domingo, dezembro 29, 2013

O boato é inimigo da harmonia social e da paz

Um estranho fenómeno agitou, na passada semana, a cidade da Beira. Tratou-se de um boato sobre recrutamento compulsivo para o Serviço Militar. Na sua edição da última quinta – feira (página 6) o jornal “Notícias” titulava Desinformação agita Beira. E, começava por escrever que Uma desinformação cuja origem as autoridades militares, policiais e municipais ainda estão a investigar tem vindo a agitar a cidade da Beira, capital provincial de Sofala, desde a passada terça-feira. Logo a seguir pode ler-se que A agitação culminou na manhã de ontem com distúrbios que provocaram danos materiais em algumas viaturas, obstrução de vias públicas e na paralisação de algumas actividades económicas, sobretudo nos bairros de Maquinino, Manga, Macurungo, Vaz, Massamba, Goto, Praia Nova e Munhava. Mais diz o matutino de Maputo que Segundo apurámos na ronda que efectuámos por alguns bairros, um suposto recrutamento militar com características compulsivas estaria a ser alegadamente feito por militares usando viaturas civis e, noutros casos, segundo as mesmas informações, envolvendo civis também transportados em carros supostamente afectos a algumas instituições também militares. Mais nos informa a local que Face à referida desinformação e consequentes acções de vandalismo, conforme observámos, muito jovens insurrectos fizeram-se à via pública empunhando objectos contundentes e paus, incendiando pneus, virando contentores de lixo e ateando-os fogo o que só terminou depois da intervenção policial. Ainda na mesma página da referida edição, sobre esta questão, o “Notícias” titula que MDN desmente. E, logo a seguir escreve que O Ministério da Defesa Nacional refutou ontem, de forma categórica, alegações segundo as quais, na cidade da Beira, província de Sofala, está a decorrer, de há uns dias a esta parte, um recrutamento compulsivo de jovens com vista à sua incorporação no Serviço Militar. Ainda na mesma local pode ler-se que “É boato”, disse a jornalistas em Maputo, o director de Recursos Humanos do Ministério da Defesa Nacional, Edgar Cossa, explicando que o Governo tem estado a cumprir um plano anual de operações de recrutamento militar, nomeadamente o recenseamento militar, as provas de classificação e selecção e a incorporação para as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), através de editais próprios que se fixam nas províncias, distritos e postos administrativos, em todo o país. Para o mesmo funcionário da MDN, este boato é promovido por indivíduos imbuídos de má-fé, com clara intenção de criar agitação no seio da população, para o alcance de objectivos desconhecidos. Para nós, a análise não podia ser mais clara. Nem mais lógica. Resta, porém, uma questão que não pode ser considerada como marginal. Como periférica. Quem lançou o tal boato? Terão sido simples marginais mal - formados? Simplesmente. Ou terão sido pessoas que procuram atingir objectivos políticos? Que procuram obter dividendos políticos? Esperemos pelo resultado das investigações para ficar a saber. Para já, dizer que o boato é inimigo da harmonia social e da paz. Nota do Autor. Este texto foi escrito para ser publicado na passada edição. Por motivos técnicos, não chegou ao destino em tempo útil. Acredito que não tenha perdido a actualidade para ser publicado esta semana. Aqui fica.

domingo, dezembro 22, 2013

Uma coisa é informal, outra coisa é ilegal

Estão a suceder-se os actos de vandalização do sistema de abastecimento de energia eléctrica à N4. Na sua edição do passado dia 20, página 3, o “Notícias” titula: Vandalização deixa N4 às escuras. E, a abrir a local escreve que Indivíduos desconhecidos vandalizaram há dias o posto de transformação (PT) número cinco localizado na estrada Maputo/Witbank (N4) afectando a provisão de iluminação pública no troço entre o “Nó da Machava e o cruzamento da CMC, no Município da Matola. Acrescenta a notícia que Segundo Fenias Mazive, director de manutenção da Trans African Concessions (TRAC), concessionária da rodovia, esta é a quarta vez, no espaço de um mês, que o referido PT é alvo da acção dos malfeitores, cuja acção consiste na retirada de disjuntores industriais e contadores, presumivelmente para venda no mercado informal. Ainda segundo a notícia, existe em toda a extensão da N4 em território moçambicano, um total de dez postos de transformação instalados em vários pontos da via (...) mas o PT úmero cinco, localizado junto à terminal da FRIGO é a que tem sido mais visada nas acções dos malfeitores, que de acordo com a leitura de Mazive, podem ser indivíduos conhecedores da área da electricidade, a medir pela perícia com que actuam para retirar os equipamentos instalados sem sequer cortar o sistema normal de fornecimento de energia eléctrica. Nem sequer parece necessário continuar a transcrever por aí em diante. Podemos ficar por aqui. O que se sabe é bastante. Para não dizer muito. Importa, pois colocar algumas questões. Pertinentes. Perante o relatado, o noticiado, pode perguntar-se se está a ser feito tudo quanto é possível fazer para neutralizar os vândalos, os sabotadores. E evitar este género de situações. Ao que parece não. A primeira questão que se deve e pode colocar é quanto vale cada uma das peças roubadas. Mesmo quando no informal. E para que servem. Que utilidades têm no informal. E, por aí em diante. Ora, sabendo-se, como parece, que as tais peças têm comprador no informal, talvez seja pertinente iniciar uma investigação por aí. Pelo Informal. Para se saber quem recebe e quem compra o material roubado. Seria um exercício útil. Mas, também necessário para se perceber quem é quem no informal. Afinal, o informal é constituído por homens e por mulheres. Por seres humanos. E informal até pode nem ser sinónimo de ilegal. Nem sempre é. Uma coisa é informal, outra coisa é ilegal.

