quem é governado sabe nada. Esquecendo, ou tentando fazer esquecer, que os governantes mudam e podem ser mudados. Mesmo contra a sua vontade. Já o povo não. A vontade do povo pode mudar. Mas, convenhamos, o povo não pode ser mudado. Isto, estas breves linhas, para adiantar coisa simples. Para dizer que, o governo, para atender à vontade e ao manifesto popular, suspendeu o aumento do custo de alguns bens e serviços. Não de todos. Como se pode verificar. É o caso, por exemplo da chamada taxa de limpeza. Que passou de 55 para 80 meticais por mês. Em termos monetários, pode parecer um aumento insignificante. Em termos percentuais é duma magnitude sem qualificativo. Com uma agravante. É que o cliente da EDM não pode nem tem meios para reclamar sobre o tal aumento. E, caso não pague a absurda e ilegitima taxa de limpeza, fica sem energia eléctrica. Seja, cortam-lhe a energia eléctrica. Sem qualquer possibilidade de contestação ou de defesa. O que pode levar a ter de concluir que estamos perante uma situação, no mínimo, macabra. Que pode estar a apontar, que pode querer sugerir que estamos perante dois governos.

domingo, outubro 10, 2010

Haverá formas outras de combater a pobreza

Ainda estamos todos recordados. Aconteceu passam poucos meses. Estamos a falar das longas filas de veículos que se formaram junto aos centros de inspecção. Com todos os inconvenientes e prejuízos daí resultantes. Para os respectivos proprietários. Depois, foi a alteração, o aumento do tempo limite para serem realizadas as inspecções. Foi o dar o dito por não dito. Foi todo um jogo de palavras nada abonatório, nada elegante. Para quem teve que recuar. Para quem teve que ceder à realidade dos factos, à pressão pública, aos protestos. Agora, no momento presente, o cidadão comum está confrontado com situação idêntica. Digamos, o cidadão mais pobre. O motivo é a obrigatoriedade de ter de registar o seu telefone pré-pago. Num espaço de tempo demasiado curto. Comprovadamente incompatível com o volume de registos a realizar por cada uma das operadoras. E, com os meios técnicos disponíveis. Ou possíveis de reunir no prazo concedido para o início do processo. Aí temos, de novo, nervosismo, protestos, agitação. Mas, mais. E, este é um aspecto importante a registar. Temos, também, muitos milhares de horas de trabalho perdidas. De faltas às aulas por parte de estudantes. Que se juntam, amontoam, fazem fila junto aos poucos locais possíveis de registo. É que, sobre eles, sobre todos eles, pesa a ameaça e a coacção de que se não efectuarem o registo no prazo determinado serão punidos. Serão castigados com o bloqueamento dos seus aparelhos. Sem qualquer outro comentário, sem qualquer consideração de ordem subjectiva, salientemos um facto. O de num espaço de tempo reduzido o ministério dos Transportes e Comunicações, ou organismos por si tutelados, ter desorganizado, completamente, a vida do cidadão comum. Ou, se assim de preferir, de ter organizado a desorganização. Convenhamos que esta não é a forma mais correcta de combate à pobreza.


Alguns, poucos, argumentos foram tornados públicos para justificar a exigência do registo dos telefones pré-pagos. Na maioria, falaciosos. Na maioria que não suportam qualquer contestação. Quem tem telefone móvel, o que nem é o meu caso, podia saber, pode ter acesso às mensagens sobre o que estava a ser preparado para acontecer a 1 e 2 do mês passado. Ao que sei, as referidas mensagens não eram secretas nem codificadas. Foram emitidas e recebidas livremente. Logo, se ninguém agiu para evitar o que aconteceu, não terá sido por falta de conhecimento do que estava a ser preparado. Terá sido por um outro qualquer motivo. Que não vem ao caso saber. De resto, circularam as mensagens sem registo do pré-pago como irão circular depois de o mesmo ser concluído. Não é o registo que, em momento algum, irá travar a sua circulação. Saber de que número de telefone partiu a primeira mensagem e ficar a conhecer o seu autor, pouco irá revolver. Se o objectivo dessa mensagem já tiver sido atingido. Quer-se dizer, saber-se quem incitou a quê ou quem provocou o quê, passa a ser objectivamente inútil. Não mais do que um mero exercício de caça às bruxas. Por certo, haverá formas outras de combater a pobreza.

domingo, outubro 03, 2010

Adiar a abordagem de mais coisas sérias

Hoje, falemos de coisas sérias. É que o que há de mais neste país são coisas sérias. Para falar. Para escrever. A primeira quer-se a última coisa séria de que há notícia é sobre o conflito homem – animal. Pela lógica, pela sequência dos termos, parece quer o homem está em conflito com o animal. Mas, nem sempre o que parece é. Assim, poderá ser, será, que aconteça o inverso. Que seja o animal que está em conflito com o homem. Principalmente elefantes. Por o homem lhe ter ocupado espaços vitais, cortadas rotas, impedido acesso a água. Vai daí, em legítima defesa dos seus direitos ancestrais, ataca o homem. Armado, este, apenas com a sua inteligência, não se vê capaz de enfrentar a força e a fúria dos paquidermes. Assim, perde culturas, é confrontado com fomes. Quantas vezes, perde a própria vida. Segundo os mais diversos noticiários. Outro assunto sério é, também, nos tempos que correm, o da violência doméstica. Agora, graças a denúncia, queixas, inquéritos, dados estatísticos, todos nós estamos a saber quantos homens agridem mulheres. Mas, também o inverso. Seja, quantas mulheres agridem homens. E o motivo que as motiva a assim proceder. Que tanto podem ser vistas como questões de género como de empoderamento. Afinal, falando de coisas sérias, a escolha dos termos nem cabe a nós. Cabe a quem paga para ser o que somos. Mesmo quando não queremos ser o que somos. Estas são, apenas, duas questões sérias. Entre muitas outras que ficam por citar.


Vale a pena. Citando o poeta, de quem muitos falam e poucos conhecem, vale sempre a pena quando a alma não é pequena. Vale, pois, a pena continuar a falar de coisas sérias. Pela simples razão de que não apenas hoje, mas, sempre deveríamos falar de coisas sérias. E, coisa séria, salvo opinião em contrário, é esta de obrigar ao registo de telefones pré-pagos. O que só poderá ser feito por maiores de 14 anos. Aqui, já não estamos no campo da verdade. Estamos, sim, no campo da dúvida. E, a dúvida é sobre a questão da idade. Sobre os critérios, os objectivos e os interesses a que obedeceu a definição da idade. Para o acesso a um determinado serviço. Que, anteriormente, não estava sujeito a qualquer limitação. Limitação que, agora, parece ter efeitos retroactivos. Logo, e se assim, estar a violar a Constituição da República. Por fim, dizer, que tanto a idade como o prazo concedido para o registo dos pré-pagos, não tem qualquer base lógica. Muito menos rigor científico. Sequer cobertura legal. Mesmo quando um qualquer ministro possa vir a público dizer que sim. Tentar provar que sim. A palavra de um ministro, aqui, como em qualquer outra parte do mundo, não constitui sinónimo de verdade. Sequer de seriedade. Por interesses outro, nada custa adiar a abordagem de mais coisas sérias.

domingo, setembro 26, 2010

Pela boca morre o peixe

Há dias, levantou-se por aí um temporal, uma tempestade. Talvez em um copo de água. Ouviram vozes de reclamação e de protesto. De migrantes portugueses aqui residentes. E, creio, também na África do Sul. O motivo esteve no facto de terem deixado de ter acesso à transmissão televisiva dos jogos do principal campeonato de futebol de Portugal. Em directo, obviamente. Com quem se sente prejudicado, no que julga ser direito seu, logo foi encontrado culpado para o prejuízo. E o culpado, o responsável pela nova e degradável situação não foi quem tinha deixado de prestar o serviço que vinha prestando. Gratuitamente. A culpa foi assacada, toda inteirinha, a uma nova estação televisiva angolana. Privada. Que terá adquirido o exclusivo da transmissão dos referidos jogos. E, as vozes de protesto que se fizeram ouvir foram mais longe. Acrescentaram que à referida estação privada estavam ligados interesses económicos da filha do presidente Eduardo dos Santos. Como assim, logo... Logo, para bom entendedor meia palavra basta. Para tentar inverter a situação, ventilaram os reclamantes a hipótese de fazer deslocar uma delegação a Angola. Com a missão de fazer quebrar o que foi classificado como monopólio. E, isto, porque, como costuma dizer-se, o sol quando nasce é para todos. Ou devia ser. Se a missão se fez ao terreno ou não, se peregrinou até Angola ou não, já as crónicas são omissas. Melhor, dizem nada. Logo, os resultados são desconhecidos. Sendo de admitir que possam ter sido nulos.



