domingo, janeiro 31, 2010

Noves fora dá nada

Não raras vezes, lemos e ouvimos informações falsas. Com maior ou menor frequência no que se refere ao volume de produção agrícola. Em determinadas zonas do país. Tem vindo verificar-se uma sistemática tendência para o empolamento de dados, de números. Para a divulgação de dados de produção impossíveis de atingir. E, para comprovar a falsidade desses dados, basta colocar duas questões. Ou fazer duas equações. A primeira, para saber qual a relação entre a produção e a área cultivada. Ou seja, a quantidade produzida por hectare. A segunda, é a de saber que meios de transporte seriam necessários para escoar o que se diz ter sido produzido. Mas não terá sido. E não terá sido pelo simples facto de não possível produzir tanto em tão pouco espaço de terra. O que motiva a divulgação deste género de números, muitos conhecem. Mas poucos parecem disponíveis para lhe colocar fim. Digamos que há jornalistas e órgãos de Informação utilizados para divulgar dados falsos. Falsas informações. Informações que não correspondem com a realidade. Mas que são disponibilizadas, que são fornecidas, por agentes do Estado. Por funcionários do Estado. Aos mais diferentes níveis. O que pode significar estarmos perante um casamento por conveniência. Ou um caso de concubinagem.


Se interpreto bem o que li, terá o actual Primeiro-Ministro tido a percepção desta realidade. Vai daí, logo após ter sido empossado, decidiu visitar os Regadios de Nante e Musselo, na província da Zambézia. Relata o jornal “Magazine” que O que anda mal na óptica do primeiro-ministro (...) é a má gestão e planificação das campanhas agrícolas convista (sic) a capitalizar os recursos hídricos que ali existem. Mesmo com o rio perto com um curso de água em condições, Aly encontrou campos agrícolas secos, motobombas avariadas ou sem combustível. Acrescenta o semanário que O PM, notou também que os agricultores nem sequer recebem orientações de como fazerem a planificação da campanha agrícola, e como consequência disso, os camponeses cruzam os braços quando a chuva tarda em chegar. Mais adiante, pode ler-se: Vietnamitas vieram a Zambézia, assinaram acordos de parceria, tudo na óptica de uma boa produção de arroz, mas parece que as coisas não são assim como se propalavam. A realidade mostra o contrário. (...) As motobombas se não estão avariadas, não têm combustível. Os produtores, sem soluções, sentam e esperam até que um dia Deus deixe cair a chuva. Então, o que foi feito nos últimos cinco anos? Tantas visitas ao Vietname, discursos bonitos para nada? Parece, ao que parece, sim. Ou seja, nada. Recordo, com saudade, o primeiro mestre – escola. Que sempre aconselhava, com rigor e paternal autoridade, depois de efectuada uma simples conta: Meninos, nunca se esqueçam de tirar a prova nos nove. E nunca se esqueçam que se a conta estiver certa, noves fora dá nada. Também aqui, noves fora dá nada.

domingo, janeiro 24, 2010

Impedir que o Ensino caia no informal

Repetidas vezes, são noticiadas fraudes. Aos mais diversos níveis de ensino. Apresentando os mais diversos contornos. Na generalidade, já são conhecidas como fraudes académicas. No final, em todos os casos, o objectivo parece comum. Que é o de ter acesso a um determinado nível de estudo. Para o qual o candidato não possui os necessários conhecimentos. Ou seja, obter um documento, um certificado, um diploma, um comprovativo de determinados conhecimentos. Que não possui, que não tem. Logo, estaremos perante um caso de fraude. Com maiores ou menores reflexos na sociedade. Tanto a nível do Estado como se empresas. Públicas ou privadas. Com mais e maiores ou menores prejuízos financeiros. Para quem desejando contratar competências, com vista a melhorar o desempenho, a eficiência ou o lucro do seu sector, está a contratar incompetências. Que, não poucas vezes, são mantidas nos lugares. Para evitar escândalos públicos. Apesar do seu desempenho ser nulo. Apesar da sua incompetência, ser mais do que visível e comprovada. Na prática. Logo, implicar, exigir a contratação de terceiros. De assessorias, de consultorias. Pagas a peso de ouro. Pagas em dólares. Este é o custo da incompetência. É a parte visível do custo da incompetência. O custo real, mas não total, suportado pelo Estado.