domingo, dezembro 15, 2013

Passem todos bem

Há muitos anos dizia-se, cá entre nós, que a televisão era o espelho da vaidade dos dirigentes. Isto em referência à realidade de então na Guiné-Bissau. Mas, e ao que parece a moda de então deslocou-se depressa da costa para a contra - costa de África. E, hoje, aí a temos nós. Fresquinha. Acabada de chegar. Como hoje temos, também, um candidato e presidente municipal que promete aos seus eleitores um canal televisivo local. Titula o jornal “Notícias”, página 7 da sua edição do passado dia 12, que Frelimo quer canal televisivo para Nacala. Logo a seguir, o matutino de Maputo escreve que O candidato da Frelimo à presidência do município de Nacala-Porto, Rui Chong Saw prometeu que caso seja eleito para ocupar aquele cargo nas eleições de 20 de Novembro corrente vai no seu mandato abrir um canal televisivo local que irá se ocupar de transmitir todas as informações que ocorrem naquela autarquia. Ao que lemos na mesma local, o bom do homem, qual santo milagreiro, diz mais: Nesta da praia vou institucionalizar um festival anual de música, onde irão actuar músicos dos EUA, Brasil, Angola, Portugal, para além de moçambicanos, onde os artistas locais vão poder desfilar ao lado de outros renomados internacionalmente, prometeu o jovem empresário. É caso para dizer, força jovem Ruca, como é popularmente conhecido (...). E, já agora, se perguntar não ofende, onde é que vai encaixar essa questão do canal televisivo para Nacala e o tal de festival anual de música no programa geral da Frelimo. Será que esta Frelimo, que lutou até conseguir a independência de Moçambique, apoia hoje pseudo-revolucionários no norte e conservadores no sul do país No meio de tudo isto, parece estar a haver algum oportunismo. Muito oportunismo e demasiados oportunistas. O que obriga a dizer, Abaixo os oportunistas. A primeira questão que deve ser colocada, chegados a este ponto, é se o tal de Ruça faz alguma ideia dos custos de um canal televisivo. Mesmo quando, simplesmente, local e para satisfazer a vaidade saloia de um dirigente local. Certamente não faz. Estamos a falar em termos de custos de equipamentos. Em termos de custos de operação. Em termos de custos de manutenção. E por aí em diante. Como, por exemplo, em termos de custos de hora de produção. Que são tão altos que a própria TVM já se rendeu à realidade do mercado. Por isso nos massacra com essas novelas mexicanas de pouca qualidade. E com esses programas chineses que têm nada a ver com a nossa realidade cultural. Mas esta é a nossa realidade. E, todos sabemos que quem tem um Chavana não pode ter tudo. Tem apenas um Chavana e nada mais. O mesmo é dizer que ter um pateta, um lambe-botas, sempre é melhor que ter dois. Ou três. Tem menos capacidade de incomodar. E menos tempo. Mas, a questão final que me permito colocar, é simples: Quais os benefícios para os residentes em Nacala sobre esse tal canal televisivo. Muito provavelmente poucos. Ou nenhuns. Se assim, passem todos bem.