Decorridos poucos dias, na sua edição de 22 do corrente, na internet, o jornal português “Expresso” publicava uma notícia com o título Emigrantes portugueses criticam TV portuguesa. E, logo a seguir, escrevia que Portugueses residentes em França criticam os canais internacionais da RTP e da SIC por não transmitirem os principais jogos de futebol da Liga. Segundo os críticos, citados pelo jornal, Pagamos para poder ver a RTP e a SIC, mas agora somos obrigados a pagar mais para ver os principais jogos (...) no MCS, um cabal de cabo em francês, com comentários em francês (...). Mais adiante, pode ler-se que A opinião deste grupo de portugueses residentes no quarteirão da Praça de Itália, em Paris é compartilhada por uma grande maioria dos emigrantes em França que criticam também, com frequência a programação dos canais internacionais das televisões portuguesas. Depois de algumas considerações sobre a programação das duas estações, a local esclarece que Mas é a falta de futebol de “alto nível”, em directo, que fez transbordar o vaso sãs críticas. Com efeito, desde há algum tempo que os principais jogos do campeonato português desapareceram das programações em directo. Pouco tempo depôs da sua divulgação, esta notícia contava já com mais de uma dezena de comentários. Na generalidade, desabonatórios relativamente à programação que oferecem a quem está fora do país. Mas, também críticos em relação ao posicionamento dos governantes que Só se lembram dos emigrantes, quando lhes querem ir ao bolso, ou captar as suas poupanças. Do explanado, dá para perceber que o facto dos jogos do futebol português não estarem a ser vistos, em directo, entre nós, é mais complexa do que alguns pretendem fazer acreditar. Os interesses em jogo são mais do que muitos. E, milionários. Não se trata, pois, de uma questão angolana. Nem africana. É mais global. Para quem entendeu o que ficou escrito, resta concluir que pela boca morre o peixe.

domingo, setembro 19, 2010

Ética e moral são questões incómodas

Está a decorrer na cidade da Matola o julgamento de 26 funcionários do Estado. Acusado de desvio de fundos. Ao que parece, um eufemismo para evitar o termo roubar. Cujos contornos não se apresenta como importante referenciar. No mesmo dia, (16.09, página 4) o “Notícias” reportava idêntica situação com o título Desvio de fundos preocupante em C. Delgado. E acrescentava que Há pelo menos cinco processos em curso nas direcções subtuteladas pelo Estado. Em comum, ambas as notícias apontam para o envolvimento de funcionários das Finanças. A nível local. Pelo que se ouve e lê, estes não são casos únicos. São, isso sim, os últimos e repetições do que se passa um pouco por todo o país. Alegue-se, pode alegar-se que os factos e as acções em si abonam em favor do combate à corrupção. Certo e justo assim pensar. O que será igualmente válido em relação à PRM, Cujos esforços na formação de novos agentes não passam desapercebidos. Da mesma forma como são conhecidos os muitos casos de afastamento de elevado número de formados. Por corrupção. Trata-se, esta, de uma informação vinda, repetidas vezes, do interior da Corporação. Por vezes, até, com algum triunfalismo. Quer dizer, clarificando o raciocínio, o dinheiro gasto neste tipo de formação é, em parte significativa, inútil. Trata-se, como não é necessário lembrar, de dinheiro dos nossos impostos. Que, de outra forma, quando correctamente geridos e bem aplicados, deveriam produzir melhores resultados. Parece, pois, que se exige um maior rigor na selecção de candidatos agentes da Polícia. Assim como uma melhor ou outro tipo de formação. Talvez, até, formar menos mas formar bem. Os dados tornados públicos parassem provar que quantidade não é sinónimo de qualidade. Pelo contrário.


O primeiro-ministro conferiu posse, há poucos dias (TVM, Notícias das 11 e das 12 horas de 15 do corrente), ao director de um novo instituto. Se bem entendido, Trata-se do Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria. A notícia, ao que parece e em modesta opinião, não terá merecido devido e justo destaque nem desenvolvimento. Ao contrário de tudo quanto seja reunião e seminário. Cujas conclusões, vezes sem conta, não passam do óbvio. Quando não do ridículo. E nos dizem e repetem, por exemplo, que, afinal, as águas dos rios correm para o mar. Sempre assim foi. E assim haverá de continuar a ser enquanto se gastar rios de dinheiro em reuniões. Em vez de se gastar dinheiro no aproveitamento dessas mesmas águas. Mas, voltemos atrás na ideia exposta. Para tentar perceber o motivo pelo qual a tomada de posse do referido director foi tratada como assunto menor. Digamos que as suas palavras, após a cerimónia, não terão sido do agrado de muitos. Talvez, apenas de alguns. É que ele falou em questões éticas e morais. Da mesma forma que colocou a tónica na necessidade da formação humana. Para além, ou antes, da formação técnica e científica. Questões, afinal, que podem não ter agradado. Podem não estar a ser bem recebidas. Com quase total certeza, não. É que, ética e moral são questões incómodas.

domingo, setembro 12, 2010

É possível ir mais além

Pertencem já ao passado, em boa lógica, as manifestações populares de 1 e 2 do corrente mês. A questão que a muitos se coloca, é a de saber se poderiam ter sido evitadas. Pode ser que sim, como pode ser que não. O mais provável é que não se consiga encontrar uma resposta conclusiva e unânime. Definitiva. Que não consigamos sair do campo das hipóteses. Das especulações e das opiniões pessoais. Parece, porém, que aspecto a não perder de vista é o de antes e aquando do anúncio dos aumentos de preço de produtos e serviços terem sido feitos vários apelos. A diferentes níveis. Com a tónica na necessidade do aumento da produção e da produtividade. Um aspecto que, certamente, merece concordância. Mas que é, será, apenas um ponto de partida. Por várias razões. Uma, é que produzir mais implica haver mais condições para produzir, mais condições para se poder trabalhar. Sendo que ter trabalho não significa, obrigatoriamente, ter emprego. Que é um bem cada vez mais caro. E raro. Outra razão, é a de que o aumento da produtividade não é um processo pacífico. Quando visto e entendido à luz dos princípios definidos por Taylor. Que por aqui se instituíram como bíblia logo após a independência nacional. Há, por fim, um outro aspecto a não se perder de vista. Que vai para além do que se possa produzir na globalidade. Do que se possa produzir no mesmo tempo e no mesmo espaço e com a mesma quantidade de matérias. Trata-se da questão da distribuição. Digamos que implica uma distribuição mais justa e equitativa da riqueza produzida. Implica a definição de uma nova política de justiça social.



Parece já existirem alguns sinais neste sentido. Isto, a avaliar pelas medidas anunciadas, publicamente, pelo governo. Como é o caso da suspensão de aumentos anunciados. E da contenção de despesas públicas. A começar pelas despesas com o funcionalismo. Com os funcionários. Muitos dos quais estão habituados a gastar quanto querem em combustíveis, energia, telefones. E, por aí em diante. Sem qualquer tipo de controlo ou de apresentação de justificativos. Situação que se estende por dirigentes de empresas públicas ou comparticipadas pelo Estado. Que se estende quando não se amplia. Neste contesto, da redução das despesas públicas, parece ser possível ir mais longe. Começando pela diminuição do número de reuniões que cada ministério realiza em hotéis de luxo. Um pouco por todo o país. Com elevado número de participantes. Com excessiva duração de tempo e cujas conclusões têm poucos ou nenhuns efeitos práticos. Na melhoria das condições de vida dos cidadãos. Em termos de redução das despesas públicas, em termos de redução do despesismo, os primeiros passos são animadores. Mas, é possível ir mais além.

domingo, setembro 05, 2010

Exigimos mais respeito

Entre nós, o pão é um dos mais importantes alimentos. Principalmente a nível de centros urbanos. Acontece que a nossa produção de trigo é reduzida. É insignificante em relação às necessidades. Logo, resta o recurso à importação. Ficamos à mercê dos preços praticados no mercado internacional. E quando estes sobem, sobre o preço do produto acabado. Na nossa terra. Sobre o preço do pão. E, foi o que Aconteceu mais uma vez. Só que a subida, o aumento, não é um processo automático. Resulta de negociações e de acordo entre panificadores e governo. Como aconteceu mais uma vez. De acordo com o tornado público, pretendiam os panificadores que o aumento fosse tornado efectivo a partir de 1 do corrente mês. Depois das negociações, veio o governo dizer que só iríamos pagar mais por um metical por pão a partir de amanhã, dia 6. Acontece, porém, que algo de estranho se terá passado. É que, de facto, o pão subiu de preço na passada segunda-feira. O que significa, em primeira análise, que os panificadores não respeitarem o acordo assinado com o governo. O que a ter acontecido, será mau. Ou que, em alternativa, o governo assinou ou compromisso sem perceber o que estava a assinar. O que será estranho. De qualquer das formas, trata-se de um ponto que precisa de ser esclarecido. Por quem o dever e o poder para o fazer.


