domingo, fevereiro 22, 2009

que cada qual resolva os seus problemas caseiros

Tenho de confessar que sou pouco dado a escrever sobre a coisa desportiva. Sobre desporto. Principalmente, sobre futebol. Já o fiz em tempos idos. Há muito. Passam mais de quatro décadas. Depois, com a leitura de textos de alguns sociólogos do fenómeno desportivo, comecei a aperceber-me de uma outra realidade. Da outra realidade que fica ou que está para além da verdade desportiva. Para além daquilo que é o resultado que se obtém competindo em igualdade de circunstâncias. Ou seja, com o mesmo número de participantes e com as mesmas regras. Em muitos campos, importa referir, registou-se uma grande evolução desde os idos anos 60/70. Para melhor. Mas, em outros casos para pior. Se não assim, parece líquido que, situações há em que o resultado final de um jogo colectivo continua a não depender exclusivamente de dois contendores. De duas equipas. Depende também de terceiros. Seja, da equipa de arbitragem. Recordo que, nesses tempos, muitos de nós terminavam as suas crónicas com uma mentira piedosa. Dizendo, que tinha havido erros de arbitragem mas sem influência no resultado. É que, em princípio, um erro do árbitro tem sempre influência no resultado. Quer de forma directa, quer indirecta. Se, e em última análise, a sua decisão afecta o comportamento dos jogadores e o seu comportamento colectivo.


No panorama desportivo nacional actual, as esperanças de ver equipas moçambicanas continuarem nas Afro Taças, ruíram. E, foi pena que assim tenha acontecido, depois de uma primeira jornada com resultados promissores. A realidade é que, depois do somatórios dos dois jogos, seguiram em frente os mais hábeis, os mais astutos, os mais aptos, os mais fortes. Sobre esta questão, parece ter ficado dúvida nenhuma. Nem reclamação, nem protesto. De resto, o facto de duas equipas nacionais de futebol não terem conseguido ir mais além do que foram, significa o que significa. Significa, simplesmente, que foram derrotadas por adversários mais fortes. Mais poderosos. Estamos, como já se terá compreendido, por ser claro, a falar de clubes. E, as derrotas de um dois clubes nacionais de futebol, em competições africanas, em momento algum pode remeter para além de um problema dos próprios clubes. De um problema desse clube, da sua direcção, da sua massa associativa. A derrota de um clube moçambicano de futebol em competições africanas, não é, como se possa estar a tentar fazer crer, uma vergonha nem uma tragédia nacional. Para todos nós, felizmente que não é. Aceitar o contrário, é entrar pela via de um chauvinismo de contornos perigosos. Valha, pelo menos, neste contexto, a palavra de quem tem a lucidez de afirmar que com ovos podres não de podem fazer omeletes. O que equivale a afirmar que o problema é caseiro. Doméstico. De um clube. De clubes. E, não nacional. Então, que cada qual resolva os seus problemas caseiros.

domingo, fevereiro 15, 2009

apanhar boleia no último combóio em andamento

Passou mais um aniversário da morte de Eduardo Mondlane. Herói Nacional. Assassinado fez 40 anos. Este 3 de Fevereiro terá sido diferente da maioria, se não de todos os anteriores. Por vários motivos. O primeiro do quais, a festa, as comemorações terem tido lugar na terra natal do Arquitecto da Unidade Nacional. Aonde se fizeram deslocar algumas dezenas de milhar de pessoas. Do que foi a festa e a homenagem, já se ocuparam os cronistas da terra. Em diferentes e variados espaços informativos. A televisão pública nacional permitiu-nos assistir a cada compasso das comemorações. Em tempo real e sem termos de sair de casa. Através da sua transmissão em directo. No cômputo geral, podemos dizer que as cerimónias não surpreenderem só pela positiva. Podemos dizer que também surpreenderam pela negativa.

