domingo, setembro 27, 2009

uma palhaçada

Parece estar a haver alguma falta de compreensão, alguma descoordenação, em termos de combate às causas dos acidentes rodoviários. Por um lado, apontam-se as principais causas de morte nas estradas. Por outro, são lançadas campanhas para atingir aquilo a que se pode chamar de públicos alvos diferentes. Digamos que as campanhas publicitárias lançadas pelo INAV não estão ser orientadas no sentido de atingirem os principais causadores dos acidentes. A avaliar pelas estatísticas da referida Instituição. Nem as principais vítimas. Com conselhos no sentido de se precaverem. De se defenderem de uma morte anunciada. Se assim, esta ausência de estratégia correcta poderá fazer revelar como pouco útil um esforço a todos os títulos louvável. Convenhamos e fiquemos claros, em alguns aspectos. Uma campanha de prevenção rodoviária exige estudo e análise profundas. Sobre causas e comportamentos. Sobre estatísticas. Sobre os locais de maior prevalência de sinistros. Não é, nem pode ser, o simples encomendar de meia dúzia de cartazes. Nem de frases bonitas ou de belo efeito. A uma qualquer agência de publicidade. Por mais reputada que possa ser.


Muito já foi dito e escrito sobre centros de inspecção técnica das viaturas. Muitas vezes, estamos perante informação contraditória. Ora os referidos centros começam a funcionar numa determinada data, ora noutra data mais além. Agora, talvez se possa concluir que não fazem falta. Que não fazem falta nenhuma. Ou que não são necessários. Pelo menos, esta será a conclusão primária de uma publicidade feita inserir pelo INAV na última edição do jornal “Magazine”. Diz o texto publicitário que “Não é o carro que é seguro! É você, o CONDUTOR”. N o canto esquerdo deste rodapé, pode ver-se a imagem de uma viatura praticamente destruída. Em que o único elemento bem visível é o símbolo da Mercedes. Ora, seguindo a lógica da publicidade, se não é o carro que é seguro tem lógica nenhuma submeter viaturas a inspecções técnicas periódicas. Será um exercício inútil. Depois, tentar associar o elevado número de mortes nas estradas a uma das mais prestigiadas marcas de viaturas ligeiras, é um exercício pouco digno. Sem dignidade. Sendo que não sou, próximo do representante da marca Mercedes em Moçambique, fico preocupado com a forma como esta campanha está a ser orientada. Que pode, muito bem, não passar de uma campanha desorientada. Mal dirigida e mal orientada. Como pode não passar de uma palhaçada.

domingo, setembro 20, 2009

valorizar o saber fazer

Nos últimos anos, temos vindo a assistir a uma significativa distorção na forma de definição e atribuição de salários. Quer a nível de aparelho do Estado, quer das empresas públicas. E, muito por hipótese, não só. O que acontece, o que tem vindo a acontecer, o que está a acontecer, é que qualquer graduado do Ensino Superior, tem direito a salário conforme ao seu grau académico. Conforme ao grau académico que lhe foi conferido por uma qualquer universidade. Independentemente de este ter, ou não ter, qualquer relação ou qualquer afinidade com a actividade profissional que exerça. Independentemente de o grau académico, conseguido com louvável esforço pessoal, poder representar um melhor desempenho profissional. Ou não. De trazer mais rendimento para a entidade empregadora. Ou não. Seja esta Estado ou seja empresa. Sendo de louvar e de incentivar, repita-se, o esforço pessoal em elevar os conhecimentos académicos, tal parece não ser suficiente, tal pode não ser condição única, para justificar salário. Pelo menos e quando ou sempre que essa formação não entrose, não corresponda às necessidades do local de trabalho. Tenhamos em atenção que, por hipótese, muitas das vezes, a escolha de um curso será ditada mais em função das vagas existentes em universidades. Do que pela vocação do aluno ou pelas necessidades da entidade empregadora. Sendo, ao que parece, uma realidade recente, pode ser uma realidade que necessita de ser corrigida. Será. É. Ter um diploma, não pode continuar a ser tudo. Não deve ser critério primeiro nem primário na atribuição do salário. Menos, por hipótese, único.


