domingo, dezembro 09, 2007

brincadeiras perigosas

Com frequência, ficamos a saber, através de diferentes órgãos de Informação, de fugas de presos das mais diversas cadeias. Ou da captura dos fugitivos. Fugitivos que, em muitos dos casos, há quem diga serem perigosos cadastrados. Logo, quando a Polícia captura um desses fugitivos, não capturou um pilantra, um ladrão de galinhas ou um sacador de telemóveis. Capturo um perigoso cadastrado. E, o atributivo, ou se assim se quiser, o adjectivo, em primeiro lugar dá jeito à Polícia. Afinal, ela, Polícia, sem ou com poucos meios, tem saberes e conheceres, tem artes e manhas para capturar prisioneiros fugitivos. E, estes sabem, também, que quando capturados adquirem e passam a ter novo estatuto. Perante a população prisional e perante a sociedade civil. Passam a figurar como perigosos cadastrados. Mesmo que, antes, nunca o tenham sido. Então, fica a dúvida. Fica a dúvida sobre se muitas das histórias rocambolescas, que têm direito a letra de Imprensa, servem para mais do que à criação de mitos. Ou de falsos heróis. Seja do herói bandido ou do bandido herói. Que em última análise vence o polícia. Símbolo e representante da Lei, da Ordem, do Poder e do Estado.


Conhecemos e sabemos das fragilidades do nosso sistema prisional E do sistema de Justiça. Que não julga com celeridade nem com rapidez. Acontece que, para além destes aí pouco ou nada sabemos. Mas, é, afigura-se importante saber. Para não termos de continuar a ser confrontados que versões de sucedidos que sequer convencem crianças do ensino primário. Por exemplo, quando se diz que “Anibalzinho” não aderiu ao plano de fuga do tal perigoso cadastrado, agora capturado, temos de saber o que se pretende dizer e o que se pretende encobrir. Teremos de saber, com clareza, se quem manda nas Cadeias são os criminosos os polícias. E, se estes têm poderes discricionários para deixar sair uns e matar outros. Ou em última hipótese, ambos os poderes. Se a fuga deste tal de “Todinho” ainda está envolta em mistérios, a sua captura não deixa de o estar menos. E, pode, até, sugerir, pelos relatos da Imprensa, que tenha estado a funcionar como agente “duplo”. Sendo que, ao ter falhado no plano para libertar “Anibalzinho”, tenha regressado à cela donde não devia ter sido. Donde devia ter evitado sair. A realidade dos factos, parece apontar para uma realidade inequívoca. Que é a de agora prendo eu, amanhã solta tu. Sendo que o inverso contem a mesma verdade: Agora solto eu, amanhã prendes tu. Haja por bem entender-se que o exercício do poder não se compadece com qualquer género de brincadeira. Sobretudo, com estas brincadeiras perigosas.

domingo, dezembro 02, 2007

uma festa exclusivamente moçambicana

Um pouco por todo o país, o dia da última terça-feira foi dia de festa. De alegria. Houve quem tivesse classificado este 26 de Novembro como dia da segunda independência. Para além da carga emotiva que a afirmação possa conter ou da diferente perspectiva de quem opina, foi, sem dúvida, um dia muito especial para Moçambique. Por constituir um marco importante na história política e económica do país. Haja, embora, quem ainda pensa e continue a afirmar que a HCB não é do Estado moçambicano mas, sim, dos financeiros estrangeiros. Um pensar errado, que o Presidente da República terá, uma vez mais, corrigido a partir do Songo. Com efeito, foi a vila do Songo que acolheu as cerimónias principais que assinalaram, publicamente, a reversão irreversível da posse da Barragem por parte de Moçambique. Dada a importância da cerimónia, ali se fizeram presentes várias individualidades africanas, que se misturaram com o povo local e assistiram a muito cantar e a muito dançar. A muita alegria. Uma alegria nacional e moçambicana.


A reversão, definitiva, da Barragem de Cahora Bassa para o controlo do Estado moçambicano, poderá ter tido dois aspectos negativos. Duas grandes falhas. O primeiro aspecto negativo poderá ter sido o de a tolerância de ponto no dia da festa realizada na vila do Songo, ter abrangido apenas a província de Tete. Em nossa modesta opinião, o país inteiro merecia ter tido tolerância de ponto para poder assistir à cerimónia, à festa do Songo. Através da televisão, como parece óbvio. Mas, como se soube e dado que tal tolerância não foi declarada, houve o recurso a soluções locais. Marcha de apoio aqui e ali, mais concentração acolá, Governador de província a convidar governados para pavilhão desportivo. E, assim, poderem estar, sem terem estado, no Songo. O segundo aspecto, a segunda grande falha negativa, situa-se no nível da delegação de Portugal. Que, ao que se diz e devido ao arrastamento nas negociações, em Maputo, sequer se deslocou ao Songo. Ou, se de facto ali se deslocou, terá passado desapercebida. Digamos, mesmo, não terá sido notada. Que terá sido ignorada. E, dada a importância do acontecimento, o caso não era para menos. Perante esta realidade, perante a realidade, concreta e objectiva, Portugal terá perdido a última oportunidade de descolonizar com dignidade. Portugal perdeu, em concreto e em definitivo, a possibilidade de afirmar que tendo colonizado mal, podia descolonizar bem. E, assim, passar a figurar na História mundial. Mas, tal não aconteceu. E, não tendo acontecido já não existe tempo para que possa vir a acontecer. Assim, a festa no Songo, neste último 27 de Novembro, ficará registada na história como uma festa exclusivamente moçambicana.