Quem possui energia eléctrica na sua residência, forçadamente, assinou contrato com a Electricidade de Moçambique (EDM). A menos que tenha feito ligação clandestina. O que não são os casos em apreço. O que acontece é que a EDM está a proceder à substituição do contador convencional por credelec. Em condomínios da cidade de Maputo. Porém, terá cometido falha grave. Ao esquecer-se de avisar os seus clientes da operação. Individualmente. E por escrito. O que fez foi enviar uma carta dirigida às comissões de moradores. Que sem se saber como ou porque artes de magia apareceu afixada em áreas comuns dos prédios. Como se as comissões de moradores tivessem alguma coisa a ver com as relações contratuais entre a EDM e os seus clientes. Ou se tivessem alguma competência legal para intervir nesta área. Acresce que a referida carta não é clara. Digamos, mesmo, que é confusa. Em vários aspectos. A começar pelo facto de não indicar, claramente, a data da mudança dos contadores. Depois, trata-se de um documento redigido em linguagem arrogante. Um documento que tanto pode ser definido com apócrifo como anónimo. Por falta de assinatura. Num mínimo, trata-se de um documento sem qualquer valor jurídico. Nem valor legal. Talvez, muito por hipótese, um documento provocatório. No máximo, revelador de uma mentalidade fascista. Resta dizer que como cientes da EDM, como clientes sem dívidas à EDM, sentimos que merecemos mais respeito. Temos o direito a exigir mais respeito. Exigimos mais respeito.

domingo, agosto 29, 2010

Ainda uma riqueza adiada

Em finais dos anos 60, princípios dos anos 70, era corrente a afirmação e a convicção da existência de petróleo em Moçambique. Principalmente depois de extinto o incêndio no furo de prospecção de gás em Pande. Por peritos norte-americanos. Dizia quem sabia, ou pretendia saber mais, que onde há gás também há petróleo. Sequer é segredo que, em certas zonas da província de Inhambane, as populações retiram da superfície do solo um líquido escuro e viscoso. Que aproveitam e com que alimentam candeeiros tradicionais. Para a iluminação doméstica. Já em época mais recente, já depois da independência nacional, voltaram a correr informações sobre a existência de petróleo na Bacia do Rovuma. Muito provavelmente de um e do outro lado da fronteira com a Tanzânia. Aliás, o assunto, o tema petróleo prece ter sido ponto de agenda de reunião da comissão mista entre os dois países. Se sim, se não, fica a dúvida. E permanece o segredo por parte de quem possa saber. Um segredo e um silêncio que atravessaram algumas décadas. Até que.



Nunca se terá falado nem escrito tanto sobre a existência de petróleo em Moçambique como no tempo presente. Assim como da descoberta de novas reservas de gás. Digamos, concluamos que ainda bem. Partilhemos, porém, os cuidados e as cautelas com quem divulgou a descoberta de petróleo na Bacia do Rovuma. Sobretudo, no que se refere ao seu valor comercial. Actualmente. É que, o petróleo, não sendo um recurso renovável, parece ser um recurso inesgotável. Existe a maior ou menor profundidade, quer em terra, quer no fundo do mar. Quer dizer, o custo de exploração do petróleo depende de vários factores. Que os governos, que nenhum governo domina ou controla. Por si próprio. O volume das reservas de petróleo e a profundidade a que se encontram é segredo. Que as multinacionais guardam para si. E é um segredo bem guardado. Que em momento alguém revela. A quem quer que seja. Para que, com base nesse segredo e no monopólio do conhecimento, só explorem o petróleo numa determinada região quando já não seja rentável em outra. Quando o negócio possa ser menos lucrativo aqui do que ali. De resto, tenhamos isso presente, o petróleo desde que se foi tornando mais escasso e, logo, mais caro, também se tornou em fonte de novos conflitos. Nacionais, internos, e internacionais. Pode ser que sim, como pode ser que não. Pode muito bem acontecer que, em Moçambique, seja, ainda uma riqueza adiada.

domingo, agosto 22, 2010

A corda parte sempre pelo lado mais fraco

Em termos de custo de vida, de aumento de preços, estamos a atravessar um período difícil. Complicado. Também controverso. Aparentemente, de aumentos descontrolados. Ou incontroláveis. É que o consumidor passou, de um dia para a outro, a pagar mais por tudo quanto consome. Pela mesma quantidade daquilo que consumia na véspera, na semana ou no mês anterior. Estamos a falar da água, da energia eléctrica, dos combustíveis, de tudo quando constitui alimentação. Da farinha à batata, do arroz à couve, do óleo ao tomate, do peixe à carne. Seja de frango, da vaca, de cabrito ou de porco. E por aí mediante. A lista não é, nem pretende ser exaustiva. Por isso, o fica por saber é que novos aumentos virão a seguir. Facto concreto, é que dados acompanhados de declarações oficiais são tranquilizadores. Por demais tranquilizadores. Assustadoramente tranquilizadores. Tranquilizantes. Que se confundem, por vezes, com analgésicos ou com anestesias. A questão é que esses dados parecem não estar em conformidade com o real. Parecem referentes a um outro país. Que não o nosso. Digamos que a barriga do cidadão comum, deveria ser vista como melhor barómetro do que os dados estatísticos. Que, sendo verdadeiros, valem o que valem. Isto é, tanto podem valer muito como coisa nenhuma. Depende de quem os lê e interpreta. Depois, os trabalhadores no activo tiveram, recentemente, os seus salários actualizados numa base percentual. Os reformados da Segurança Social, não. Mais simplesmente, não viram as suas reformas actualizadas. Nem em muito nem em pouco. Foi em nada. O que leva a admitir que algo de estranho se passa pelas bandas do INSS. De onde o que chega é um total silêncio e a mais completa falta de informação. Pública. O que permite admitir que o segredo é a alma do negócio.

Decidiu, recentemente, o Ministério da Educação, proibir o pagamento de propinas em dólares. Em todas as instituições de ensino. Sejam públicas ou privadas. Segundo a explicação dada (“Notícias” de 19n do corrente), a medida visa manter um ambiente de estabilidade das propinas praticadas nas instituições de ensino e assegurar uma relação harmoniosa entre as instituições de ensino e o público utente. Acrescenta o matutino que Várias instituições de ensino têm vindo a adoptar a prática indicar as taxas dos serviços que prestam em moeda estrangeira, ainda que, na maior parte dos casos, os serviços venham a ser facturados e pagos em meticais. Ainda segundo o Ministério da Educação, esta prática (...) onera ilegitimamente o custo de vida dos cidadãos utentes desses serviços, que têm os seus rendimentos expressos em moeda nacional, e é potenciadora de focos de desarmonia e tensão social, constituindo conduta ilegal. Saudemos, desde já, a medida e a decisão. Acreditemos ser mais do que pedrada no charco. E deixemos a dúvida se o coaxar das rãs não irá conduzir à busca de artifícios legais, de “buracos”na legislação, para que tudo continue como estava. Ou seja, que sempre que aconteça alteração na cotação entre o dólar e o metical, as facturações em meticais sejam alteradas. Sempre no sentido da subida. Há exemplos, reais e actuais, de que assim acontece. Esperemos para ver. Na certeza de que a corda parte sempre pelo lado mais fraco.

domingo, agosto 15, 2010

Uma questão de força e de tempo

Volto à questão do contentor, colocado no passeio da Avenida 24 de Julho. Aqui abordada em edição anterior. Para dizer, para adiantar que imperou o bom senso. Ainda bem. É que o dito cujo já foi retirado. Terá sido removido para outro local. Provavelmente, menos condigno. Afinal, ao que parece não era negócio de um qualquer privado, Mas, sim, de uma entidade pública. De um ministério. Com a finalidade de promover e vender produtos nacionais. Iniciativa a todos os títulos louvável. Muito embora o local escolhido nem tanto. Não se tratava, por conseguinte, de um contentor qualquer. Semelhante ou igual a tantos outros colocados por tudo o que seja esquina ou passeio. Espaço livre. Digamos, tratava-se de um contentor VIP. Tanto assim, que depois de transferido para novo pouso, mereceu honras de inauguração pomposa. Com a presença de membro do Governo. A nível ministerial. Com a abertura de garrafas de champanhe. Que ainda não é produto nacional. E, por fim, com direito a notícia que ocupou largo e exagerado tempo no principal noticiário da televisão pública nacional. Aonde estamos, onde chegámos, parece claro. A questão, a dúvida que se coloca é de saber para onde vamos e onde queremos chegar.



