domingo, maio 31, 2009

Temos todo o tempo para parar e reflectir

Ouvimos e lemos, frases e afirmações que nos devem merecer alguma reflexão. Que não devemos deixar passar sem um reparo. Sob pena de, não o fazendo, estarmos a correr um risco. O risco de, com o silêncio, estarmos a sancionar, a aceitar, a aprovar como bom o que não é bom. A aceitar como bom o que, em termos de ética e de deontologia, não é bom. Digamos mesmo, é mau. Por atentar contra a dignidade de uma parte, quando não da sociedade que somos. No seu todo. É que as palavras têm o peso que têm e o significado que têm. Plural e generalidade podem conduzir ao erro. Mesmo quando não sejam métodos de distracção e tentativas de distracção.

Na sua edição de 22 do corrente mês (pag. 2), a “Verdade” fez publicar um texto titulado “E GAJAS!”. Logo no primeiro parágrafo pode ler-se: Por muito que custe ao mulherio, nós, os machos não perdemos muito tempo a falar delas. Não é por não serem uns seres potencialmente interessantes mas, de facto, temos assuntos muito mais excitantes e, sobretudo, sumarentos. E, depois de vários considerandos: É esta, minhas senhoras, a mais pura verdade. Não é que nós não vos achemos uma certa piada mas não há dúvida de que vocês não são o melhor assunto do mundo. E, o colunista conclui: Lamento desiludir-vos mas só mesmo quando, num grupo de homens, surge um silêncio, é que alguém pergunta: “então e gajas?”. Ao que dizem dicionários, gaja é o feminino de gajo. E, gajo é originário do calo. Um dialecto cigano de Espanha. No feminino significa fulana, sujeita pouco distinta, mulher velhaca. No masculino, terá também como significado, entre outros, espertalhão, velhaco, manhoso, brejeiro, branco não cigano. Ora, o texto em apreço foi publicado num jornal de distribuição gratuita. O que não é o mesmo que não ter custos. Tem. Alguém paga o jornal antes de nos chegar às mãos. São os patrocinadores. Na sua maioria grandes, em termos de mercado, empresas nacionais. Ignoro, por completo, se os gestores dessas empresas se sentem ou não confortáveis com este género de texto. Mas, de uma coisa tenho a certeza. Todos têm mãe. Muitos terão esposa. E filhas. Que, de uma forma geral são chamadas de gajas. Pelo simples facto de serem mulheres. E, isto num país onde a maioria da população são mulheres. Num país onde há mulheres a todos os níveis de governação. Em todos os sectores de actividade. Num país onde a independência nacional também contou com a participação e o sacrifício de mulheres. Agora, ou estamos a perder valores ou estamos a trilhar por caminhos errados. Mas, temos tempo. Temos todo o tempo para parar e reflectir.

domingo, maio 17, 2009

uma investigação que pode demorar alguns anos

Entre nacionais e estrangeiros, são muitos os órgãos de Informação que têm estado a acompanhar a situação dos quatro estrangeiros detidos em Tete. Por, alegadamente, terem sido surpreendidos a deitar produtos químicos na Albufeira de Cahora Bassa. Explicam, como podem, os detidos, a composição do produto deitado na água e alegam que se destinava a dar “energias positivas” ao local. O produto em questão, segundo a versão corrente, será organite. Se assim, e segundo escreve a ANGOP, estamos perante uma invenção de Wilheim Reich, um cientista que nasceu em 1897 na actual Ucrânia, e que morreu nos Estados Unidos em1957. Hoje, tem os seus seguidores espalhados pelo mundo. Este cientista defendeu que há uma energia cósmica e que funciona como princípio orientador da natureza, determinando por exemplo o estado do tempo e até a formação de galáxias e que essa energia, o orgone, pode ser aproveitada, beneficiando o ambiente e o bem-estar das pessoas. Naturalmente, não se trata de uma opinião neutra nem pacífica. Há quem, com algum humor e sarcasmo, rebata as declarações de um dos detidos. Vejamos o que está escrito, por um português, em “Belfaghor”: (...) oiçamos o que diz este Carlos Silva, cidadão português, que está detido em Moçambique há 3 semanas por integrar o grupo que tentou sabotar a barragem de Cahora Bassa, com produtos químicos. Em defesa própria, Carlos Silva terá entretanto dito que o que foi despejado nas águas da barragem foi uma tal Organite... apenas organite, defende-se Carlos Silva. Sendo que a Organite é, ao que parece, uma mistura de resina de polyester e aparas de ferro, ao que consta utilizada normalmente para a construção de contentores de água e cascos de embarcações. Ainda segundo Carlos Silva, a ideia era dar energias positivas à barragem. E, o autor do texto citado conclui: Oh Silva, onde é que leste essa das energia positivas à base de limalha de ferro e resina de polyester?! E já experimentas-te essa merda lá em casa?... Mesmo à distância de muitos milhares de quilómetros, é perceptível que estamos perante um grupo de vigaristas. De vilões. Quando não, ainda bem pior do que isso.

