domingo, janeiro 27, 2008

obras de fachada

Não deve, não pode, ser ignorado esforço do Governo no sentido de elevar o nível de saúde das populações. Na dimensão nacional. Quer construindo centros de saúde, quer projectando no vos hospitais, quer reabilitando infra-estruturas existentes. Quer, também, dotando os principais hospitais do país com novos e modernos meios de diagnóstico. Para além deste exercício, apresentam-se como relevantes as acções que visam melhorar as condições de atendimento aos doentes. A começar pela indisciplina que impera em algumas dessas unidades. Ao desleixo. Quando não ao favoritismo no atendimento. Para não falar em corrupção. Expressão tão cara a alguns. Mesmo aos corruptos. Mas, e aqui, parece, devemos estar todos de acordo. Acordo no facto de que é preciso evitar que a excepção se transforme em regra. Que a corrupção passe a regra.


No campo da Saúde parece haver, há, porém questões que ultrapassam o entendimento do simples espectador. Que somos todos nós. E, se assim não, vejamos em diante. Na sua edição de 19 do corrente, titulava o jornal “Notícias” em primeira página: Nampula: Centros de Saúde encerram por falta de equipamento. E, logo no primeiro parágrafo da notícia, o noticiarista escrevia: Pelo menos sete grandes centros de Saúde, de um total de 18 construídos pelos governos distritais da província de Nampula, encontram-se encerrados e os restantes a operar com dificuldades devido à falta de equipamentos indispensáveis para o seu funcionamento. E, em jeito de comentário, pode ler-se na local que Esta situação preocupa as populações beneficiárias dessas infra-estruturas, que já manifestaram o seu desagrado junto das autoridades provinciais da Saúde. É momento para dizer que sim. Que têm a razão para estar desagradadas. E que, também nós não estamos menos desagrados. Por uma razão simples. Ou, pela simples razão de não caber no entendimento comum como é que governos distritais gastam dinheiro na construção de centros de Saúde que, logo após, são encerrados por falta de meios. Á partida, aquando da construção desses centros de Saúde, sabia-se duas coisas elementares. Uma, é que só poderiam funcionar com equipamentos. A segunda, é que, para funcionarem a médio e longo prazos necessitam de verbas de manutenção. Sobre o que se terá, efectivamente, passado a notícia não esclarece. De concreto, ficámos a saber que 18 centros de Saúde foram encerrados. O que permite concluir o óbvio e o evidente. E, o óbvio e o evidente é que parece estarmos perante obras de fachada.

domingo, janeiro 20, 2008

cheias e inundações são a mesma coisa

Hoje, como desde sempre, as palavras têm o significado que têm. Ou, muito por hipótese, podem mudar de significado. Adquirir o oposto, até. Como podem, como acontece, também, caírem em desuso. Podem, de igual forma, resistir ao avanço tecnológico. E, tendo sido utilizadas ontem para uma coisa, hoje o serem para coisa diversa. Diferente. Se assim, caso concreto, entre nós, é o da utilização do termo Machimbombo. Ora, o dicionário nos diz que Machimbombo é um ascensor mecânico, para ladeiras íngremes. Ora, pode supor-se, pode-se especular, que o termo para aqui tenha trazido aquando da introdução dos primeiros transportes públicos colectivos. Que foram os desaparecidos carros eléctricos. E que, quando dada por finada a actividade e o uso destes, a definição permaneceu no tempo, Por falta de melhor, de outra mais consequente com o fala popular. E, assim permanece, assim continua a ser utilizada, em paralelo com o neologismo Chapa. Que, quase de certeza, após cumprir a sua missão histórica e vier a ser substituído, a definição irá perdurar. Para os casos ambos aqui referenciados, o que importa concluir é que é a necessidade de comunicação que impõe os termos adequados a cada situação e em cada momento. Aos linguistas e aos dicionaristas, fica uma ingrata missão. Não a de ensinar ou de dizer como se deve falar. Ou não deve falar. O que é falar bem e o que é falar mal. Mas, isso sim, investigar os fenómenos da comunicação. E, explicar o que hajam por bem entender explicar. E, por fim, fixar a língua. Em nenhum momento nem período da História da Humanidade, a língua resultou de coisa outra que não tenha sido a necessidade de comunicação entre os humanos.

As actuais cheias em alguns rios do Centro do país, parece estarem a criar algumas confusões de linguagem. È que há quem pensa, é que há quem considera que se trata de cheias e de inundações. E se assim pensou, assim entendeu dever ser. Dever passar a ser. E, para que uma invenção, uma invencionada, ganhe o estatuto de verdade, nada melhor do que fazer coincidir vozes e textos de jornalistas. E, para tanto, os convencer a divulgarem a espúria concepção. E que, em boa lógica metódica, as populações deste país, passaram a ser obrigadas a fazer acrescer um novo termo ao seu vocabulário. Trata-se da palavra inundações. Ora, quando na memória colectiva destes muitos povos são as cheias que fazem parte da memória colectiva, falar de inundações, não passa de termo para enfeitar relatórios. Depois, e por fim, cheias e inundações significam a mesma coisa.

