domingo, setembro 26, 2010

Pela boca morre o peixe

Há dias, levantou-se por aí um temporal, uma tempestade. Talvez em um copo de água. Ouviram vozes de reclamação e de protesto. De migrantes portugueses aqui residentes. E, creio, também na África do Sul. O motivo esteve no facto de terem deixado de ter acesso à transmissão televisiva dos jogos do principal campeonato de futebol de Portugal. Em directo, obviamente. Com quem se sente prejudicado, no que julga ser direito seu, logo foi encontrado culpado para o prejuízo. E o culpado, o responsável pela nova e degradável situação não foi quem tinha deixado de prestar o serviço que vinha prestando. Gratuitamente. A culpa foi assacada, toda inteirinha, a uma nova estação televisiva angolana. Privada. Que terá adquirido o exclusivo da transmissão dos referidos jogos. E, as vozes de protesto que se fizeram ouvir foram mais longe. Acrescentaram que à referida estação privada estavam ligados interesses económicos da filha do presidente Eduardo dos Santos. Como assim, logo... Logo, para bom entendedor meia palavra basta. Para tentar inverter a situação, ventilaram os reclamantes a hipótese de fazer deslocar uma delegação a Angola. Com a missão de fazer quebrar o que foi classificado como monopólio. E, isto, porque, como costuma dizer-se, o sol quando nasce é para todos. Ou devia ser. Se a missão se fez ao terreno ou não, se peregrinou até Angola ou não, já as crónicas são omissas. Melhor, dizem nada. Logo, os resultados são desconhecidos. Sendo de admitir que possam ter sido nulos.



Decorridos poucos dias, na sua edição de 22 do corrente, na internet, o jornal português “Expresso” publicava uma notícia com o título Emigrantes portugueses criticam TV portuguesa. E, logo a seguir, escrevia que Portugueses residentes em França criticam os canais internacionais da RTP e da SIC por não transmitirem os principais jogos de futebol da Liga. Segundo os críticos, citados pelo jornal, Pagamos para poder ver a RTP e a SIC, mas agora somos obrigados a pagar mais para ver os principais jogos (...) no MCS, um cabal de cabo em francês, com comentários em francês (...). Mais adiante, pode ler-se que A opinião deste grupo de portugueses residentes no quarteirão da Praça de Itália, em Paris é compartilhada por uma grande maioria dos emigrantes em França que criticam também, com frequência a programação dos canais internacionais das televisões portuguesas. Depois de algumas considerações sobre a programação das duas estações, a local esclarece que Mas é a falta de futebol de “alto nível”, em directo, que fez transbordar o vaso sãs críticas. Com efeito, desde há algum tempo que os principais jogos do campeonato português desapareceram das programações em directo. Pouco tempo depôs da sua divulgação, esta notícia contava já com mais de uma dezena de comentários. Na generalidade, desabonatórios relativamente à programação que oferecem a quem está fora do país. Mas, também críticos em relação ao posicionamento dos governantes que Só se lembram dos emigrantes, quando lhes querem ir ao bolso, ou captar as suas poupanças. Do explanado, dá para perceber que o facto dos jogos do futebol português não estarem a ser vistos, em directo, entre nós, é mais complexa do que alguns pretendem fazer acreditar. Os interesses em jogo são mais do que muitos. E, milionários. Não se trata, pois, de uma questão angolana. Nem africana. É mais global. Para quem entendeu o que ficou escrito, resta concluir que pela boca morre o peixe.

