domingo, fevereiro 06, 2011

O Estado tem deveres para com o cidadão

De quando em quando, de quando em vez, somos tocados por uma réstia de esperança. Anima-nos uma réstia de esperança. E se e quando olhamos em frente, parece que estamos a ver luz ao fundo do túnel. Talvez, apenas, uma ténue e trémula luzinha. Que depois desaparece do nosso olhar e concluímos não existir. Nunca ter existido. Não passar, não ter passado de ilusão. De prestidigitação. De tentativa de nos confundir através de acto de magia. Mal ensaiado. Pior executado. De se tratar, apenas de exorcismos. De se tratar apenas de palavras ou de um tipo de discurso que pouco ou nada têm a ver com a realidade. E sem qualquer possibilidade ou poder para mudar, para modificar, para transformar essa realidade. A nossa vida, o nosso viver quotidiana. O nosso dia-a-dia. Foi assim sobre o abastecimento de produtos durante a última quadra festiva. No que respeita à garantia de quantidades e estabilização de preços. Em ambos os casos verificaram-se excessos. Houve demasiados produtos perecíveis. Grandes foram as quantidades que se estragaram antes de chegarem ao consumidor. A preços acima do normal. Acima do poder de compra do consumidor. E que não mais baixaram. Até Ao momento presente. Depois, tivemos uma inexplicável carência de gás doméstico. E, até hoje inexplicada. Ou, se assim se preferir, mal explicada. Não obstante, cá vamos indo. Cantando e rindo, como diz o outro. Já sem luzinha ao fundo do túnel. E perante uma nova realidade. Que é a de nos estarem a aumentar taxas e impostos. Sem sabermos que mal fizemos nós. Sem nos terem explicado o motivo de tal agravamento. Claro, acreditamos, os homenzinhos do fisco são pessoas sérias e honestas. Também, bons pais e bons chefes de família. Logo, o que nos afecta, o nosso mal, não terá partido deles. Não terá sido ideia deles.


Seria bom, seria demasiado bom, se em termos de desgraças, de coisas más fosse tudo. Mas não é. Manda a verdade, manda a realidade acrescentar a situação actual dos transportes públicos. Sobretudo na capital do país. Que estão a ir de mal a pior. Com a entrada em circulação, em grande número, das chamadas carrinhas de caixa aberta. Que oferecem condições nenhumas para o transporte de seres humanos. Mas que homens e mulheres, velhos ou não tanto são forçados a utilizar. Sob pena e risco de terem de percorrer quilómetros e mais quilómetros a pé. Para o cumprimento das suas obrigações laborais. Ou outras necessidades de deslocação. Aqui, neste campo, nesta área, começa a ser cada vez mais difícil avistar a tal luzinha ao fundo do túnel. Talvez porque ela não exista. Nunca tenha existido. Tudo o que se vê são tentativas de lançamento de balões de ensaio. Que rebentam a baixa altura. Antes de começarem a subir. Foi o que aconteceu com os barcos e com as viaturas movidas a gás. Que sequer têm onde abastecer. Posto onde abastecer. Agora, estamos perante um novo balão de ensaio. Dá pelo nome de veículos multiuso. A par de tudo isto, há o discurso demagógico sobre o combate ao encurtamento de rotas. Perante esta realidade, os operadores dos chamados “chapas” devem estar a rir-se. Quase de certeza, continuam e irão continuar a rir. E, irão continuar a rir por muito mais tempo. Por terem percebido que entre o discurso oficial, a realidade e a prática, existe um vazio total. E que esse vazio joga a seu favor e a favor dos seus interesses empresariais. Pelo simples facto e pela simples razão de o Estado estar a tentar transferir para si, o que é dever seu. Dever do Estado. Deveres do Estado para com o cidadão. O Estado tem deveres para com o cidadão.