domingo, abril 27, 2008

o acessório não passa de negócio cueca

Maputo era, ainda, Lourenço Marques. E, na então capital da colónia, imperou, durante algum tempo, a lei de um assaltante, de um criminoso. Que era conhecido por “Zeca Russo”. Para alguns e, muito para algumas, descrentes com o rumo que o sistema colonial estava a seguir, tratava-se de um “justiceiro”. E, se assim o diziam, era por assim acreditarem. Diziam, recorde-se, roubava aos ricos para dar aos pobres. Sua mãe, então a residir num primeiro ou segundo andar de prémio situado na Rua da Sé, pensava igual. Para não dizer melhor. Saber do filho e da vida que o filho levava, sabia pouco. Mesmo nada. Há data dos acontecidos actos do jovem também tinha idade para pouco se preocupar. Para nos situarmos no tempo, digamos que passam mais de 35 anos. Aconteceu, porém, certo dia, ter cometido algum erro. Ao tempo do acontecido, houve quem tivesse falado em traição. Em cumplicidades com polícias. E, daí terá “Zeca Russo” sido capturado. E preso. Herói como era considerado por alguns, o “7 de Setembro” permitiu-se adquirir as liberdade e o ser passeado em viatura aberta pelas ruas da cidade. Os acontecimentos futuros permitiram que viesse a adquirir elevado estatuto na então Polícia de Investigação Criminal. Ao tempo de um tristemente célebre director. Ou, um director de triste memória. Então, com o estatuto ganho, voltou às tropelias do antigamente. Lançava, quotidianamente, o terror pelas artérias da capital. No “seu”, roubado, descapotável amarelo. Continuava a roubar e, se necessário, a matar. Até que um dia, talvez cansado, de tanta monotonia, decidiu migrar para a África do Sul. Anos depois, chegaram notícias de ter sido morto. Tanto poderá ser verdade como não. É que, também pode ser acontecido ter, simplesmente, feito uma operação plástica para iludir as autoridades. E ter continuado a viver.


A história do jornalismo em Moçambique fez-se, muitas vezes, de alguns equívocos. Como pode estar a acontecer no presente. Ao conceder demasiados espaços ao crime e ao criminoso. Dando deste, e de ambos, uma imagem que pouco terá a ver com a realidade e com os factos conhecidos. Quando não, adite-se, dando demasiado espaço à exploração e à exposição do sórdido e do anti-social. Talvez, do que foi convencionado ser a moral e a ética. Poderá ser assim que, avançando tempo, chegados aos dias de hoje, aí temos, agora, um tal de “Anibalzinho”. Quase elevado à categoria de vedeta. E, quando se não pede o perdão para os crimes pelos quais já foi julgado, e condenado, já estivemos mais longe. Haverá, muito provavelmente, uma questão de pudor. Agora, o motivo pelo qual tem direito a tanto espaço informativo, continua incógnito. Continua mistério. Assim, também, da mesma forma, é estranho as atenções dadas, os espaços informativos que estão a ser concedidos a um tal Ziqo e a um tal Engrácio. Ou, como outros lhe chamam, Engrácia. Talvez, não devessem merecer tanta atenção nem tanto espaço informativo. Um e outros. Sob risco e pena de estarmos a criar mitos. A produzir novelas. No mau sentido. E, o que perece, definitivamente mau, a desviar as atenções do que é fundamental para o que não passa de acessório. E, aqui, convenhamos, o acessório não passa de negócio cueca.

domingo, abril 20, 2008

Que se acautele quem deve acautelar

Com frequência, muita, são divulgadas notícias sobre a prisão de traficantes de drogas. E, também, de traficantes de seres humanos. Para os mais diversos fins. Vindas dos mais diversos países. Moçambique, não constitui excepção. A avaliar pelos relatos, no seu conjunto, no seu todo, pode fazer-se uma ideia dos esforços desenvolvidos pelas Polícias no combate ao crime. Mais precisamente no combate ao crime organizado. Que, em muitas situações, possui meios tão ou mais sofisticados, tão ou mais poderosos do que aqueles que foram incumbidos de manter a ordem e a segurança públicas. É assim que não surpreende a notícia originária do Brasil. Segundo a qual “Homens armados atacam prisão de máxima segurança”. Descreve o “Notícias” (edição de 16 do corrente) que Homens armados, disparando de carrinhas e voando num helicóptero, atacaram uma prisão de segurança máxima, em Campo Grande, no Brasil, onde estão detidos alguns narcotraficantes mas foram repelidos pelos guardas. A prisão atacada é aquela onde está encarcerado o barão da droga colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia e o líder de um “gang” brasileiro Luiz Fernando da Costa. Segundo um director prisional, “A ideia era obviamente libertar reclusos. Não há outra razão para atacar uma penitenciária”. Para descanso dos leitores, acrescenta a notícia que “todos os atacantes fugiram e ninguém ficou ferido na prisão...”. É caso para dizer, ainda bem quando tudo acaba em bem. Mas, para dizer, também, que terá ficado o aviso.


