domingo, setembro 06, 2009

O Estado tem estar acima da vontade dos criminosos

Quando a ideia foi lançada, parecia não ter sentido. Quando a proposta foi tornada pública, parecia, até, não ter um mínimo de lógica. Ao tempo, pareceu algo de descabido. Refiro-me à ideia e à proposta da advogada de defesa de Carlos Cardoso. No sentido de o condenado pelo assassinato, no sentido de “Anibalzinho” ir cumprir a sua pena de prisão em Portugal. Pareceu-me, ao tempo, haver demasiada falta de confiança no sistema prisional moçambicano. Pareceu-me, talvez pior ainda, não ser digno de um Estado soberano solicitar a outro Estado soberano a guarda de um assassino. Que mesmo tendo sido condenado em Tribunal competente por assassinato, não parecia ser criminoso perigoso. E não o será. Não o é. Até prova em contrário. Mas o tempo, e nestas questões o tempo parece ser o melhor conselheiro, a advogada tinha inteira razão. Estava dentro da razão lógica. É que teve uma visão e uma visão de longo prazo que nós outros não. Se, na proposta e na lógica da advogada, “Anibalzinho” tivesse, de facto, sido mandado cumprir a sua pena em Portugal, nós outros, nós todos, teríamos sido poupados aos sucessivos episódios de uma comédia. Ou de uma farsa. Que parece não mais ter fim. Este prende para soltar e solta para voltar a prender, não terá lembrado nem a Maquiavel. Se tivesse, se tivesse lembrado, nunca teria sido escrito o “Príncipe”. Mas, talvez, por hipótese, um tratado sobre a forma de “Viver em liberdade quando encarcerado em prisão de máxima segurança”. Ou, por exemplo, “Onde reside o poder numa República africana”. O que, hoje, parece claro e concreto é a existência de uma forte corrente, de uma grande pressão, no sentido de transformar um criminoso em mito. Sendo que os mitos se alimentam, inevitavelmente, de ritos. E, todo este exercício ritual está a ir no sentido de criar uma falsa imagem do criminoso. Do assassino. As imagens que estão a ser dadas às crianças, não são imagens de alguém que foi pago para matar. E, que matou. São imagens de um algemado a ser conduzido à prisão sob forte protecção. Sob forte escolta policial. Com o poder de impedir, quando assim o entendeu, a progressão de jornalistas. De facto, em resumo, o poder pode residir nas armas. Nos fuzis. Sempre foi assim. A verdade, não. A pesquisa verdade, que resulta da dúvida permanente, reside da liberdade de agir, de pensar. Só os livres pensadores podem ser considerados homens livres.


Com o passar do tempo e o desejo e a vontade do comunicador, as versões sobre quem deteve e como foi detido “Anibalzinho” variam. É pacífico e é verdade que cada qual conta a sua versão. O que significa que todos sabem pouco sobre o que se passou ou que, estão, a dizer bem menos do que aquilo que sabem. É irrelevante. Relevante é ter havido dois ministros que se comprometam, publicamente, há mais de uma semana, a dizerem em que prisão iria ficar “Anibalzinho”. Até hoje, não o fizeram. O que dá matéria para muita e variada especulação. Estamos a acreditar que um Estado de Direito, que o Estado de Direito que é Moçambique, que o Estado não pode estar cativo da vontade de um criminoso. O Estado tem estar acima da vontade dos criminosos.