Na sua edição de 16 do corrente mês, o “Notícias” fazia eco, na primeira página, de uma posição de Narciso Matos, director executivo da FDC, por ocasião da semana do Ensino Técnico-Profissional, e titulava Valorizar o saber fazer ao invés do diploma. A local começa por nos dizer que A sociedade deve valorizar mais as competências dos quadros formados nas instituições do Ensino Técnico-Profissionais, o seu saber fazer, deixando de prestigiar apenas os graduados de nível superior, por simplesmente ostentarem um diploma com aquelas habilitações. Segundo a mesma notícia, Narciso Matos comparou a existência de 75 mil estudantes universitários contra os 48 mil cursantes do Ensino Técnico-Profissional no país a um exército com mais generais que simples soldados. E, disse mais. Disse que nos estágio actual o país precisa mais de cidadãos formados no domínio técnico-profissional, que propriamente de quadros superiores, muitas vezes incapazes de resolver questões práticas com conhecimento próprio. Digamos, por palavras outras e diferentes, que temos de saber passar a valorizar a competência. E a colocar em plano secundário o conhecimento académico, muitas vezes sem qualquer relação com a realidade económica, social e política local. Quando não nacional. Um aspecto parece fundamental e primário. É preciso mudar alguma coisa. Talvez, até, mudar muita coisa. Para valorizar o saber fazer.

domingo, setembro 13, 2009

Tirar o espaço de manobra aos oportunistas e aos vigaristas

A poucos dias do início da campanha eleitoral, existe um ambiente político pouco pacífico. Em virtude de a Comissão Nacional de Eleições, CNE, haver rejeitado significativo número de candidaturas. Cujas causas prometeu explicar. Em separado, a cada um dos partidos. O que ainda não tinha acontecido à hora e no dia em que escrevo. Explicação essa que, convenhamos, desde já, como método de trabalho parece ser correcto. O que se pode pedir, neste contexto, é que se quando e onde a CNE possa ter cometido erro, faça a sua correcção. Que proceda ao reparo do errado. Por outro lado, quando o erro ou a falha seja dos partidos, que também estes aceitem não terem cumprido o legislado. Ou que não estando em condições de cumprir o seu dever, ficam impedidos de ir mais além. Do que já foram. Do até aqui. Parece claro que a situação exige capacidade de diálogo. De um diálogo sério e honesto. De um diálogo sem subterfúgios. Exige, também, e talvez ainda mais, tolerância. Sobretudo tolerância. O subir do tom de voz, as ameaças de boicote, as tentativas de chantagem, nenhum problema irão resolver. Menos ainda poderão dignificar o processo eleitoral e os respectivos concorrentes. Protestar é lógico e é um direito. Dentro dos limites que todos conhecemos.


Em processo eleitoral anterior, registaram-se erros e falhas que, agora, podem ser evitados. Prevenidos. Aconteceu em algumas mesas de voto o que não se encontra explicação para poder ter acontecido. Na ocasião, como hoje, como agora, à distância no tempo. Foi na Escola Secundária da Polana. Onde jovens sem conhecimento da Lei, ou mal formados, talvez deformados, fizeram da sua vontade Lei. Se é permitido o termo, transformaram um acto digno e nobre, numa bagunça. Numa bagunçada. Clarifiquemos a situação. Na referida Assembleia de voto, houve mesas que funcionaram bem. Onde foi respeitada a Lei. Em, outras não. Onde aconteceu a ordem de chegada e a posição na fila de votação não foi respeitada. Como não foram respeitadas as grávidas. Nem os idosos. Imperou o amiguismo e o companheirismo da copofonia. Muito exibicionistas passaram à frente de pessoas que ali tinham chegado, em muitos casos, hà mais de cinco horas. O protesto dos lesados teve como resposta ameaças. Ameaças físicas veladas. A CNE tem o dever e a obrigação de evitar a repetição deste género de comportamentos. Deve definir, claramente, a quem não se exige que respeite a ordem de chegada ao local. Quem tem prioridade de votar sobre quem. E tornar pública a sua decisão. Para evitar, de uma vez por todas, que meia dúzia de imbecis e de cretinos tenham o poder de transformar a sua vontade e o seu desejo em lei. E que, em paralelo, todos aqueles que se sintam lesados tenham um instrumento legal para suporte do seu protesto. Em definitivo, a CNE tem a obrigação, moral e legal, de tirar o espaço de manobra aos oportunistas e aos vigaristas.