Faz parte do jogo democrático, faz parte da política. Todos o sabemos. Os partidos podem coligar-se. Podem formar alianças. Temporárias, ou não. Em função ou para tentarem atingir determinados objectivos. Até podem, se assim ou quando o entenderem, fundir-se. Entre nós, ainda não é o caso. Ainda estamos numa fase chamada “oposição construtiva”. Pode até acontecer que não passe de tal. No entretanto, seria bom explicar, clarificar, o significado de “oposição construtiva”. Porque os seus contornos, os seus objectivos, a sua estratégia, são pouco claros. E, estes aspectos parece terem sido evidentes na homenagem a Eduardo Mondlane, neste último 3 de Fevereiro. O país, de facto, precisa de novas ideias e de propostas alternativas para melhorar a governação. Em benefício dos mais desfavorecidos. Precisa de uma oposição. Precisa de oposição. Como condição básica e fundamental para rever conceitos e ideias. Quando assim seja necessário. Para permitir avançar no sentido do progresso e do desenvolvimento. Ora, neste dia de homenagem a Mondlane, a oposição mostrou não ter ideias. Muito menos ideias novas. Foi, se assim se pode dizer, pela sua parte, uma homenagem pela negativa. Uma contra homenagem. Sem dúvida, esperava-se mais da auto intitulada “oposição construtiva”. Esperava-se, no mínimo, não ter de a ouvir tratar os presentes por camaradas. E dar vivas à FRELIMO. O homenageado, na data e na ocasião, era apenas Eduardo Mondlane. Que merece bem mais. Bem mais do que uma tantas vénias de servis serviçais ditos oposicionistas. Nos tempos actuais. A oposição, não resulta de decreto. Nem de nenhuma lei. A oposição não pode, em momento algum, definir-se, a si própria, como construtiva ou como destrutiva. A oposição é uma prática. E faz parte de um processo inacabado e inacabável. Nada é definitivo, nada é perfeito, nada é eterno. Tudo muda, tudo está em constante mudança. Num tempo e num espaço que se rege por leis que não sabemos, ainda, controlar. Que não dominamos. Ora, se assim, esta oposição que se define a si própria de construtiva, parece pretender ser oposição a uma outra. A uma outra oposição. Mas, a uma outra oposição cujos contornos não define. Logo, a uma oposição que não existe. Por exclusão de partes, se não existe oposição à oposição dita construtiva, não pode existir oposição. Não há oposição. O que há, isso sim, o que parece haver, é coisa diferente. È uma tentativa de apanhar boleia. De apanhar boleia no último combóio em andamento.

domingo, fevereiro 01, 2009

pagar para falar ou pagar para ficar calado

Começou já o processo de tomada de posse dos vencedores das últimas eleições autárquicas. No dia em que tal aconteceu, o presidente da RENAMO encontrava-se em Nacala. Em campanha de mobilização no único município onde poderá obter uma e a única vitória municipal. É que em Nacala haverá segunda volta eleitoral. Anteriormente, ele havia defendido que todos os candidatos derrotados do seu partido deveriam tomar posse ao mesmo tempo que os presidentes eleitos. O que, em primeira análise, constitui uma aberração. Uma monstruosidade. Um disparate. Em segunda, uma tal tomada de posse, a acontecer, não teria qualquer base legal. E, antes, nenhuma legitimidade. Digamos não ser mais do que um arremedo de política. Do que política do pontapé, de política do bota abaixo. Se assim o entendeu ou não, Eduardo Namburete, candidato à presidência da cidade de Maputo, veio a público (Notícias de 27.01.09 – pag. 3) dizer que será contra-senso tomar posse ao mesmo tempo que o presidente eleito. Acrescenta o matutino que, Assim, Eduardo Namburete poderá desobedecer o presidente do seu partido que revela pela segunda vez o empossamento paralelo dos “seus presidentes”.. Pode e deve recordar-se que o presidente da RENAMO fez questão de apresentar, publica e pessoalmente, o candidato do seu partido à presidência de Maputo. Também se deve dizer, que o putativo “pai da democracia” parece estar a ser pago. Uma vezes para ficar calado, outras para falar. Sendo que, quando não fala tem a seu favor a grande vantagem de não dizer disparates. Muito embora, e isso parece universal, quando se é líder, mesmo que não por mérito próprio mas por imposição externa, seja necessário, de quando em vez, falar. Sendo que, este falar ou falar disparatado possa implicar ter de vir a engolir alguns sapos vivos. Assim o exige quem paga. Quem está, calmamente, sentado na plateia a assistir ao filme. Um filme produzido no estrangeiro e que tem como actores marionetas moçambicanos.


Ao invés do que se passa com muitos e diversos produtos, que estão a merecer certificado de origem nacional, a RENAMO não o poderá merecer. A história assim o diz. Ela, tendo como base matéria prima nacional, foi criada a objectivada para servir interesses estrangeiros. Políticos e económicos. Primeiro, da Rodésia do Sul. Depois, da África do Sul racista. Por fim, de um Portugal à deriva. Quimérico e sebastianista, saudosista. De um Portugal que já não tinha caravelas para regressar carregadas de especiarias das Índias nem de madeiras, de ouro, de marfins e de aves raras de África. Mas, de um Portugal convicto de que, através da criação de dissidências internas, entre as elites internas, poderia permanecer. Continuar a dominar. Daí, o ter criado um novo mito. Numa tentativa de substituição de o desejado. Mas, Afonso, o nosso, o nativo, não é sinónimo de Sebastião. Nem a ele se pode comparar. Disso nos dá conta um general, reformado, da secreta militar portuguesa. Em livro com centenas de páginas. Um livro que vale a pena ler. E de cuja leitura se pode concluir que o Afonso foi um aposta errada. Ou que não. Que pode ser a quem se pode pagar para falar ou pagar para ficar calado.