sábado, março 04, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Fevereiro 26, 2006

antes e depois

Luís David

uma responsabilidade acrescida

Secas, inundações, terramotos ou maremotos, são fenómenos naturais. Que, com maior ou menor frequência, que com maior ou menor gravidade, acontecem um pouco por todo o mundo. Que tingem e afectam países ricos e países pobres. Hoje, se é possível saber, com alguma antecedência, os efeitos de fenómenos como o El Nino ou El Nina, o mesmo parece não suceder no que respeita a terramotos e a maremotos. Reside ainda, certamente, na memória de muitos de nós a recente catástrofe que atingiu vários países asiáticos. Sobretudo as imagens das ondas gigantes a arrastarem vidas humanas e a destruírem estâncias turísticas, residências, florestas, centros urbanos. Perante o desespero, a incapacidade e a impotência dos humanos para fazer frente e contrariar a força dos ventos e fúria das águas. Em situações destas, em situações deste género, o homem age, invariavelmente, á posteriori. Para acudir, para salvar, para dar assistência às vítimas. Para reparar os estragos, também. Em alguns casos, convenhamos, estes fenómenos são previsíveis por antecipação. Com maior ou menos margem de tempo. O que geralmente acontece, é que não é possível prever é quando irão acontecer, que regiões irão afectar com maior intensidade. A ciência, hoje, pode conhecer o que se passa no fundo dos mares ou no interior da terra. Mas, pouco mais do que isso.


Moçambique foi, esta semana, atingido por um tremor de terra. Felizmente, com um reduzido número de vítimas mortais. Mas, que terá causado susto e medo, a muitos milhares de pessoas, nas principais cidades do sul do país. Também ansiedade e nervosismo. Embora precipitação e falta de calam não sejam bons conselheiros em situações do género. Daí o ter andado bem o Conselho de Ministros quando, após reunião de emergência, no mesmo dia do sismo, veio a público apresentar um primeiro balanço dos estragos. De forma calma, serena e convincente. Assim como anunciar medidas para o futuro. Não menos importante foi, horas depois, quando ainda havia o receio de réplicas do primeiro sismo, o Presidente da República ter vindo a público aconselhar calma e serenidade, ter vindo deixa uma mensagem de solidariedade Para trás, ficavam momentos de ansiedade e de desespero para muitos. Isto a avaliar por relato jornalístico. Ora, não podem, não devem, no mínimo, rádios e televisões informar quando não possuem dados concretos para o fazer. Num momento de grande tensão, isso seria fazer aumentar a confusão, talvez, mesmo, gerar o pânico. Parece fazer pouco sentido querer comparar o impacto da informação transmitida por estações estrangeiras com o das estações nacionais. Nesta, como em muitas outras situações, às estações de rádio e de televisão nacionais não é permitido falhar. Não é permitido especular. Precisamente, por terem uma responsabilidade acrescida.