Até ao presente e na generalidade, os chamados casos de fraude académica terão envolvido estudantes. Talvez, também alguns funcionários de secretaria. Um caso, ao que parece com características novas e inéditas, acaba de vir a público. Este, envolvendo o director científico de uma instituição do Estado. Já suspenso das suas funções. Em termos de lógica, pode compreender-se o comportamento de certos estudantes que recorrem a meios fraudulentos para atingir os seus fins. Em termos de ética e de moral, não. Em termos legais, menos ainda. Agora, no mínimo, estranho é o facto de ser um director a encabeçar uma fraude. De ser um director científico de uma instituição do Estado a entregar exemplares de exames de a um estudante para venda a potenciais interessados. Mais do que estranha, a situação levanta questões novas. Em relação `a gestão do sistema de exames. A todos os níveis. Para impedir que, também, os exames cheguem ao informal. ‘E preciso impedir que o Ensino caia no informal.

domingo, janeiro 17, 2010

As televisões podem fazer mais e muito melhor

Afirma-se, com frequência, que só não comete erros quem nada faz. A afirmação parece lógica. A afirmação parece correcta. Mas, uma questão importa clarificar. Desde já. É que cometer erro por ter feito, é uma coisa. Cometer erro por ter feito mal essa coisa constitui, igualmente, a mesma coisa. Em resumo, o erro está em fazer mal aquilo que deveria ter sido feito bem. E não o foi por falta de conhecimento. Ou por falta de capacidade ou de habilidade para a boa realização. Embora ao fazer, houvesse o desejo e a consciência de que o que estava a ser feito estava a ser bem feito. Quer dizer, nesta lógica, o erro só pode ser detectado, apreciado, avaliado, depois do que se desejava fazer ter sido feito. A menos que o erro possa ser considerado como voluntário. Evitável. Que haja quem cultive o erro por vaidade. Como forma de afirmação pessoal. De, como costuma dizer-se, dar nas vistas. Pela negativa. Comprovadamente. De resto, a vaidade pessoal não conhece limites. Como o não conhece a estupidez. Há erros, há certos erros, que não têm explicação. Alguns são erros larvares. Para os quais nenhum ser racional consegue encontrar explicação.


Em termos de televisão, estamos a assistir a um fenómeno novo. Mas, talvez pouco educativo. Pouco edificante. É que com o louvável objectivo de permitir que os telespectadores possam dar as suas opiniões, em tempo real, certos programas emitem legendas em movimento. Em alguns casos, poucas. Em outros, muitas. Mas, a questão não está no número. Está na sua qualidade. Grandes partes dessas mensagens são não inteligíveis. Não são decifráveis pelo cidadão comum. Muito menos pelo chamado homem da rua. Parecem assentes em códigos de comunicação só acessíveis a pequenas minorias. O que, em termos políticos e de unidade nacional, é extremamente perigoso. Outra parte é pedida e proposta de encontros para os mais diversos fins. Outra parte, ainda, está repleta de erros de ortografia. E, aqui, ao que tudo indica, já não estamos perante o não querer fazer bem. Estamos perante o não saber. Mas, um não saber que pode estar, quando se permita a sua continuidade, a contrariar os esforços oficiais em termos de educação da população. Na generalidade mas, sobretudo, na transmissão do conhecimento da língua oficial. Neste campo, pode afirmar-se, sem receio de desmentido, que as televisões estão a prestar um mau serviço. Que as televisões podem evitar os erros que estão a cometer. Que as televisões podem fazer mais e muito melhor.

domingo, janeiro 10, 2010

Sempre foram os pobres a pagar todas as crises

Muitas são as histórias que surgem a público sobre a construção de obras públicas. Umas por serem mal feitas. Outras por os construtores receberem parte do dinheiro e não realizarem trabalho de acordo com o contratado. Em diferentes ocasiões, ministros e governadores vieram a público exigir qualidade e responsabilidades. Principalmente em relação à edificação de escolas e de centros de saúde. Corre, também, que a adjudicação de obras por concurso público nem sempre são processos claros e transparentes. Que, por vezes, as obras públicas, ou não, adjudicadas a quem apresenta o valor mais baixo sofrem, depois, já em fase de execução acréscimos substanciais. Devido aos mais variados e diversos motivos. Sejam ou não justificáveis. Salvo melhor opinião, o factor custo não deveria ser o único em termos de adjudicação de uma obra. Deveriam ser tidos em conta outros. Como a solidez financeira da empresa e o tipo e a qualidade das obras já realizadas. Assim como uma análise técnica e financeira da proposta apresentada. Para avaliar se o valor da proposta corresponde ao volume do trabalho a realizar. Ou se, pelo contrário, constitui apenas uma maneira de ganhar o concurso. Para depois, por processos outros, vir solicitar pagamentos adicionais. Invocando as mais diversas causas.