Por cá, internamente, também muito se tem lido, dito, e visto, sofre o tráfico. Ou, os diversos tráficos. Entre os quais, o mais recente e mais mediático terá sido o chamado “Caso Diana”. O caso de uma mulher que aliciava e traficava raparigas para serem prostituídas na África do Sul. Um caso que, muito prometia. Ou que, dito de forma diferente, a nossa Polícia prometia muitas prisões. Mas, afinal, parece que não irá ser bem assim. Depois de, como costuma dizer-se, contadas as armas, pode, até, acontecer, haver nome mais nenhum. Nome verdadeiro mais nenhum. Para além do de “Diana”. Nome que, podendo, também, não ser verdadeiro, é atribuído a uma mulher que se diz estar presa. De resto, quanto ao resto, como era de prever, como era previsível, restam apenas hipóteses. É assim que segundo o jornal “Notícias” (15.04.08) Neste momento, a Polícia está a trabalhar com pseudónimos dos referidos comparsas da Diana, códigos estes fornecidos a partir do local onde se encontra sob custódia policial, como sendo elementos que consigo colaboram no tráfico de pessoas para exploração sexual. E, como que a prevenirmos para um possível desfecho do caso, a notícia acrescenta que por si só os pseudónimos não transmitem a idoneidade dos factos, tornando-se numa grande limitante para a Polícia efectuar mais detenções de suspeitos. Com o rumo que as coisas parece estarem a tomar, não custa acreditar que a tal de Diana até volte a frequentar a praia da Costa do Sol. Logo depois do seu julgamento. Com início marcado para 12 de Maio próximo. Que se acautele quem deve acautelar.

domingo, abril 13, 2008

não iremos capturar traficante algum

Moçambique parece enfrentar uma nova calamidade. Uma calamidade que dá pelo nome de tráfico de seres humanos. E, como nos tempos idos, passados, como nos tempos da escravatura, não pode deixar de haver conivência local. Nacional e regional. Diga-se, sem receio, sem temor de engano, que quem alicia, quem engana, quem captura, não é gente estranha. São, nos casos conhecidos, conhecidos, vizinhos, amigos, quando não, familiares das próprias vítimas. Em casos outros, talvez possa não ser exactamente assim. Poderá ser, poderá parecer, um processo aleatório. Agora, o que parece ser comum é o destino das vítimas. Tanto em termos geográficos como de finalidade. Então, em termos geográficos, o destino das vítimas parecer ser, invariavelmente, a África do Sul. A finalidade, tanto pode ser a mão-de-obra barata, escrava, como pode ser a prostituição. A escravatura sexual. Como, em última hipótese, poderá ser a doutrinação religiosa. Com objectivos de longo prazo. Na verdade, de todos os alegados casos conhecidos de tráfico de pessoas, por publicitados, pouco se sabe sobre o seu desfecho. Para além de haver vítimas. Aparentemente, trata-se de negócio rendoso, ou rentável. De tal forma, ou por assim, poucos ou ninguém se atrever numa investigação séria. Honesta. Para saber, para dar a conhecer onde começam e onde acabam as redes organizadas de tráfico de seres humanos. Condição primeira e primária para se poder falar no seu desmantelamento.