Semana a semana, a quase novela INAV ganha novos contornos. E, cada episódio revela-nos surpresas. Interessantes. Que tanto podem dar para rir como para chorar. Agora, já se diz estar Em vista novo regulamento relativo à inspecção de viaturas (“Notícias”de 12 do corrente). Quer isto dizer, de forma simplificada, que o actual não serve. Já não serve. Por ter ficado ultrapassado. Mesmo antes de as inspecções terem sido levadas à prática a nível nacional. Ou por ser, por se tratar de uma aberração. Ou do produto de mentalidades arrogantes. Que vivem uma realidade que não a nacional e recusam conselhos avisados. No sentido de pararem para pensar. E pensar como pensam os homens. Afinal, únicos seres pensantes. Voltando à local, é surpreendente ficar a saber-se que o regulamento ora em perspectiva deverá reflectir um certo relaxamento no tratamento do tipo de deficiências. Quem assim o afirma, não é gago. Nem se socorre de meias palavras. É responsável numa instituição nacional. Ao mais alto nível. Mas que, sem qualquer margem para dúvida, há muito atingiu o Princípio de Peter. Digamos, a terminar, que nesta “Terra Sonâmbula” se mostra bem mais fácil remover um pesado contentor do que frágil e leve incompetente. A prova, a prova real está à vista. São esses barcos parados. Por falta de dinheiro para pagar as passagens por parte dos utilizadores a quem se destinavam. A quem supostamente se destinavam. Os incompetentes são como lapas. Estão ligados às rochas, estão presos às rochas. Por vezes, na maioria das vezes, é preciso utilizar força e tempo para retirar uma lapa da rocha. Trata-se, afinal, de uma questão de força e de tempo.

domingo, agosto 08, 2010

Contestar é um direito soberano

Todos sabemos que há afirmações que não devem ser feitas em público. Publicamente. Sobretudo através de rádios, de televisões, de jornais. Sobretudo e quando essas afirmações não possuem consistência. Não tenham sido devidamente ponderadas. Não passem de vontade ou de desejo pessoais. Sem um mínimo de possibilidades de serem executadas, de serem lavadas à prática. Outro tanto, por serem ilegítimas ou simplesmente absurdas. Quando tal acontece, resta saber e querer recuar. Resta ter de dar o dito por não dito. Resta ter de engolir o que se chama de sapos vivos. E, infelizmente, cá entre nós há quem esteja sempre preparado, sempre disponível para engolir sapos vivos. O que, não raras vezes, tem efeitos colaterais. Causa, mesmo dificuldades e prejuízos a terceiros. Origina situações de mal-estar e de agitação. Em última hipótese, há afirmações e declarações públicas que devem ser, abertamente, denunciadas e repudiadas. Por serem ilegitimas, quando não ilegais. Logo, que todos temos o direito de não cumprir. No plano pessoal, nenhum cidadão é obrigado a cumprir o que viole a Constituição ou a sua consciência.


Vamos a factos. Ainda está fresca na memória de todos nós, essa história, mal contada, da obrigatoriedade do uso de coletes reflectores e de triângulos com determinadas características. Por parte dos condutores. Uma história que ninguém tem coragem nem para desmentir nem para confirmar. Sobre o folhetim, sobre a rocambolesca novela, apresentaram-nos um capítulo. Agora, de novo, sobre a inspecção de viaturas. Titulou o jornal “Notícias” (edição de 30 de Julho passado), que Autoridades descartam prorrogação do prazo. Como fundamento para a decisão, o matutino cita um dirigente do INAV, a dizer que O que se viu é que a maioria dos automobilistas, por inércia, acabou deixando tudo para o fim. Naturalmente que sim. Mesmo quando se aceite que a inércia é o princípio do movimento. E que, também, é por inércia que aceitamos ter dirigentes que se permitem fazer este tipo de afirmações arrogantes. Passando ao dia seguinte, o mesmo diário titulada a toda a largura da sua primeira página: Fiscalização adiada. E, justifica: Uma das razões que forçaram as autoridades a recuarem da sua decisão de pôr em marcha a fiscalização tem a ver com a existência de províncias que ainda não têm instalações destes serviços de exame. Como os não tinham na véspera. Nem irão ter nos próximos meses. É do autor da afirmação arrogante do dia anterior, o gesto de benevolência que se traduz na seguinte frase: Demos a possibilidade de só se iniciar com o processo de fiscalização depois de instalados os centros de inspecção em todo o país. Ora, salvo melhor opinião, a afirmação Demos a possibilidade, significa que há pessoas que tem o poder para aplicar ou não aplicar a Lei. Que a aplicam quando querem e lhes apetece. E que não a aplicam quando não lhes apetece. Quando dessa aplicação nada possa resultar de bom. Para si. Seja, que a governação da coisa pública está a ser feita em função dos interesses mesquinhos e umbilicais de alguns. O mesmo será dizer, do quero, posso o mando. Nesta realidade, perante esta mediocridade camuflada em sabedoria, todos temos o direito à contestação. E, a exigir mudanças. Contestar é um direito soberano.

domingo, agosto 01, 2010

Evitar cair numa armadilha

A ideia de fazer convergir, de fazer aglutinar povos então dominados por Portugal em uma organização, não é nova. Terá sido elaborada pelo brasileiro Gilberto Freire. Que se terá deslocado, expressamente, a Portugal para a apresentar a Salazar. O então já velho ditador terá pensado tratar-se de uma modernidade. De algo demasiado progressista para a época. Logo, se não esqueceu, fez por fazer esquecer a proposta. O que, efectivamente, aconteceu. Volvidos anos, já no tempo de Marcelo Caetano, António de Spínola surge a recuperar e apadrinhar a ideia. Com nova roupagem. Como se pode avaliar pela leitura de “Portugal e o Futuro”. Isto, já em finais do Império. Quando era previsível e inevitável o desmoronar do Império. As ideias federalistas, o federalismo defendido pelo general do monóculo não passou de um nado morto. Por fim, anos depois das independências dos territórios ocupados por Portugal, surgiu a CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Que tanto pode ter a ver com tudo o que lhe foi anterior, como pode ter a ver com nada. De verdade, surge, de quando em vez, quem insinua que o “Rei vai nu”.



Cimeiras, reuniões de especialistas, reuniões temáticas, jogos desportivos, não faltam. Multiplicam, como agora se diz, os eventos. Que fazem deslocar, que fazem movimentar, dezenas ou centenas de participantes. De vários pontos, de vários países, para um e único. Para o ponto. Para o local encontro, do evento. Há quem goste e quem não goste deste acontecer. Há quem defenda e há quem defina todos estes aconteceres com puras inutilidades. Por exemplo, o académico português Vasco Graça Moura, em entrevista à Agência “LUSA” que o Jornal “Notícias” reproduziu (edição de 27 de Julho), afirma que a CPLP é uma espécie de organização fantasma “que não serve para rigorosamente nada a não ser ocupar gente desocupada. Diz, depois, que o Instituto Internacional da Língua Portuguesa não está em funcionamento porque nenhum dos países da CPLP lhe dá dinheiro para o fazer. Para o escritor português, o IILP é uma entidade fantasma criada dentro de outra entidade fantasma. Critico do Acordo Ortográfico - e era aqui que queríamos chegar – Graça Moura tece dura crítica ao seu Governo. Devido à ausência de uma política da língua. E, afirma que o Acordo Ortográfico é um atentado criminoso contra a língua portuguesa tal como se fala em Portugal, Angola, Moçambique, na Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Vai mais longe ao dizer que É um atentado que tenta desfigurar completamente a língua e é absolutamente irresponsável da parte de quem negociou e da parte de quem o aprovou. Não aborda, como não lhe interessa nem lhe compete, a questão dos custos financeiros resultantes da assinatura do Acordo. O que deve ser considerado como questão de não menor importância. Nós por cá, por estas bandas do Índico, ainda estamos a tempo de ouvir as vozes sábias e aconselhadoras. Ainda temos tempo para evitar cair no abismo. O bom senso aconselha que se evite dar um passo em falso. Um passo que pode ser fatal. Isto é evitar cair numa armadilha.