Ao noticiar a visita que o Presidente da República efectuou às obras de modernização do Aeroporto de Maputo, o jornal “Notícias” (edição de 22 de Dezembro passado), titulou Crise mundial dita revisão dos custos. Inicia a local escrevendo que o Empreiteiro das obras de modernização e ampliação do Aeroporto Internacional do Maputo solicitou a revisão dos custos de execução daquele empreendimento, avaliado em 75 milhões de dólares norte-americanos. Tal pedido resulta de o valor inicialmente estimado ter sido corroído em consequência da crise financeira mundial. Acrescenta o matutino que No quadro da solicitação feita pela empresa construtora chinesa (...) estima-se que venham a ser necessários entre 40 a 50 milhões de dólares, valor de incremento ao investimento inicial de todo o projecto. Em termos práticos e reais, em linguagem sem artifícios, o que foi dito ao Chefe do Estado foi que Moçambique já não irá pagar 75 milhões de dólares pelas obras que estão a ser realizadas no seu principal aeroporto. Mas que terá de pagar entre 115 e 125 milhões de dólares. Devido, única e exclusivamente, à crise. Convenhamos que se trata de um acréscimo demasiado alto. E que carece de melhor justificação. De outro modo, ou a empresa construtora terá errado nos valores da proposta inicial ou está utilizar um falso argumento. Mesmo quando possa ser claro, para todos nós, que são sempre os pobres que pagam a crise. Que sempre foram os pobres a pagar todas as crises.

domingo, janeiro 03, 2010

Todos somos seres humanos

Durante vários anos, parece que a inflação baixa foi transformada em dogma. Por cá. Sabendo todos nós, mesmo simples aprendizes de economia, que a inflação baixa nunca, em tempo algum, resolveu os problemas de desenvolvimento de país nenhum. Que possa satisfazer o ego dos gestores de algumas instituições financeiras internacionais, isso sim. Mas não só. É que, para além disso, apresenta-se como condição para poderem manter os seus cargos. Os seus salários fabulosos. As suas mordomias. Por terem sido “forçados” a vir trabalhar em países como o nosso. Onde ainda se morre de malária, de cólera, de tuberculose. Também de Sida. Mas, aqui, estamos perante outro negócio. Digamos, em resumo, que ser pobre não é uma fatalidade. É, isso sim, uma inevitabilidade. No sentido em que os ricos não podem viver sem os pobres. Muito embora os pobres possam, perfeitamente, viver sem os ricos. Mesmo que isso lhes custe a vida. O que a vir a acontecer, deixaria os ricos com um dilema por resolver. É que já não havendo mais pobres, deixaria de ser necessária ajuda. E, não sendo necessária ajuda, os muitos milhares que dizem vir ajudar, que estão por cá a ajudar coisa nenhuma, ficam sem emprego. Situação que não constitui problema nenhum para nós, Moçambique. Mas que é susceptível de provocar convulsões sociais, manifestações e agitação nos seus países de origem. E, é aqui que se situa o medo dos doadores. Eles montaram uma complexa máquina que, hoje, não conseguem desmontar. Nem controlar. Podem ter criado uma armadilha de serão as primeiras vítimas. Parece que sim.


O Governador do Banco de Moçambique veio, há poucos dias (“Notícias”de 28 de Dezembro), dizer que O nível de inflação projectada passará de 2 a 3 por cento este ano para um pico de 9,5 por cento em 2010, que num cenário que para o Banco de Moçambique vai dar espaço para que a economia possa crescer. Pouco importa adiantar os argumentos do Governador do BM. O que importa, isso sim, é salientar que as águas começam a ficar separadas. E entender que há quem defende que a solução do problema do desenvolvimento de Moçambique não está em manter a inflação baixa. Reside, talvez, pelo contrário, em permitir uma inflação alta. Mas controlada. Uma inflação alta mas controlada é completamente diferente de uma inflação baixa mas descontrolada. Como tem sucedido nos últimos e muitos anos. Em que as estatísticas nada têm a ver com a realidade. Dizer, por fim, o que todos os economistas sabem. Ou, alguns preferem ignorar. Que o caminhar no sentido do acelerar da economia, exige uma maior intervenção do Estado. No sentido de minimizar, ao máximo, os custos sociais. Passar para os pobres e para os reformados, na sua totalidade, os custos do aumento dos transportes, da alimentação, da saúde, da água, da energia, pode ser um suicídio. Será uma política suicida. Há exemplos recentes de já assim ter sido. Os cidadãos são mais do que meros números estatísticos. São, em primeiro e em último lugar, homens e mulheres. Crianças e velhos. São, seres humanos. Todos somos seres humanos.