A já citada ANGOPE escreve que o alemão detido em Tete, residente na África do Sul, já tinha sido detido por motivos idênticos no Zimbabwe. Há três anos. E, por três dias. Tempo suficiente para ser investigado e liberto. Inocentado. Porque, arrisco, trata-se de um homem bom e bondoso. Segundo ele, referindo-se a Moçambique, Num país livre e democrático não esperávamos problemas. Fizemos expedições assim na Namíbia, Zâmbia, Botswana, África do Sul...”, disse, acrescentando que até a mãe de um estadista sul-africano é partidária do orgonite. As declarações, amplamente divulgadas, do português e do alemão, podem levar a concluir que estamos perante um grupo de filantropos. De homens que dizem prestar ajuda e procurar fazer o bem ao seu semelhante. Fazer o bem sem olhar a quem. Mas, este grupo é um grupo de quatro. E, até ao momento só conhecemos a versão dos acontecimentos contada por dois. Seria, de todo em todo, interessante conhecer a versão dos acontecimentos contadas pelos outros dois africanos. E, saber, também quem está a pagar aos quatro. Quem lhes está a dar cobertura para se movimentarem e actuarem, impunemente, em países diversos, Ou se, por detrás destas tantas digressões, está ou não algum serviço secreto de país terceiro. Por fim, parece importante averiguar o que possa vir a resultar dessas energias positivas. A nível das águas da Barragem. Do clima da região. Da reprodução dos peixes. Do equilíbrio das algas. Da manutenção do equilíbrio das placas teutónicas. Trata-se, naturalmente, de uma investigação que pode demorar alguns anos.

domingo, maio 10, 2009

pedradas no charco

Estão a tornar-se frequentes declarações públicas de dirigentes, a diferentes níveis e de diferentes áreas, que não devem nem podem cair, imediatamente, no esquecimento. Quer dizer, merecem reflexão e comentário. Ao que leio (“Magazine de 6 do corrente, página 10) e como interpreto, estamos a ser alertados para situações anómalas e anormais. Que muitos conhecem. Mas que poucos se atrevem abordar em público. O que será diferente de publicamente. Haverá, neste presente, quem tenha tomado a iniciativa e tenha tido a ousadia de atirar algumas pedras para as águas estagnadas do charco. Os resultados dessa atitude, corajosa, ainda não são visíveis. Sequer se conseguiu ouvir o coaxar das rãs. Talvez por serem um tipo de batráquio com uma grande capacidade de adaptação ao meio ambiente. E que, ao que tudo indica, na sua constituição actual, antecederam o homem que somos e como somos, em muitos milhões de anos. Dezenas. Por hipótese, centenas de milhões.


