terça-feira, junho 06, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique, no Jornal Domingo de 4 de Junho, 2006

antes e depois

Luís David


a falta de gás é uma questão de preço


Maputo enfrenta uma aguda crise de falta de gás doméstico. O que, à partida, podendo parecer um problema doméstico, caseiro, não o é. A falta de gás doméstico na capital do país, é mais do que a simples escassez, é mais do que a simples falte de um produto. Pode ser entendida como um problema nacional e um problema político. De nada adianta, hoje, atirar culpas para o vizinho, para refinarias estrangeiras. Porque o que salta à vista é a nossa vulnerabilidade, a nossa falta de capacidade de armazenamento, a nossa dependência do exterior. Pode custar a acreditar, mas parece ser a realidade. Como parece ser realidade que, fontes alternativas de fornecimento e aumento da capacidade de reserva nunca terão sido devidamente encaradas. Embora sendo, como parece ser, o gás doméstico, um produto estratégico. Hoje, perante a crise, de nada vale carpir. Mas, a situação perece aconselhar, aponta para a necessidade de uma reflexão profunda.


Hoje, restam poucas dúvidas sobre a existência de petróleo em Moçambique. Se as reservas são pequenas ou são grandes, é outra questão. A partir de que preço no mercado internacional é rentável a sua exploração, apresenta-se como novo ponto. O que constitui facto, o que é realidade é que Moçambique possui gás. Que explora e é um país exportador de gás. Nesta lógica, parece fazer pouco sentido que possa enfrentar uma crise de falta de gás doméstico. Mesmo reconhecendo-se que há diferenças entre o gás que exportamos e o tipo de gás que importamos. Podendo, até, acontecer que o importador do gás moçambicano não é o mesmo que exporta gás para Moçambique. Convenhamos que sim. Mas se sim, podem não ter sido devidamente acautelados interesses dos consumidores moçambicanos. De resto, muito se fala em capacidade de reserva nacional, em tempo de duração dessa reserva. Pouco, quase nada ou nada se diz sobre quanto custa aumentar essa capacidade. Não custa muito prever que a actual crise de falta de gás seja prelúdio de novo aumento de preço. Para não se ter de dizer que esta crise, como muitas outras crises, é uma crise artificial. Sendo mais benevolente, é uma crise que podia ter sido evitada. Sendo mais claro, a falta de gás é uma questão de preço.