domingo, setembro 19, 2010

Ética e moral são questões incómodas

Está a decorrer na cidade da Matola o julgamento de 26 funcionários do Estado. Acusado de desvio de fundos. Ao que parece, um eufemismo para evitar o termo roubar. Cujos contornos não se apresenta como importante referenciar. No mesmo dia, (16.09, página 4) o “Notícias” reportava idêntica situação com o título Desvio de fundos preocupante em C. Delgado. E acrescentava que Há pelo menos cinco processos em curso nas direcções subtuteladas pelo Estado. Em comum, ambas as notícias apontam para o envolvimento de funcionários das Finanças. A nível local. Pelo que se ouve e lê, estes não são casos únicos. São, isso sim, os últimos e repetições do que se passa um pouco por todo o país. Alegue-se, pode alegar-se que os factos e as acções em si abonam em favor do combate à corrupção. Certo e justo assim pensar. O que será igualmente válido em relação à PRM, Cujos esforços na formação de novos agentes não passam desapercebidos. Da mesma forma como são conhecidos os muitos casos de afastamento de elevado número de formados. Por corrupção. Trata-se, esta, de uma informação vinda, repetidas vezes, do interior da Corporação. Por vezes, até, com algum triunfalismo. Quer dizer, clarificando o raciocínio, o dinheiro gasto neste tipo de formação é, em parte significativa, inútil. Trata-se, como não é necessário lembrar, de dinheiro dos nossos impostos. Que, de outra forma, quando correctamente geridos e bem aplicados, deveriam produzir melhores resultados. Parece, pois, que se exige um maior rigor na selecção de candidatos agentes da Polícia. Assim como uma melhor ou outro tipo de formação. Talvez, até, formar menos mas formar bem. Os dados tornados públicos parassem provar que quantidade não é sinónimo de qualidade. Pelo contrário.


O primeiro-ministro conferiu posse, há poucos dias (TVM, Notícias das 11 e das 12 horas de 15 do corrente), ao director de um novo instituto. Se bem entendido, Trata-se do Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria. A notícia, ao que parece e em modesta opinião, não terá merecido devido e justo destaque nem desenvolvimento. Ao contrário de tudo quanto seja reunião e seminário. Cujas conclusões, vezes sem conta, não passam do óbvio. Quando não do ridículo. E nos dizem e repetem, por exemplo, que, afinal, as águas dos rios correm para o mar. Sempre assim foi. E assim haverá de continuar a ser enquanto se gastar rios de dinheiro em reuniões. Em vez de se gastar dinheiro no aproveitamento dessas mesmas águas. Mas, voltemos atrás na ideia exposta. Para tentar perceber o motivo pelo qual a tomada de posse do referido director foi tratada como assunto menor. Digamos que as suas palavras, após a cerimónia, não terão sido do agrado de muitos. Talvez, apenas de alguns. É que ele falou em questões éticas e morais. Da mesma forma que colocou a tónica na necessidade da formação humana. Para além, ou antes, da formação técnica e científica. Questões, afinal, que podem não ter agradado. Podem não estar a ser bem recebidas. Com quase total certeza, não. É que, ética e moral são questões incómodas.

domingo, setembro 12, 2010

É possível ir mais além

Pertencem já ao passado, em boa lógica, as manifestações populares de 1 e 2 do corrente mês. A questão que a muitos se coloca, é a de saber se poderiam ter sido evitadas. Pode ser que sim, como pode ser que não. O mais provável é que não se consiga encontrar uma resposta conclusiva e unânime. Definitiva. Que não consigamos sair do campo das hipóteses. Das especulações e das opiniões pessoais. Parece, porém, que aspecto a não perder de vista é o de antes e aquando do anúncio dos aumentos de preço de produtos e serviços terem sido feitos vários apelos. A diferentes níveis. Com a tónica na necessidade do aumento da produção e da produtividade. Um aspecto que, certamente, merece concordância. Mas que é, será, apenas um ponto de partida. Por várias razões. Uma, é que produzir mais implica haver mais condições para produzir, mais condições para se poder trabalhar. Sendo que ter trabalho não significa, obrigatoriamente, ter emprego. Que é um bem cada vez mais caro. E raro. Outra razão, é a de que o aumento da produtividade não é um processo pacífico. Quando visto e entendido à luz dos princípios definidos por Taylor. Que por aqui se instituíram como bíblia logo após a independência nacional. Há, por fim, um outro aspecto a não se perder de vista. Que vai para além do que se possa produzir na globalidade. Do que se possa produzir no mesmo tempo e no mesmo espaço e com a mesma quantidade de matérias. Trata-se da questão da distribuição. Digamos que implica uma distribuição mais justa e equitativa da riqueza produzida. Implica a definição de uma nova política de justiça social.