domingo, julho 25, 2010

Mais um caso por esclarecer

Continuamos a assistir, a ver, a ler e a ouvir sobre fenómenos de difícil compreensão. De fenómenos que, muitos dos quais, surgem sem explicação lógica. Tomando por base os valores exteriores ao meio onde se desenvolvem. Digamos, mesmo, que há quem tente ver e analisar com olhos de forasteiro, de turista, o que nasce e se desenvolve no interior de determinadas sociedades. Que possuem os seus valores, os seus mitos, os seus ritos, os seus tabus, as suas crenças. Muitas das vezes centenárias. Quando não milenares. E, a partir deste olhar, desta visão ou deste ver do exterior, tentar definir o que é mau ou o que é bom. Para os outros. Para outros. Seus compatriotas. Trata-se, ao que parece, de mero exercício de oportunismo. Político. Quando não, de mera ignorância. Não sobre a modernidade mas sobre os valores da tradição. Que se deve aceitar em movimento permanente e perpétuo no encaminho da modernidade. Até por não poder existir uma modernidade sem ter havido, antes, tradição. Não pode existir um depois, sem tenha havido um antes. A modernidade, sejamos claros, resulta e é o resultado de uma tradição. Que não sendo estática está sempre e em harmoniosa evolução. O mesmo se pode dizer da verdade. Que ninguém se pode arrogar o direito de ser detentor.



Sobre os desmaios, recentes, de alunas de uma escola de Maputo, o assunto parece ter ficado claro. Com a realização de cerimónias tradicionais, com o sacrifício de alguns animais, os desmaios acabaram. Acredite-se ou não, as comunidades locais acreditavam que esta seria a solução. E, até prova em contrário, terá sido. É que elas, como sociedades com valores próprios, talvez secretos e sincréticos, acreditam no que não conhecemos. Logo, não entendemos e, muito menos, podemos explicar. Já nesta semana que terminou, aconteceu outro caso ainda não explicado. Noticiou a TVM, no seu principal serviço informativo do dia 20, terem sido detidos, em Maputo, dois jovens na posse de três crânios humanos. Que, no desenvolvimento da notícia também classifica como carcaças humanas. (sic). Que, confessamente, foram desenterrados no Cemitério de São Francisco de Xavier. Para o agente policial, ouvido na ocasião, o crime parece poder resumir-se a simples violação de túmulos. Pode ser que sim, como pode ser que não. Pode ser, mais este caso estranho, um mero caso de polícia como pode ser que não. Sendo que sim, sendo um caso que cabe, única e simplesmente, na alçada policial, podem e devem colocar-se outras questões. Como, por exemplo, quem eram os destinatários ou quem eram os compradores e a que fins se destinavam os crânios. A busca da verdade, poderá conduzir para a prática de ritos satânicos. Estranho é, também, o caso de um jovem moçambicano que diz ter sido raptado por um sul-africano (Notícias de 22 do corrente). Mas que moradores no seu bairro acusam de envolvimento uma vizinha. A quem destruíram casa, roubaram bens e vandalizaram viatura. Mais um caso policial ou não, estamos perante mais um caso por esclarecer.

domingo, julho 18, 2010

O problema não está na lei

O país tem vindo a ser dotado de vasto leque de legislação. Desde há mais de três décadas. Legislação que abrange variados sectores de actividade e da vida social. Acontece haver muitos e variados casos em que a legislação não é aplicada. Isto, ou por falta de vontade para a aplicar, ou por falta de conhecimento e de preparação para a poder aplicar. Ou, pura e simplesmente por não se aplicável na nossa realidade concreta. Dado tratar-se de cópia, sem qualquer adaptação, do em vigor em outras realidades. Que, em nada pode ser comparável à nossa. Neste campo, apresenta-se como exemplar a imposição do Regulamento do Regime Jurídico do Condomínio. Ainda em vigor. E que se anuncia ir ser revisto. Dentro em breve. Ora, desde já, importa recordar que o referido documento legal não passa de cópia, sem qualquer alteração do que, à época, vigorava em Portugal. A sua aprovação, e posterior entrada em vigor, terão sido um erro. Apesar dos alertas e das chamadas de atenção de várias Comissões de Moradores da cidade de Maputo. Chamadas a pronunciarem-se. E que se pronunciaram com base na sua experiência de vários anos. Numa gestão de baixo custo, voluntária. Hoje ao vir-se a público apontar a necessidade de revisão do referido Regulamento, volta a falar-se em Comissões de Moradores. Que desde então deixaram de ter existência legal. Por as terem julgado como inúteis. Por as terem julgado como um estorvo. Fica a dúvida se a coramina pode ressuscitar mortos. Principalmente por assassinato.


É público estar a ser elaborado um novo Código de Estrada. Esperemos que traga inovações adaptadas à nossa realidade actual. E, sobretudo, que essas inovações e essas alterações sejam amplamente divulgadas antes de entrarem em vigor. Junto que quem tem o dever de cumprir. Mas, também, junto de quem o dever de fazer cumprir. Digamos, em resumo, que o cidadão, o condutor, não deve nem pode constituir presa que quem diz e de quem se arroga saber mais. Quer o condutor quer o agente da Polícia devem possuir o mesmo nível de conhecimento. Se não for assim, se não acontecer assim, de forma alguma poderá diminuir a sinistralidade nas estradas. O que irá acontecer, muito provavelmente, será o aumento do número de armadilhas nas nossas estradas. Por parte de agentes policiais. E a subida do valor dos subornos. De resto, fica uma dúvida. Está em saber se o novo Código irá contemplar a incompetência de quem efectuou a sinalização vertical nas nossas estradas. Ou se, pelo contrário, essa sinalização irá ser corrigida. Como, desde há muito, devia ter acontecido. Para se evitarem as emboscadas, as armadilhas policiais. O nosso problema, em tempo algum, foi um tempo de falta de lei. Sempre foi de falta de vontade em aplicar a lei. Talvez por uma questão de conflito de interesses. Exactamente. Quando e se os interesses pessoais estão e se colocam acima da lei. Por melhor intencionadas e perfeitas que sejam as leis. É que, como todos já percebemos, o problema não está na lei.

domingo, julho 11, 2010

Guerras intestinas

Hoje, falemos de Maputo. De alguns aspectos, de algumas situações que se registam na capital do país. A cidade merece-o. Por outras palavras, merece melhor. Merece que não aconteça muito do que está a acontecer. Assim, e para quem possa ter memória fraca, recordemos, comecemos por recordar o que se passou há alguns anos atrás. No que diz respeito ao chamado combate a tudo quanto era “vendedor de esquina”. Ocupante de passeio. Digamos, desde já, que a intenção e os objectivos a atingir eram bons. Acrescentemos acreditar ter havido seriedade e honestidade no trabalho que era proposto ser realizado. Mas, um trabalho, como tivemos oportunidade de escrever, na época, à partida condenado ao fracasso. Ao falhanço total. Por outras palavras, uma pura perda de tempo e um desgaste desnecessário de energias. Para além do recurso a métodos de actuação que, a todos os títulos, são sempre de evitar Tanto mais que em vez de significarem autoridade representam o contrário. Seja, a sua falta. A falta de capacidade para a exercer. Como o tempo tem vindo a demonstrar. De resto, terá resultado, certamente, da falta de realismo a capacidade para dialogar e para negociar. Para integrar o que é integrável, em vez de combater o que não é possível combater. Nestas circunstâncias, o resultado é, sempre, uma derrota anunciada. Com custos por vezes demasiado elevados. De que é exemplo o que se passa nas proximidades do Mercado Grossista do Zimpeto.



