segunda-feira, outubro 04, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 3 de Outubro, 2004


antes e depois

Luís David


a continuação da paz é possível


Assinala-se, amanhã, mais um aniversário da assinatura dos Acordos de Roma. É uma data que se junta a muitas outras da história recente de Moçambique. É uma data que significa paz. E que tem a particularidade de, no acontecimento que deu origem à comemoração, ter sido protagonizada por dois moçambicanos, ambos vivos. Um, Joaquim Chissano, que está prestes a deixar a Presidência da República. O outro, Afonso Dhlakama, candidato ao lugar que vai ficar vago. E, foi há poucos dias, quando procedeu à entrega dos documentos para a sua candidatura a Presidente da República, que o presidente da RENAMO fez questão de deixar claro que a paz será um dado adquirido. Irreversível, como todos desejamos. Disse, na ocasião, aceitar os resultados das próximas eleições, sejam quais venham a ser. Como teve palavras elogiosas para com o actual Governo dirigido pela FRELIMO. Mais, palavras de reconciliação. Ou, se assim o quisermos entender, uma postura de Estado. Esperemos, e façamos votos, para que as cerimónias do dia de amanhã confirmem, venham confirmar as previsões de hoje e garantir um futuro de paz. Ou a paz no futuro. O que podendo parecer não é, exactamente, a mesma coisa.


Com a assinatura dos Acordos de Roma, Moçambique entrou numa nova era. Criadas as condições para a paz, assumida a paz como um bem, foi possível caminhar no sentido da reconstrução e do progresso. Mesmo que relativo, mesmo que mitigado. Aspecto importante e fundamental, é o de ter passado a ser possível a circulação de pessoas e de bens por todo o país. Salvo raras excepções e em zonas bem definidas. Que bem podem, num futuro imediato deixar, também, de ser excepção. O que não impede o entusiasmo com que se fala no desenvolvimento do turismo. Uma indústria que, como todos sabemos, pode vir a ser importante fonte geradora de divisas. Motivo de preocupação é, isso sim, o registos de assaltos, com armas de fogo, a viaturas que circulam por estradas do Sul do país. Principalmente na Nacional 1 e 4. Hoje, informação que passa boca-a-boca ou enviada por correio electrónico, aponta locais dos assaltos, métodos utilizados pelos assaltantes, marca e cor das viaturas em que se fazem transportar. Por estranho que pareça, até ao momento, a Polícia de Trânsito não divulgou nenhum alerta, não emitiu nenhuma informação sobre cuidados a ter em zonas consideradas de circulação perigosa. E, já teve suficiente tempo para o fazer. Esperemos que não seja necessário a perda de vidas humanas para a tomada de medidas que situação aconselha. A paz, convenhamos, não é só a ausência da guerra. Muito menos poderá ser um processo unilateral. A paz só é possível se for um processo global. E, os últimos sinais indicam que, se todos quisermos, a continuação da paz é possível.