domingo, abril 15, 2012

Todos nós somos diferentes

O chamado “dossier Cahora Bassa” parece ter sido encerrado. Finalmente. Embora os seus contornos possam não ser muito claros. Pelo menos publicamente. Quem cedeu e em que áreas, só o tempo o dirá. De qualquer forma, a importância do acordo ou do acordado, justificou a vinda do primeiro-ministro de Portugal a Moçambique. Mais concretamente a Maputo. Pena não tenha ido ao Songo, a Cahora Bassa. Para aí assinar com o Presidente moçambicano os documentos que rubricou na capital do país. Os motivos para tal posição podem ser vários. E, serão com certeza. Um dos quais, o de não querer mexer mais, de não querer reavivar feridas antigas. Já que, ao que agora, de quando em vez por aí se diz, o empreendimento nunca teve qualquer objectivo social nem económico. Trata-se, aqui, de uma versão que não passa de uma tentativa de branqueamento da história. É bom recordar aquilo que todos sabemos. A ideia que presidiu à construção da barragem teve como objectivo a estratégia militar do exército português na época. Que visionava poder travar o avanço da guerrilha para o sul do Zambeze. E através da construção de um conjunto de mais cinco barragens até ao Índico, estabelecer, assim, uma linha de água artificial, partir Moçambique em dois e criar condições para a fixação de um milhão de colonos. O general Kaúlza de Arriaga, em várias ocasiões e em vários espaços elaborou sobre este projecto megalómano e lunático. Que nunca viria a concretizar-se. Segundo o que já foi divulgado, o primeiro ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, ainda virá este ano mais duas vezes a Moçambique. Uma, para participar na Cimeira da CPLP. A outra, por motivo da realização da Cimeira bilateral Moçambique – Portugal. É sempre bem-vindo quem vem por bem. Façamos votos para que da mesma forma como soube concluir com êxito as complexas e melindrosas negociações sobre Cahora Bassa, nos traga novidades sobre outras áreas. Como, por exemplo, a do Acordo Ortográfico (AO). Nem que seja para nos vir dizer o que já muitos sabemos: Que se trata de uma aberração linguística e de uma monstruosidade jurídica. Em relação a cada um de todos os abrangidos por imposição brasileira. Estranha imposição, aliás. Até porque as línguas não tem dono. Têm, isso sim, falantes. E falantes que a falam e recriam de acordo com realidades especificas. Realidades e necessidades de comunicação locais. Indígenas. De resto, não deve ser por uma qualquer vaidade pessoal ou presidencial que os dicionários instalados nos computadores reflectem essas realidades e essa versatilidade. É assim que aí, nesses dicionários, por exemplo, as línguas francesas e inglesa, apresentam, cada uma mais de 15 versão. Tal como o são escritas em diferentes países. E nas quais todos se entendem. Sem necessidade de terem de recorrer a chauvinismos. A imposições dogmáticas. Para não ter de dizer mais, de ir mais além. Não se esqueçam de um direito fundamental inerente à natureza humana. Não se trata do direito, que não existe, de ser igual. Trata-se do direito de ser diferente. E todos nós somos diferentes.