sexta-feira, abril 01, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Março 27, 2005

antes e depois

Luís David


saber a quem serve a versão do que foi divulgado


Todos nós, todos os dias, desejamos saber mais, mais e mais, sobre todos ou sobre determinados assuntos. A multiplicidade de órgãos de Informação facilita e permite, pelo menos em parte, a satisfação deste desejo, desta apetência. Pelo menos, partamos do princípio que sim, de forma teórica. É que, as diferentes abordagens, as diferentes perspectivas de análise, a forma diferente como cada qual se coloca e aborda um mesmo assunto, um mesmo tema, permite, naturalmente, ao leitor, uma mais ampla visão sobre a mesma questão. Mas, atenção. Cuidado. Tenhamos sempre presente um princípio que parece fundamental. Que é geral e parece válido em todo o país do mundo. A informação que nos é dada, a informação a que nos é permitido ter acesso serve, em primeiro lugar e, quase sempre exclusivamente, a quem a divulga ou permite que seja divulgada. Digamos que, só depois ao destinatário. Digamos que, também e de forma resumida, a informação tornada pública serve, sempre e em primeiro lugar, a quem tem o poder para a tornar pública. E, só depois e eventualmente a quem a ela tem acesso. Logo, a informação que nos é disponibilizada, a informação a que nos é dado acesso, é apenas uma parte da informação existente. É a parte da informação que interesses ou poderes financeiros, económicos, políticos, desportivos, religiosos, e outros, entendem que devemos conhecer. Por servir, de forma objectiva, os seus interesses particulares.


A nossa Justiça parece ter-se colocado, ou querer colocar-se, perante mais uma situação a que podemos chamar de mediática. E, convenhamos, o mediatismo nem sempre joga a favor da Justiça. De uma Justiça ponderada, que se pretende justa. Afirmemos, desde já, que o início do processo de acareação de “Anibalzinho” com outros condenados no chamado“ caso Carlos Cardoso”, deixa algumas dúvidas sobre a sua seriedade. Isto a avaliar pelo que, no imediato, veio a público. É que, e para começar, enquanto se diz e escreve que jornalistas e advogados foram escorraçados, impedidos de ter acesso a locais a que desejavam ter acesso, a que se julgam com direito a ter acesso, por outro, publicam-se relatos, quase minuciosos, do que se terá passado no interior de uma sala a que todos dizem não ter tido acesso. A que dizem ter sido impedidos de aceder. Ora, se de facto foi, como perece ter sido, impedido o acesso de jornalistas e de advogados às instalações onde decorreu a acareação, fica a questão de saber como terá sido possível saber o que foi tornado público. E, aqui, as hipóteses parecem ser poucas. Ou o jornalista inventou o que escreveu, o que se apresenta como hipótese pouco provável, ou escreveu o que alguém lhe disse para escrever, por alguém que tendo assistido à acareação está interessado em tornar pública a versão que veio a público. E, não, exactamente, outra. Embora possa ter pouco ou nada com a realidade, possa nada ter a ver com o que se passou no interior de uma sala a que poucos tiveram acesso. E que possa, ainda menos, ter a ver com a Justiça que se pretende seja feita. Embora, em última análise, possa ser pouco importante saber como e por quais vias veio a público o que veio a público, há um aspecto que deve merecer reflexão. E que constitui preocupação. A preocupação, muito natural e muito legítima, de saber a quem serve a divulgação do que foi divulgado. O que pode levar a firmar que é preciso saber a quem serve a versão do que foi divulgado.