domingo, janeiro 23, 2011

O lugar dos criminosos é na cadeia

Primeiro, vinham por terra. Atravessando as nossas vulneráveis fronteiras. Nos mais diversos pontos. Eram homens e mulheres. Por hipótese, crianças. Todos oriundos de países em guerra. Ou afectados pelas mais diversas calamidades. Alguns, por puro oportunismo. E com o objectivo de encontrarem em Moçambique o que não tinham nos seus países. De facto, encontraram acolhimento e refúgio. Nas condições possíveis. Não nas ideais. Prova disso, prova dessa vontade e desse desejo de acolher, é a existência do campo de refugiados existentes na província de Nampula. Onde vivem muitos milhares de refugiados. Com as mais diversas nacionalidades. E aqui chegados pelos mais diversos motivos. De onde, depois, também, procuram fugir às centenas. Com objectivos e destinos pouco claros. Depois, mais tarde no tempo, para além de continuarem a utilizar as nossas vulneráveis fronteiras terrestres, procuraram passar a entrar por mar. O que para além dos motivos alegados pelos migrantes anteriores, pode já indiciar um fenómeno novo. Pode já apontar para um processo mais organizado. Parece ter havido uma mudança qualitativa, uma nova forma de organização. No sentido de ao desejo e à vontade individual, embora massivos, se estar a suceder um novo processo. Um modelo que assente na manipulação de vontades e necessidades individuais. Avançando no tempo, chegamos ao tempo presente. E, aqui, parece estarmos perante uma nova estratégia. Os clandestinos já não chegam por terra nem por mar. Já não são homens e mulheres esfarrapados, rotos e esfomeados. Agora, já nos são enviados pelo ar. De avião. Estão bem vestidos e estão bem nutridos. Segundo imagens televisivas e fotos de jornais.


A mais recente vaga de migrantes ilegais chegou a Maputo proveniente da Etiópia. Através de um voo que ninguém sabe que interesses serve. São cerca de uma centena e vieram todos a bordo de avião daquele país. E todos, igualmente, com vistos falsos. São de várias nacionalidades mas, predominantemente, bengalis. Foram, todos eles, detidos ao pisarem território moçambicano. Como amplamente e em detalhe tem vindo a noticiar a STV. Num trabalho exemplar de reportagem televisiva. Que bem merece ter continuidade e fazer escola. De resto, foi através da STV que este caso foi despoletado, tornado público (noticiários da noite de 18 e 19 do corrente mês). Certamente com alguns incómodos para alguns. Mas, foi por esta via que ficámos a saber que alguns dos utilizadores de vistos falsificados se apresentaram como investidores. Outros, disseram vir fazer turismo. Que só uma minoria falava inglês, para além do bengali. Que, segundo um dos entrevistados, vieram para Moçambique por aqui ser fácil ganhar dinheiro e fazer fortuna. Por último, que um dos clandestinos tentou obter a libertação do grupo pagando 1.500 dólares norte-americanos a um repórter STV. Já no dia imediato (dia 20), o “Notícias”, (página 3) titulava que “Polícia investiga tráfico de pessoas”. Segundo a local, e citando o porta-voz da PRM, “A Polícia de Investigação Criminal está a investigar a rede de tráfico de pessoas no nosso país (...) ” depois da “detenção de 93 imigrantes ilegais na capital moçambicana.”. Mais adiante, pode ler-se que “Estamos perante uma rede de crime organizado. Não tenho receio de dizer e que há gente da corporação envolvida neste crime”. Ora, se se reconhece que há crime também tem de haver criminosos. E o lugar dos criminosos é na cadeia.