O actual elenco directivo da capital do país, também manifestou a sua intenção de retirar os vendedores dos passeios. Nos seus primeiros tempos de governação. Mas, fê-lo de forma diferente e demonstrado maior abertura ao diálogo. Sem necessidade de recurso à força e, sobretudo, a uma fora canina. Contudo, a verdade é que entre o discurso e a prática medeia o espaço de um oceano. Ou, passe a imagem retórica, fez sinal para virar à esquerda mas optou por virar para a direita. É que, não só nada fez para alterar a situação da ocupação de passeios por vendedores como a agravou. Ao permitir a instalação, nos passeios, de inestéticos quiosques amarelos para a venda de pão. Em várias artérias de Maputo. Agora, mais recentemente, em zonas residenciais, estão a aparecer enormes contentores. Em cima dos mesmos passeios. Importa colocar a dúvida se quem diz combater o vendedor de esquina é a mesma autoridade que autoriza a instalação de quiosques e de contentores. Nos mesmos ou em idênticos locais. Aparentemente, estamos perante uma contradição. Talvez perante um conflito de interesses. Ou, em última análise, perante um conflito entre duas linhas e duas concepções sobre a forma de ocupação dos espaços públicos na capital do país. Entre o pedido para a tomada de medidas correctivas e remoção desses empecilhos à circulação dos pedestres, surge como boa uma outra solução. Consiste na realização de um seminário, de preferência em estância turística com vista para o mar, em que participe quem quer pretende retirar os vendedores dos passeios e quem autoriza a sua ocupação desordenada. Com esses monstros de ferro. Bom seria chegarem a um entendimento. E resolverem essas vossas guerras intestinas

domingo, julho 04, 2010

Mendicidade fomentada

Na nossa sociedade, como em todas, no geral, são gerados e desenvolvidos fenómenos nem sempre fáceis de entender. Logo, de explicar. Por assim, se assim, necessitam de explicação aprofundada. Profunda. Por quem tenha capacidade, conhecimento, engenho e arte para o poder fazer. Digamos, também, o dever institucional de fazer mais de quanto tem feito. E de divulgar publicamente as conclusões a que chegou. E, a partir destas, as medidas tomadas, as medidas a serem postas em prática. Para corrigir e alterar situações que se apresentam como anormais. Que podem ser consideradas como anormais. Mas passíveis de ser modificadas. Corrigidas. Partindo do princípio que o homem, o ser humano, tem essas capacidades. Essas capacidades para corrigir, para modificar, para alterar. Para, assim, evitar e sair do imobilismo. Condição primeira para sair da dependência. Mesmo quando tal signifique criar dependências. Gerir dependências.


Vivemos num país dependente de donativos. Vivemos num país que luta por se libertar dos donativos externos. Mas, vivemos, também, num país onde pedir pode transformar-se em cultura. E, cultura do Estado, que o discurso oficial não consegue ofuscar. Mas, também, ou por isso mesmo cultura do cidadão. Não será, certamente, por mero acaso que, hoje, neste tempo presente, há um cada vez maior número de crianças, de idosos e de deficientes físicos a pedir nas artérias de Maputo. Não só de Maputo, como na maioria dos centros urbanos. Pedir, passou a ser normal. Seja com que pretexto, como que argumento. Seja para pagar o “chapa”, seja para comprar um pão, seja para comprar caderno ou lápis. Não raras vezes, comprovadamente, a moeda entregue através da janela nem visa nenhum desses objectivos. Serve, simplesmente, para jogos de batota na berma de um qualquer passeio. E, sem receio de erro, sem muita margem para erro, a culpa é, em primeiro lugar de quem dá. De quem dando, com a simples intenção de ajudar, pode estar a alimentar o que bem se pode definir como a “indústria da pedinchice”. É que, bem vistas as coisas, a quanto maior número se dá uma moeda, maior número surge a pedir no mesmo local. Nos dias ou nas semanas seguintes. Dizer que um pedinte que desenvolva a sua actividade em cruzamento ou esquina estratégica na capital do país, arrecada, por dia, muitas centenas de meticais. Por mês, muitos salários mínimos. Em igual período de tempo, vários salários de um professor primário ou de um enfermeiro. Sem outro esforço, sem outro conhecimento, sem outra necessidade de saber que vá para além do estender da mão. Aparentemente, estamos perante grupos organizados e fortemente hierarquizados. Que podem, muito bem, quase de certeza, obedecer a um comando. Que podem, muito bem, obedecer a um comando dirigido por estrangeiros. Que, pretensamente, dizem estar a combater o trabalho infantil. Mas que sem números, sem estatísticas, verdadeiras ou falsas, sobre o número de pedintes, deixam de ter razão para existir. Perdem o emprego. E, os chorudos salários. Daí, como necessidade de sobrevivência, terem como solução fomentar a mendicidade. Compete a nós investigar e esclarecer, internamente, se estamos perante casos de pobreza ou de mendicidade fomentada.

domingo, junho 27, 2010

Esconder uma mentira por detrás de meia verdade

É bom fazer-se leitura atenta de quanto é jornal ou notícia impressa. Assim como escuta de rádios e de televisões. Trata-se de matérias sobre as quais muito se poderia, e pode, escrever. Não só comentários, opiniões pessoais. Mas, também, compêndios. Talvez, até, teses de doutoramento. No mínimo, estudos comparativos. De facto, há por aí notícias e programas televisivos para todos os gostos. E paladares. O que permite a liberdade de lhes atribuir uma classificação. Se assim, poderá dizer-se que uns são bons. Outros, nem tanto. Alguns, maus. Para não ter de escrever medíocres. Acontece isto, acontece assim, em todas as televisões e em todos os géneros. Do recreativo e do informativo ao musical. Aqui, neste último género de programas, estamos perante aquilo que se poderia definir como um “vale tudo”. Onde o que conta é quem tem as saias mais curtas. Quem insinua que, num próximo programa, até poderás ver a cor das cuecas das apresentadoras. Ali, é a tentativa de transformar artistas, em início de carreira, em vedetas. Através da manipulação de imagens de uma determinada situação. Imagens essas, aparentemente, conseguidas através de uma câmara oculta. O que poderá ser considerado ilegal. Por fim, temos o que não será menos significativo. Em termos de mediocridade. Obviamente. Trata-se de um programa, também dito musical. Ou, se se preferir, classificado como de entretenimento. Chato e de duvidosa qualidade. No decorrer do qual o apresentador faz gala em abrir uma garrafa de champanhe. Para brindar com o seu convidado do dia. Sem pretender elaborar sobre o assunto, por desnecessário, que seja o leitor a tirar, por si, a sua conclusão. Cá por mim, direi, apenas, “sem comentários”.



Ainda neste campo, do que parece e é e do que parece e não é, há por aí muitas tentativas de distracção. De manipulação. É assim que se assiste á publicação de comunicados das mais diversas instituições como verdades. E sem nenhuma investigação jornalística. Sendo, igualmente, verdade que a lei não obriga a publicação desses textos. O que a lei define, salvo melhor interpretação, é, isso sim, quem pode emitir comunicados oficiais. E quem tem a obrigatoriedade de os divulgar. Mas, nunca, e em tempo algum, documentos aparentemente apócrifos. Como o poderão ser esses que as Alfândegas, periodicamente, fazem chegar às Redacções. É que, espera-se mais, exige-se mais de uma instituição do Estado. É que, não satisfaz a ninguém dizer-se os valores, sonegados ao Estado, que foram cobrados. Resultantes da importação de mercadorias diversas por operadores públicos e privados. (Notícias, 24 do corrente). Estamos em acreditar, estamos em crer, que esses operadores públicos e privados têm nome e estão identificados. Que estão domiciliados em Moçambique. Da mesma forma que temos como verdade não ser possível combater o contrabando protegendo os contrabandistas. Sejam eles quem sejam. Não se trata, aqui, de prender primeiro para investigar depois. Trata-se, simplesmente, de divulgar os nomes dos contrabandistas. Dos seus agentes e das viaturas que utilizavam. As quantidades e os tipos das mercadorias aprendidas não passam de dados acessórios. É velha, tem barbas brancas, a táctica de tentar esconder uma mentira por detrás de meia verdade.

domingo, junho 20, 2010

O último álibi


Há notícias que nos surpreendem. Que nos causam surpresa. Que não esperávamos ouvir ou ler. A avaliar pelas informações que nos haviam sido fornecidas anteriormente. Outras, não. Outras notícias não causam surpresa. Por já havermos sido preparados para as receber. Será, é, como ficarmos a saber o que já sabíamos. E, o que já sabíamos, o que há muito tempo era público, é que as obras do Estádio Nacional e do Aeroporto Internacional de Maputo não iriam ficar concluídas antes do início do Mundial de Futebol. Um Mundial que foi o motivo alegado para justificar ambas as construções. Muito em nome do turismo. Pouco em nome do realismo. Afinal, por este ou por outros motivos, Moçambique recebeu, para estágio, selecção nenhuma. Turistas, até momento, menos ainda. Ora, se assim, se ambas as construções não foram concluías em tempo útil, deixaram de poder cumprir com os objectivos que as motivou. Comprovadamente, revelaram-se inúteis em relação a esses objectivos. Concluamos, pois, que algo terá falhado. Em termos de prazos, de objectivos. Muito por acaso, de estratégia. E, neste domínio, os erros podem ter custos muito elevados. Como, aliás, sucede no desporto, em geral. E, no futebol, em particular.