Parece já existirem alguns sinais neste sentido. Isto, a avaliar pelas medidas anunciadas, publicamente, pelo governo. Como é o caso da suspensão de aumentos anunciados. E da contenção de despesas públicas. A começar pelas despesas com o funcionalismo. Com os funcionários. Muitos dos quais estão habituados a gastar quanto querem em combustíveis, energia, telefones. E, por aí em diante. Sem qualquer tipo de controlo ou de apresentação de justificativos. Situação que se estende por dirigentes de empresas públicas ou comparticipadas pelo Estado. Que se estende quando não se amplia. Neste contesto, da redução das despesas públicas, parece ser possível ir mais longe. Começando pela diminuição do número de reuniões que cada ministério realiza em hotéis de luxo. Um pouco por todo o país. Com elevado número de participantes. Com excessiva duração de tempo e cujas conclusões têm poucos ou nenhuns efeitos práticos. Na melhoria das condições de vida dos cidadãos. Em termos de redução das despesas públicas, em termos de redução do despesismo, os primeiros passos são animadores. Mas, é possível ir mais além.

domingo, setembro 05, 2010

Exigimos mais respeito

Entre nós, o pão é um dos mais importantes alimentos. Principalmente a nível de centros urbanos. Acontece que a nossa produção de trigo é reduzida. É insignificante em relação às necessidades. Logo, resta o recurso à importação. Ficamos à mercê dos preços praticados no mercado internacional. E quando estes sobem, sobre o preço do produto acabado. Na nossa terra. Sobre o preço do pão. E, foi o que Aconteceu mais uma vez. Só que a subida, o aumento, não é um processo automático. Resulta de negociações e de acordo entre panificadores e governo. Como aconteceu mais uma vez. De acordo com o tornado público, pretendiam os panificadores que o aumento fosse tornado efectivo a partir de 1 do corrente mês. Depois das negociações, veio o governo dizer que só iríamos pagar mais por um metical por pão a partir de amanhã, dia 6. Acontece, porém, que algo de estranho se terá passado. É que, de facto, o pão subiu de preço na passada segunda-feira. O que significa, em primeira análise, que os panificadores não respeitarem o acordo assinado com o governo. O que a ter acontecido, será mau. Ou que, em alternativa, o governo assinou ou compromisso sem perceber o que estava a assinar. O que será estranho. De qualquer das formas, trata-se de um ponto que precisa de ser esclarecido. Por quem o dever e o poder para o fazer.


Quem possui energia eléctrica na sua residência, forçadamente, assinou contrato com a Electricidade de Moçambique (EDM). A menos que tenha feito ligação clandestina. O que não são os casos em apreço. O que acontece é que a EDM está a proceder à substituição do contador convencional por credelec. Em condomínios da cidade de Maputo. Porém, terá cometido falha grave. Ao esquecer-se de avisar os seus clientes da operação. Individualmente. E por escrito. O que fez foi enviar uma carta dirigida às comissões de moradores. Que sem se saber como ou porque artes de magia apareceu afixada em áreas comuns dos prédios. Como se as comissões de moradores tivessem alguma coisa a ver com as relações contratuais entre a EDM e os seus clientes. Ou se tivessem alguma competência legal para intervir nesta área. Acresce que a referida carta não é clara. Digamos, mesmo, que é confusa. Em vários aspectos. A começar pelo facto de não indicar, claramente, a data da mudança dos contadores. Depois, trata-se de um documento redigido em linguagem arrogante. Um documento que tanto pode ser definido com apócrifo como anónimo. Por falta de assinatura. Num mínimo, trata-se de um documento sem qualquer valor jurídico. Nem valor legal. Talvez, muito por hipótese, um documento provocatório. No máximo, revelador de uma mentalidade fascista. Resta dizer que como cientes da EDM, como clientes sem dívidas à EDM, sentimos que merecemos mais respeito. Temos o direito a exigir mais respeito. Exigimos mais respeito.