domingo, setembro 06, 2009

O Estado tem estar acima da vontade dos criminosos

Quando a ideia foi lançada, parecia não ter sentido. Quando a proposta foi tornada pública, parecia, até, não ter um mínimo de lógica. Ao tempo, pareceu algo de descabido. Refiro-me à ideia e à proposta da advogada de defesa de Carlos Cardoso. No sentido de o condenado pelo assassinato, no sentido de “Anibalzinho” ir cumprir a sua pena de prisão em Portugal. Pareceu-me, ao tempo, haver demasiada falta de confiança no sistema prisional moçambicano. Pareceu-me, talvez pior ainda, não ser digno de um Estado soberano solicitar a outro Estado soberano a guarda de um assassino. Que mesmo tendo sido condenado em Tribunal competente por assassinato, não parecia ser criminoso perigoso. E não o será. Não o é. Até prova em contrário. Mas o tempo, e nestas questões o tempo parece ser o melhor conselheiro, a advogada tinha inteira razão. Estava dentro da razão lógica. É que teve uma visão e uma visão de longo prazo que nós outros não. Se, na proposta e na lógica da advogada, “Anibalzinho” tivesse, de facto, sido mandado cumprir a sua pena em Portugal, nós outros, nós todos, teríamos sido poupados aos sucessivos episódios de uma comédia. Ou de uma farsa. Que parece não mais ter fim. Este prende para soltar e solta para voltar a prender, não terá lembrado nem a Maquiavel. Se tivesse, se tivesse lembrado, nunca teria sido escrito o “Príncipe”. Mas, talvez, por hipótese, um tratado sobre a forma de “Viver em liberdade quando encarcerado em prisão de máxima segurança”. Ou, por exemplo, “Onde reside o poder numa República africana”. O que, hoje, parece claro e concreto é a existência de uma forte corrente, de uma grande pressão, no sentido de transformar um criminoso em mito. Sendo que os mitos se alimentam, inevitavelmente, de ritos. E, todo este exercício ritual está a ir no sentido de criar uma falsa imagem do criminoso. Do assassino. As imagens que estão a ser dadas às crianças, não são imagens de alguém que foi pago para matar. E, que matou. São imagens de um algemado a ser conduzido à prisão sob forte protecção. Sob forte escolta policial. Com o poder de impedir, quando assim o entendeu, a progressão de jornalistas. De facto, em resumo, o poder pode residir nas armas. Nos fuzis. Sempre foi assim. A verdade, não. A pesquisa verdade, que resulta da dúvida permanente, reside da liberdade de agir, de pensar. Só os livres pensadores podem ser considerados homens livres.


Com o passar do tempo e o desejo e a vontade do comunicador, as versões sobre quem deteve e como foi detido “Anibalzinho” variam. É pacífico e é verdade que cada qual conta a sua versão. O que significa que todos sabem pouco sobre o que se passou ou que, estão, a dizer bem menos do que aquilo que sabem. É irrelevante. Relevante é ter havido dois ministros que se comprometam, publicamente, há mais de uma semana, a dizerem em que prisão iria ficar “Anibalzinho”. Até hoje, não o fizeram. O que dá matéria para muita e variada especulação. Estamos a acreditar que um Estado de Direito, que o Estado de Direito que é Moçambique, que o Estado não pode estar cativo da vontade de um criminoso. O Estado tem estar acima da vontade dos criminosos.