Quem será ou não será o futuro seleccionador nacional de futebol, parece ter deixado de ser notícia. Logo, aqui já não há surpresa. Notícia e surpresa mudaram-se, agora, para as bandas do hóquei em patins. Modalidade, tal como o futebol, de nível mundial. Já profissionalizada e que não admite improvisações. Muito menos erros de percurso, falta de cumprimento de metas e de prazos. Ou seja, situações que, internamente, na nossa realidade nacional, foram definidas como “deixa andar”. Pois bem, o facto que causou surpresa, a notícia que surpreendeu refere-se a ter sido retirada a Moçambique a realização do próximo Mundial de Hóquei. Trata-se de uma decisão da Federação Internacional da modalidade. Com base na falta de garantias oficiais por parte dos organizadores, com particular ênfase para a remodelação do recinto de jogos, como principal razão para tal decisão. No mesmo documento, a FIRS revela não ter tido respostas por parte da FMP às petições que lhe foram sendo feitas durante o processo de organização. (Notícias de 17 do corrente). Posição que, a nossa federação da modalidade, no imediato, contestou. Dizendo que vem cumprindo com todos os prazos, mesmo ao nível da renovação das infra-estruturas (...). Acrescentando, em sua defesa, vários outros argumentos. Que, todos nós, gostaríamos venham a ser convincentes. Para alterar a referida decisão. Caso tal não venha a acontecer, caso tal não venha a ser possível, pode ser sintoma de que algo vai mal no nosso desporto. Que o desporto nacional está doente. A menos que se tente e consiga provar que não. E que um novo profeta da verdade nos venha tentar iludir com uma actualizada e inédita teoria da conspiração. Será um último recurso. O último álibi.

domingo, junho 13, 2010

Uma questão de dignidade nacional

Andam turvas. Parece que estão cada vez mais turvas as águas em que navegam os mandantes do futebol nacional. Mais precisamente, ou talvez, as águas que procura manter-se à tona o respectivo presidente federativo. Temos de ter presente o que parece ser elementar. E, o que parece ser elementar, aqui, é que a federação não tem dono. E que não tendo dono, não tendo um único dono, não pode ser gerida nem administrada como o podem uma machamba, uma mercearia ou uma papelaria. Como tal, não pode estar à mercê de vontades individuais. Tem, isso sim, a federação, órgão dirigentes. Colegiais e colectivos. Entre os quais uma direcção. Que, ao que se sabe, é um órgão colectivo. E que, como tal, como colectivo deve funcionar. E, tomar decisões. Depois de devidamente ponderados todos os factores que as justifiquem. Que as fundamentem. Se assim, é aqui que se deve colocar a questão fundamental. A questão de saber se o dar por findo o contrato com o antigo seleccionador nacional, se a não renovação do seu contrato, cabe nas competências de uma única pessoa. E, de igual forma, se essa mesma pessoa tem poder bastante para decidir, por si, sobre a quem entregar os destinos do “onze” nacional. Cujo passado, cujo currículo, só poucos conhecem.


Pode dizer-se que não terá sido bem vista, por alguns sectores, a intervenção do ministério de tutela nesta questão. Nesta questão da contratação do novo seleccionador nacional. Bem vistas as coisas, no mínimo, foi oportuna. E teve o mérito de evitar erros futuros. Mas, muito mais, e sobretudo, de não permitir o avançar para uma aventura. Que antes de antes do mais, logo à partida, se prognosticava como desastrosa. Como um descalabro total, como um recuo dos poucos passos em frente até agora dados. Indo em frente, há que estabelecer novas metas. Há que traçar planos de trabalho. Há que definir objectivos a serem cumpridos pelo seleccionador e pelos jogadores. Como exigência nacional. Mesmo quando, ou principalmente, tal possa contrariar algumas agendas pessoais. Mesmo quando tal possa contrariar interesses pessoais. É que, o futebol nacional, como na maioria dos países, exige profissionais competentes. A todos os níveis. Por se ter transformado numa indústria e numa máquina que movimenta e que faz movimentar elevadas somas de dinheiro. Logo, não se compadece, nem podemos permitir que se compadeça, com estas guerrilhas internas. Caseiras. Trata-se, em última análise, de uma questão de prestígio. De uma questão de dignidade nacional.

domingo, junho 06, 2010

Por aqui há muito fumo

Em Moçambique verificam-se situações para as quais parece difícil encontrar explicação. Como, certamente, em muitos outros países do mundo. Mas que em nada tem a ver com a actual globalização. Neste campo, nesta área, todos percebemos um pouco. Talvez muito pouco, quase nada. Digamos, mesmo nada. A questão está em que admitir, em que aceitar, que sabemos nada é, em princípio saber. Saber que se sabe o que não se sabe. E de uma forma geral, todos sabemos muito mais e muito mais além do que julgamos saber. Ou, em outros casos, ficamos situados em campo inverso. O do não saber. O que é, em si, um saber. Talvez, mesmo, o saber absoluto. Já não o saber de quem afirma saber. Mas o saber do sage. A sageza. Recuemos, então, não muito, no tempo. Interroguemos e perguntemos sobre o desfecho final do caso desse grupo de estrangeiros que sequestrava jovens rapazes numa residência em um bairro de Maputo. A título de lhes dar educação. Interroguemos e perguntemos, também, sobre o desfecho final dos casos dessas dezenas de jovens que estavam a ser transportados do norte para o sul do país. Para estudar. Em madraças. Felizmente, nos tempos que correm, nem tudo é mau. É que, de acordo com o noticiado, o sacrifício de dois bois e de dois cabritos foi suficiente para acabar com os desmaios de alunas em uma escola de Maputo. Em tempos idos, recorde-se, a edificação de templos de certas religiões, implicava o sacrifício de seres humanos. De crianças. Depois, as crianças terão sido substituídas por animais. Mas, em última análise, não terá sido eliminado o sacrifício. O cabrito e o carneiro, em situação inversa a vaca, sustentam o mito. Fazem parte de tradições. Ancestrais. Que os povos transportam na sua memória colectivas. E que o tempo poderá nunca fazer esquecer.


Recuando para tempos mais recentes, continuamos por conhecer as causas e as circunstâncias de duas mortes, violentas. Primeiro, de um agente alfandegário. De um homem que tinha por missão combater o crime Depois, de um chamado “perigoso cadastrado”. Acresce, a quanto se disse, a divulgação, na África do Sul, da existência de campos de treino da Al-Qaeda em Moçambique. A seguir, a explosão de um estabelecimento comercial na cidade da Beira. Donde terão sido retiradas, antes, mercadorias de valor. Por fim, a notícia de que Em 1 de Junho de 2010, o Presidente dos Estados Unidos identificou o cidadão moçambicano, Mohamed Bachir Suleman (“MBS”), como traficante de narcóticos estrangeiro significativo ou “barão da droga”, de acordo com a “Lei de Designação de Barões da Droga Estrangeiros”. Sendo facto que, de imediato, tanto o Presidente da República, a partir de França, como o MBS, tenham tomada posições de distanciamento sobre o noticiado, tal não invalida a exigência de uma investigação séria, nacional, sobre o divulgado a partir do estrangeiro. E, se, por hipótese, existe alguma relação entre as mortes e os factos das notícias. Parece ser necessário ter presente que, como se diz, não há fumo sem fogo. E que, por aqui há muito fumo.

domingo, maio 30, 2010

Por morrer uma andorinha, não se acaba a Primavera

A morte, ou, talvez melhor, as circunstâncias e o local da morte de Agostinho Chaúque, classificado como perigosos cadastrado, promete polémica. Aliás, já iniciada. Neste momento, várias são as versões vindas a público. Muitas as dúvidas levantadas. A que se podem vir a juntar muitas outras mais. Ao certo, de concreto, parece não levantar dúvidas três questões. Apenas três questões. Ou, três factos. O primeiro, de que foi morto a tiro. O segundo, que o seu corpo foi encontrado, sem vida, algures na cidade da Matola, no interior de uma viatura abandonada. O terceiro, que os seus restos mortais foram a enterrar no Cemitério de Lhanguene. Mas, e esta parece ser questão de fundo, até se chegar aqui fica muito por esclarecer. Há muitos vazios. Há muito espaço vazio, não preenchido. Por nada nem por coisa nenhuma. Trata-se, contudo, de um espaço e de um tempo onde, inevitavelmente, algo aconteceu. Ou, muito aconteceu. A avaliar pelo que tem vindo a ser dito e escrito. Também questionado. E, convenhamos, com toda a lógica. É que enquanto não se esclarecer, de forma convincente, o que sucedeu no espaço de tempo que existiu entre uma cena de tiros, na zona do Jardim dos Professores, e o encontrar do corpo, sem vida, fica um mistério. E, muito por hipótese, o decifrar de um enigma. Até aqui, nada permite compreender como agentes policiais, que disparam sobre membros de uma quadrilha de assaltantes de viaturas, permitam a sua fuga. E que tenham tempo de fazer transportar consigo um dos alvejados. Cabe aos criminologistas esclarecer.