Há algum tempo, não muito, não demasiado, foi noticiado o transporte de algumas dezenas de crianças do Norte para o Sul do país. Em condições desumanas. Em condições indignas para a deslocação de qualquer animal. Em condições mais do que atentarias aos mais elementares direitos humanos. Um caso que tende a cair no esquecimento. Ou que já caiu. Por não interessar esclarecer. Depois, surgiram casos comprovados de aliciamento e tráfico de raparigas para a África do Sul. Hoje, parece cedo para pedir o conhecimento do seu desfecho. Ficamos com a promessa, que desejamos não ser falsa, de poder vir dar origem a muitas prisões. À prisão de muitas pessoas. Confiamos que assim possa vir a ser. Concedemos o benefício da dúvida. Agora, pelo “Notícias”, da última quarta-feira, ficámos a saber que foi Interceptado contentor com 155 ilegais em Tete. O contentor vinha do Malawi e, segundo o matutino, um morto e gente debilitada estavam a ser transportados em condições desumanas num camião com destino à Beira. O mesmo jornal informa, com detalhe, que o motorista do camião fugiu. Tal como havia sucedido com outro motorista, em situação semelhante, poucos dias antes. Depois, talvez na tentativa de nos tranquilizar, acrescenta: As empresas para as quais trabalhavam os fugitivos já forneceram as respectivas identidades, bem como ofereceram-se a colaborar nas investigações para a sua detenção, dado que, negam qualquer responsabilidade no negócio do transporte dos ilegais. Ora, o que estamos a ler é que proprietários dos camiões negam a sua participação no tráfico de seres humanos. Logo, em boa lógica, trata-se de um negócio dos motoristas. De motoristas que circulam centenas de quilómetros e, provavelmente, durante dias, sem conhecimento do dono da viatura. Mas que, ao que tudo indica, não roubaram a viatura ao legítimo proprietário. Ora, finalmente, dizer que perante a aberração das declarações dos proprietários das viaturas é necessários deixar claro que não somos, propriamente, um país nem de burros nem de parvos. Se a nossa Polícia se conforma e se fica confortável com a oferta da colaboração referida, trata-se de um problema, único e exclusivo, da Polícia. Mas, uma questão importa que fique clara. Não é com esta ingenuidade, não é incredulidade, não é com esta aceitação, passiva da concepção vigarista do vigarista que iremos combater o crime organizado. Desta forma, com este pensamento e esta forma de acção, não iremos capturar traficante algum.

domingo, abril 06, 2008

O que pode ser o caso

Ao que nos dão conta as notícias, a Guiné-Bissau é, hoje, um corredor de droga. E, a situação parece de tal forma grave que preocupa as Nações Unidas. Trata-se, ao que se diz, de um Estado criminalizado. De um Estado onde quem manda são os traficantes de drogas. Não, jamais, o Governo ou os seus funcionários. Daí resulta, também, o facto de ser considerado um país ingovernável. O que já terá levado a ONU a manifestar a sua disponibilidade em apoiar no inverter da situação. O que não terá sido dito, o que parece não ter sido dito com clareza suficiente, foi o que permitiu que se tenha chegado ao ponto a que se chegou. Se há, se existem cumplicidades internas. Por certo, deve de haver. O que não se sabe é onde começam e onde acabam. Se è que têm fim. Mas, Estados considerados ingovernáveis, há outros. E muitos. Alguns dos quais com quem Moçambique mantêm estreitas relações. Com os quais tem, até, alguma afinidades. Aqui, a situação desses Estados já não será por questões de droga, mas pela existência de petróleo. Acontecimentos recentes e repetidos, repetitivos, não permitem ignorar São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Onde o exercício do poder, onde o controlo do poder foge ao Soberano.

O território nacional moçambicano não está imune às acções dos traficantes de droga. Não está. Ainda há poucos dias, foi noticiada a detenção de uma mulher sul-africana. No Aeroporto Internacional de Maputo. Por transportar, no interior do seu corpo, 64 cápsulas de cocaína. Trazidas do Brasil. Esta notícia, esta notícia a que nos referimos, é, em muito, semelhante a notícias anteriores. Muitas. Quase cópia das anteriores. Assim, como nas anteriores, o detido é uma mulher, a droga vinha do Brasil, a forma de transporte eram cápsulas escondidas no interior do corpo. E os “pombos” ou, se se preferir, as “pombas” nada sabiam. Nada sabem do negócio. Nunca sabem, não sabem quem lhes entregou a droga no país banhado pelo Atlântico. E, sabem, não, a quem, se destinava o “produto”. Aqui. Segundo a versão da Polícia. A única tornada pública. Quer-se dizer, de verdade, as raparigas, as boas das raparigas, viajam do Brasil até Moçambique. Horas e horas de avião, com droga no estômago ou nos intestinos. Mas, aqui chegadas, seja a Maputo seja à Beira não sabem a quem deveriam entregar a droga. Mas sabem, por hipótese, que se tentassem comerciar a droga por conta própria seriam, de imediato, mortas. Ou alguém da sua família seria morto. Estudos e investigações sobre o tráfico de droga a nível internacional, provam, pelo menos demonstram um aspecto básico. Na sua lógica criminosa. Que quando descoberta uma forma de tráfico ou uma rota, a mesma é, imediatamente, abandonada. E que são ensaiadas alternativas. Também nos dizem os estudos que, quando os traficantes persistem em rotas e métodos já conhecidos, já descobertos, estão apenas a desviar atenções. A desviar as atenções de Polícias nacionais de métodos mais sofisticados, mais lucrativos e em maior escala. O que pode ser o caso.