domingo, dezembro 08, 2013

Vamos a isso

Como é de todos nós conhecido, nos últimos tempos, várias cidades moçambicanas têm sido palco de raptos. De adultos e de crianças. De várias nacionalidades. E de pedidos de elevados valores monetários pela libertação dos sequestrados. O que, naturalmente, provoca naturais problemas psicológicos entre as famílias das vítimas. Outro tanto no desenvolvimento das suas actividades económicas. Sobre o “quem é quem” neste processo, muito se tem especulado. Há quem diz não entender nem perceber o que se está a passar. Como há quem diz saber tudo. Ao certo, sabemos todos pouco. Quase nada. Num recente julgamento de raptores, estavam alguns agentes policiais. Que foram condenados a pesadas penas de prisão. Já mais recentemente, vieram notícias a público do envolvimento d agentes da PRM no caso de um outro rapto. Com o título Raptam motorista por engano, o “Notícias” da passada quinta-feira, (primeira página) escreve que Quatro agentes da PRM estão indiciados num recente caso de rapto falhado do proprietário da Basra Motores, uma empresa dedicada à venda de viaturas na cidade de Maputo. O cabecilha do grupo, identificado por I. Cândido, está detido desde a passada segunda-feira no Comando dac Força de Intervenção Rápida na cidade de Maputo, juntamente com um agente da Polícia de Trânsito cujo nome ficou-se por saber, estando a corporação à procura de outros dois colegas agora foragidos. Ainda segundo a local, o referido indivíduo, terá chefiado o grupo de polícias que por engano raptou o motorista da Basra Motores confundindo-o com o patrão daquela empresa de venda de viaturas. Ainda segundo o jornal “Notícias” Como resultado das dilig6encias que terão sido já efectuadas pela Polícia para esclarecer o caso, este agente de Trânsito terá indicado I. Cândido como cabecilha do grupo. Recorde-se que colocado `frente do seu colega I. Cândido ele confirmou tratar-se da pessoa que comandou o rapto falhado em Boane. Ao que estamos a perceber, a nossa realidade é uma realidade de polícias e de ladrões. Sendo que não é de polícias ladrões. O que se apresenta como bem mais grave e mais preocupante. O que se está a passar em Moçambique, no momento presente, faz-nos recuar no tempo. E recordar o que é a história do Oeste americano de há muitas décadas atrás. E, o que se terá passado no Brasil em décadas mais recentes. No tempo dos chamados “esquadrões da morte”. Quem se lembre desse então, tem espaço suficiente para fazer a analogia. Entre as três realidades em tempos diferentes. E, até, se quiser juntar alguma dose de imaginação, questionar se entre a instabilidade criada na comunidade portuguesa em Moçambique, com a questão, não há por aí algumas mãozinhas estranhas. Se não há por aí algumas mãozinhas, pouco limpas De alguns antigos agentes da PIDE. Até pode haver. A questão está em abrirem os olhos e verem. Ainda segundo a local do “Notícias” As autoridades policiais garantem que tudo farão no sentido de purificar as fileiras, uma vez constatar-se que alguns elementos em exercício na corporação estão ao serviço do crime organizado. A pergunta que se coloca, talvez com ingenuidade, é se são apenas alguns elementos. Pode ser que não. Talvez seja necessário purificar da base ao topo e do topo à base. Vamos a isso.

domingo, dezembro 01, 2013

Quem não sabe é como quem não vê

Os recentes casos de raptos, em diferentes cidades moçambicanas, parecem que estão a dar origem a um novo tipo de linguagem. Em alguns jornais. E, naturalmente, por parte de alguns jornalistas. Por receio, por medo de darem o nome certo, o nome correcto, a determinada situação. Ou simplesmente por desconhecerem o significado de determinada palavra. Num determinado contexto. Refiro-me no caso concreto à palavra Suposto. Vejamos um exemplo. Na sua edição do dia 30 do mês findo (página 5) o jornal “Notícias”, reportando sobre um rapto da cidade da Beira, titula Informação sobre o rapto chegou tarde à Polícia. E, escreve a determinado passo que O jovem raptado no passado dia 22 na cidade da Beira, foi encontrado morto na manhã desta segunda-feira, algures em Dondo onde supostamente teria sido sequestrado. Mais nos informa o matutino que Segundo fontes contactadas pelo nosso jornal na cidade da Beira os supostos raptores inicialmente pediram o resgate de um milhão de dólares norte-americanos, valor que não foi satisfeito pelos pais, uma vez que não o tinham. Se na primeira citação o emprego da palavra supostamente não merece contestação, o mesmo parece não acontecer na segunda. Se, como leitor, bem entendo, no primeiro caso está a querer dizer-se que não há a certeza que o menor tenha sido raptado naquele local. No segundo caso, parece querer dizer-se não há a certeza de terem havido raptadores. Mas houve. O que não se sabe é quem foram. Quem são. Partindo do princípio elementar que não pode haver raptos sem raptores. Houve raptores. O que não se sabe é quem foram ou quem são. Vejamos o que esclarece o Dicionário da Língua Portuguesa de Fernando J. Da Silva Suposto (...) hipotético; fictício, imaginário; s. m. aquilo que subsiste por si, coisa suposta, substância. Convenhamos que os raptos não são coisa suposta. É isso sim, e muito pelo contrário, uma realidade por demais dolorosa para muitos moçambicanos. Tenhamos a capacidade de admitir que a cada situação se aplica uma palavra adequada. Convenhamos que consultar um dicionário é, em si, um acto de sabedoria. Tenhamos presente o adágio popular segundo o qual quem não sabe é como quem não vê.