quarta-feira, agosto 10, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique, no Jornal Domingo de Agosto 7, 2005


antes e depois

Luís David


trabalho não significa emprego


A maioria dos distritos da província de Maputo e do sul de Gaza são, essencialmente, agrícolas. Ou, melhor dizendo, agro-pecuários. Todos o sabemos, durante décadas abasteceram as populações dos principais centros urbanos do sul do país. Excepto, talvez, em batata reno. Depois, veio a guerra.. Já durante a guerra, em anos distantes mas, também recentes, o Chókwé continuava a produzir significativas quantidades de tomate. E de outros produtos agrícolas. Que eram escoados, que chegavam a Maputo, escoltados por blindados militares. Certamente, com elevados custos financeiros. Depois, terá havido uma viragem, uma abertura, ou uma necessidade de, aos países vizinhos, donde passou a ser importado tudo e nada. Até do que produzíamos internamente e corria o risco de apodrecer nos campos de produção.


O conflito de interesses que estalou, recentemente, entre pequenos e grandes produtores de tomate da zona do Limpopo e importadores informais, veio trazer à superfície um problema a que o Governo, desde há muito, vinha fechando os olhos. Vinha ignorando. E que é o da necessidade, e da obrigação que tem, de proteger os produtores nacionais. Principalmente, os chamados pequenos produtores. É que, não faz qualquer sentido continuar a permitir a importação de um vasto conjunto de produtos que são produzidos internamente em significativas quantidades. Mas que, na maioria dos casos, não encontram escoamento dos locais de produção para os de consumo. E, aqui, para além do tomate, podem mencionar-se a manga, a papaia, o abacaxi, a banana, a pêra abacate, o limão, a tangerina, o pimento, a mandioca, a batata doce, o mel, a galinha, o cabrito e, em certa medida o bovino. O que faz sentido, o que parece fazer sentido, é incentivar a produção deste, e de outros produtos nacionais e criar condições para a sua comercialização. Mais do que isso, criar condições para o seu aproveitamento integral, para a sua conservação e transformação. Localmente. E, transformar em compotas, em doces, em sumos, em concentrados. Com o recurso a indústrias caseiras, familiares, semi- industriais. A pobreza combate-se através do trabalho. Não com o recurso a importações desnecessárias. Combater a pobreza passa, sobretudo, pelo apoio e o incentivo ao trabalho. Tendo, sempre, presente que trabalho não significa emprego.