domingo, janeiro 13, 2008

uma questão de agenda nacional

A maioria dos países do mundo, tem vindo a aprovar legislação sobre o consumo do tabaco. Para além de aprovação de legislação sobre os locais onde se pode ou não se pode fumar, fica a forma como a lei é interpretada e aplicada. É assim que, em alguns dos estados dos Estados Unidos fumar na própria residência pode ser objecto de punição. Enquanto na Irlanda a legislação em vigor parece deixar nenhuma margem de fuga ao seu cumprimento. No extremo oposto, parece situar-se a Espanha. Que tendo, também, legislação muito semelhante a outros países, será mais pragmática na sua aplicação. Sendo que no que respeita à indústria hoteleira, a deixa ao critério dos proprietários dos estabelecimentos. Isto é, quem entende dever proibir fumar, proíbe. Quem não, não proíbe. Trata-se de uma posição que tem lógica. Que a ninguém prejudica e que outros terão seguido. Tenhamos presente, que o radicalismo nunca foi bom conselheiro em termos de governação. Diria cidadão brasileiro, em ocasião própria e por motivo diverso, sobre legislação do seu país: Deixa legislar que a gente abandalha.


Também Moçambique aprovou recentemente, legislação sobre a proibição do consumo de tabaco em locais públicos. Logo, e logicamente, em defesa da saúde pública. Em boa lógica, aceitamos, como vem inscrito nos maços de cigarros, que Fumar prejudica a saúde. Podemos até ir mais longe e dizer que fumar é um vício. Como vício é beber coca-cola, café ou chá. Sendo que o chá é mais prejudicial à saúde do que o café. Por conter uma mais elevada percentagem de cafeína. Obviamente, nada que se afirma assenta em base científica. São simples hipóteses e, no melhor dos casos, convenções. De ciência certa, isso sim, sabemos apenas que a água natural não vicia. Por ser indispensável à vida e condição da vida no planeta em que vivemos. Mas, repita-se, a água natural. E só essa. A água em estado natural. Ora, num país com vinte milhões de habitantes, como Moçambique, fica por saber quantas pessoas podem frequentar locais fechados onde passou a ser proibido fumar. Falamos de pavilhões, restaurantes, repartições públicas. Podemos falar de dois milhões, talvez um milhão ou, no máximo, duzentos mil. Como mera hipótese. Depois, sendo ponto aceite que Fumar prejudica a saúde, proibir fumar em determinados locais, na realidade nacional, pode não ter significar pouco em termos de economia de gastos com a protecção da saúde pública. Possivelmente, até, nada. E, se nada apresenta-se como mais urgente, como mais prioritário, concentrar atenções no combate à malária, à cólera, à tuberculose pulmonar. Em última análise, poderá tratar-se de uma questão de agenda nacional.

domingo, janeiro 06, 2008

só o trabalho gera riqueza

O ano de 2007 já nos deixou. Passam alguns, poucos, dias. Dele disse quem tinha algo para dizer. De forma, naturalmente, subjectiva. Nem de outra forma poderia ser. Todos sabemos que o que é bom para mim, ou o que classifico como mau, pode ter apreciação inversa pelo meu amigo ou pelo meu vizinho. É assim, por exemplo, que se, acaso, me fosse pedida opinião sobre o que de pior aconteceu nos finais do ano findado não teria qualquer dúvida em eleger, em escolher. Diria que foi o aumento, escandaloso, nos preços de muitos produtos alimentares. Por outras palavras, a especulação. À custa do nosso bolso. Confortado com o 13º vencimento. Mas, também, em desfavor da nossa barriga. E das barrigas dos nossos mais próximos de nós. Bem tentaram, alguns, argumentar e defender os especuladores. Dizendo que não. Argumentando que, desde há muito, a África do Sul havia feito subir os preços de produtos que ali vamos buscar. Como parece claro, não se trata de argumento. É falácia. Trata-se de desculpa para tentar encobrir a falta de capacidade de fiscalização. Trata-se de capa ou de chapéu – de –chuva para proteger especuladores e oportunistas. Caso não, é preciso saber explicar a razão das diferenças de preços praticados em relação a alguns produtos importados. Como ovos e batatas. Mas, também podemos falar nas diferenças de preços de produtos de produção nacional. Como o leite condensado e os refrescos. Definitivamente, o combate à pobreza também passa pelo combate aos especuladores. O que pode exigir uma mais elevada dose de coragem e, naturalmente, mais patriotismo.



Estamos, pois, em 2008. Todos nós. Quem escreve e quem lê. E, também aqui, neste ano que os homens convencionaram ser de 2008 depois de Cristo, me atenho. É que, acaso me fosse pedida opinião sobre o devir, pouco teria a dizer. Haveria de eleger, apenas um, não mais, tema central. Estou a referir-me à Revolução Verde. Não a essa que já é notícia de jornal, vinda lá do distrito. Como acabada. Muito como mera retórica discursiva. Talvez, quem o sabe, como mero oportunismo político. Na minha modesta opinião, Revolução Verde tem nada a ver com ONG´s e pouco com sociedade civil. Trata-se de um processo que, por hipótese, irá colocar em questão hábitos, crenças, mitos e tradições ancestrais. Talvez, mesmo, violentar. No sentido de obrigar a alterar e a mudar. Formas de viver e de estar. Por isso, se lhe chama de Revolução e se a apelida de Verde. Abnegação, espírito de sacrifício, trabalho. Sobretudo trabalho, são condições para criar riqueza. Porque, e aqui não é conhecida tese contrária, só o trabalho gera riqueza.