A morte de Agostinho Chaúque, mereceu destaque de primeira página no jornal “Notícias” (edição de 25 do corrente). Titula o matutino, Agostinho Chaúque encontrado morto. E, inicia o texto escrevendo que o Considerado perigoso cadastrado Agostinho Chaúque foi na noite do último domingo encontrado morto no interior de uma viatura, abandonada na cidade da Matola. E, depois de descrever as circunstâncias e o local onde terá sido baleado, acrescenta a versão policial. Para o jornal “Zambeze”, a morte do cadastrado terá sido um golpe de sorte e não o resultado de uma “Operação Planificada” da Polícia. Já, por si, o “Magazine Independente” interroga se a Morte de Agostinho Chaúque significa fim do crime violento ou alívio para polícia?. A resposta à questão colocada por este semanário, não pode ser uma resposta acabada. Melhor dizendo, não existe. Faz parte do devir e virá com o tempo. Virá depois de esclarecidas, em primeiro lugar, as circunstâncias do tiroteio e do transporte do baleado até à cidade da Matola. E, depois, se o tal perigoso cadastrado era, de facto, o celebro de uma quadrilha, ou não. Por hipótese de investigação, poderia ser apenas um simples executante. A mão ou o braço comandado por um outro cérebro. Seja qual venha a ser a resposta, parece oportuno recordar o que disse o poeta: Por morrer uma andorinha, não se acaba a Primavera.

domingo, maio 23, 2010

Presença e visibilidade da Polícia nas estradas

Como todos sabemos, os números são assustadores. Referimo-nos aos números de acidentes de viação e de mortos nas nossas estradas. Segundo o jornal “Notícias” (edição de 20 do mês corrente), mais de 1800 pessoas perderam a vida, durante ao ano de 2009, em acidentes rodoviários. Escreve o matutino que Moçambique perde anualmente cerca de 80 milhões de dólares norte-americanos, em consequência de acidentes de viação, valor que no mesmo período serviria para a compra de medicamentos, vacinas, reagentes e testes para análises laboratoriais, radiografias, consumíveis como seringas, agulhas, cateteres, sondas nasogástricas, entre outros. Estes dados foram revelados na véspera (dia 19), pelo Primeiro-Ministro. No Parlamento e em resposta a questões colocadas pelos deputados. Mais terá dito o governante, que em 2008 morreram morrerem nas estradas 1529 pessoas. Logo, terá havido, entre 2008 e 2009, um agravamento de cerca de 20 por cento. Os deputados foram, também, informados que, para minimizar a situação, o Governo adoptou dois planos, sendo o primeiro denominado “viaje seguro”, que foi implementado de Maio de 2009 a Maio deste ano, cujo objectivo principal era sensibilizar os utentes das vias públicas para a obediência das regras de trânsito a acções enérgicas contra os prevaricadores. O segundo plano, com o nome de “Plano Velocidade”, a vigorar desde 16 do corrente mês a 16 de Agosto de 2010, tem como objectivo a fiscalização do trânsito rodoviário com enfoque na velocidade e o teste de álcool nos condutores. Parece importante dizer, desde já, que em termos de planos nada poderá haver mais perfeito. Mas, também e assim, que importa confrontar os planos com a realidade.


Com todo o respeito pelas palavras e pela opinião do Primeiro-Ministro, importa deixar claro que o país não pode viver e ser governado com base em planos. Planos que, conforme a constatação feita perante os deputados, em nada contribuíram para atenuar ou resolver o problema. Pelo contrário. Pelo contrário. Registaram-se mais mortes nas estradas em consequência de maior número de acidentes de viação. Logo, conclusão lógica, ou os planos foram mal elaborados ou não foram devidamente executados. Talvez ambas as coisas. Aos agentes da Polícia e à Polícia como corporação, não se pedem campanhas. Exige-se uma presença e uma acção permanentes. A falta de meios para actuar volta a ser um falso problema. Uma simples desculpa. Talvez seja necessário enfrentar o problema da sinistralidade nas estradas com novas e diferentes perspectivas. A começar pela reciclagem e moralização dos agentes de trânsito. Passando pela eliminação dos chamados “cinzentinhos” do controlo da circulação automóvel. Acabando, definitivamente, com a prática, usual e corriqueira, de agentes que fazem emboscadas escondidos debaixo de árvores. E que se fazem transportar em viaturas com matrícula civil. Ou, em muitos casos, sem chapa de matrícula. Os agentes da polícia, no cumprimento da sua missão, devem ter visibilidade. Devem assumir que estão a cumprir um dever. O seu dever. É facto que, sobre acidentes rodoviários, muito mais é possível acrescentar. Desde a desastrada e desastrosa sinalização vertical na EN1, até aos buracos e às crateras já existentes nesta via, recentemente reabilitada. Fruto de desleixo, de deficiente fiscalização do dono da obra. Por hipótese, a não excluir, de corrupção. Inverter a actual situação da sinistralidade automóvel, não se resolve com planos de gabinete. Que ninguém conhece. Exige presença e visibilidade da Polícia nas estradas.

domingo, maio 16, 2010

Talvez uma tempestade num copo de água

Há notícias que não podem deixar de motivar alguma reflexão. Em relação às quais devem ser colocadas dúvidas. Sobre a sua veracidade, sobre a sua autenticidade. Bastas vezes acontece, uma declaração de um qualquer responsável ser divulgada como verdade absoluta. Única e definitiva. Por isso, por esse motivo, sem necessidade de investigação. Ao que parece, uma prática que tende a tornar-se comum. Da mesma forma que tende a generalizar-se o fazedor da notícia esconder a sua opinião. Camuflar a sua opinião por detrás de frases como segundo fonte anónima, fonte autorizada, fonte bem colocada. E outras do género mais ou menos de belo efeito. Como, por exemplo, cognominar assassinos, ladrões, traficantes, causadores de acidentes de viação, como supostos. Expressões, ao que parece, a todos conforta, todos aceitam. Mesmo quando haja testemunhas oculares dos factos, do crime, da violação da lei. Mas, nesta questão dos supostos, haverá excepções caso se trate de linchamentos ou de agente da autoridade. Agindo em defesa própria ou para impedir a violação da lei.

Foram, de algum modo, espalhafatosas e controversas as notícias sobre a doca flutuante encontrada à deriva na zona costeira de Inhambane. Digamos, mesmo especulativas. Sobre o conteúdo dos treze contentores que se encontravam a bordo. Como se, contivessem eles matéria radioactiva, fosse difícil afundá-los no Canal de Moçambique. Sem deixar pistas, sem testemunhas oculares, sem qualquer espécie de pista. Mais célere do que as autoridades competentes terá andado a população local. Que, por sua conta e risco, terá violado dois dos contentores. Onde terá encontrado, ao que foi noticiado, material de construção. Entretanto, foi noticiada a prisão de dois sul-africanos, que tentavam aproximar-se da plataforma e do seu sobrevoo por hélios. Agora (“Notícias” de 13 do corrente), ficámos a saber que Um grupo de empresários estrangeiros, cuja proveniência não nos foi revelada, está desde a última segunda-feira a negociar com o Instituto Nacional da Marinha a libertação da doca flutuante que se encontra à guarda das autoridades moçambicanas à cerca de uma semana (...). Sem identificar a nacionalidade dos empresários, que se dizem proprietários da plataforma, a local informa que o navio que a rebocava teria largado da China com destino à Guiné-Conacry, tendo feito a última escala em Singapura antes de se desligar da doca. Esperemos pelo fim da história e pelo resultado das investigações em curso. Até ao momento tudo não terá passado de um falso alarme. Talvez uma tempestade num copo de água.