O Procurador - Geral da República proferiu, há pouco, uma palestra a pedido da Autoridade Tributária de Moçambique. No decorrer da qual falou, entre muitas outras coisas, de presentes envenenados. E, a determinado passo terá contado um episódio passado consigo. Terá explicado a forma como foi alvo de tentativa de corrupção. Por parte de um comerciante. Que, perante a sua recusa em aceitar o contentor que lhe fora enviado, terá recebido cartões de visita do autor da oferta. Durante a palestra, segundo o mesmo semanário, os agentes das Alfândegas terão denunciado ameaças de que são alvo. Por parte de empresários. Ou de grupos empresariais da capital do país. O jornal não diz quais. Mas, a determinado passo escreve: (...) o director –geral das Alfândegas (...) apelou ao PGR para não ver a corrupção só na função pública, sob o argumento de que ela não está isolada, mas sim está rodeada de vários intervenientes no mercado como é o caso dos empresários. Acrescenta o semanário que Outros funcionários disseram haver casos excepcionais de concessão de benefícios a certa empresa ou empresários, mesmo sabendo-se que só a Assembleia da República é que tem competência para o fazer. Terá havido, também, quem tenha dito ser alvo de ameaças quando resistem aos presentes envenenados, sobretudo se recusam receber ou facilitar a fraude fiscal de mercadorias como é o caso de contentores pertencentes a certos grupos comerciais da capital. Terão dito, alguns funcionários alfandegários, que por recusarem receber esses presentes envenenados, principalmente de contentores, somos ameaçados e nesse dia que isso acontece somos obrigados a dormir fora de casa. Parece não constituir segredo de Estado que os funcionários das Alfândegas que fiscalizam os contentores de certos grupos comerciais são sempre os mesmos. E foram devidamente seleccionados. Por hipótese de trabalho, estarão a ser pagos. Para ficarem calados. O que poderá estar a atormentá-los. Talvez não seja errado sugerir que a indicação dos alfandegários escalados para fiscalizar os contentores de certos grupos comerciais passe a ser feita por sorteio. Para surpresa dos corruptores e alívio da consciência dos honestos. Só assim farão sentido e terão efeito as já muitas pedradas no charco.

domingo, maio 03, 2009

O combate ao crime exige reformas estruturais

Muito e repetidas vezes tem sido escrito sobre comportamentos e métodos de actuação de agentes da Polícia. Das várias polícias. Repetidas vezes, também, quando são apontados erros e desvios de comportamento regista-se uma tendência de fuga para a frente. De negação dos factos. Por parte dos comandos policiais. Hoje, parece estar a acontecer algo diferente. Parece que estamos a assistir ao alterar, profundo, da situação. É que as palavras e as afirmações valem o que valem. Mas valem, também e fundamentalmente, segundo quem as pronuncia e quem as faz. E, quando são afirmações do Comandante - Geral da Polícia da República de Moçambique, há que prestar a devida atenção. Entre muitas outras coisas, o que ele diz, o que ele reconhece (última edição do “Magazine”), é que temos bandidos internos, maioritariamente constituídos por agentes do nível de base, sobretudo os que vieram dos últimos cursos de formação policial, os quais colaboram com os bandidos extorquindo-lhes dinheiro para os protegerem. Esses são conhecidos e alguns deles já estão a enfrentar processos - crime. Tranquiliza-nos que assim seja. Outra forma de actuação não seria de esperar. Mas, por outro lado, preocupa-nos, profundamente, poder comprovar o que muitos de nós tinha percepção. Ou sabia por experiência própria. De facto, enquanto cidadão, se se é assaltado na via pública ou lhe é roubada a viatura com recurso à ameaça de arma de fogo, começa um dilema. Mais do que um dilema, um enigma. È que como foi reconhecido da referida entrevista, torna-se saber quem é o agente da polícia e quem é o ladrão.


Perante esta nossa realidade, na presença desta realidade que não nos está a ser escondida mas, isso sim, que nos está a ser colocada de forma frontal, parece justo colocar algumas preocupações. A primeira, é para compreender quais os critérios de selecção para se ser agente da Polícia. Depois, depois, quando acontece que o agente da Polícia tem mais vocação para ser ladrão ou protector de ladrões do que agente policial, o que lhe acontece. É, simplesmente, expulso ou é alvo de processo criminal. Por fim, e talvez questão mais importante, está em saber quanto custa formar um agente da polícia. E, depois, pouco tempo depois, da sua formação, ter de confirmar, publicamente, que se trata de um colaborador de bandidos. Para se não ter de dizer que foi um bandido, um ladrão, um potencial ladrão, a quem o Estado proporcionou formação técnica e a quem confiou uma arma de fogo. O combate à criminalidade e ao crime organizado exige mais do que aquilo que está a ser feito. O combate ao crime exige reformas estruturais.