domingo, junho 28, 2009

uma perigosa ameaça

Se volto, hoje, ao tema é por haver motivo forte. Ponderoso. Refiro-me às designadas “As Sete Maravilhas Portuguesas no Mundo”. E, se escrevo de novo, e escrevo, faço-o depois de ter assistido a mais um dos muitos programas da RTP África. Neste caso concreto, um de humor. Ou seja, o “Contra Informação. Emitido cerca das 12.30 horas do passado dia 21 do corrente mês. E, que me leva a poder concluir que os portugueses têm uma grande capacidade de fazer humor. E, uma grande capacidade de se criticarem a si próprios. E, também, uma grande capacidade de aceitarem a crítica. Sem melindres. Sem atitudes esquizofrénicas. Pois, para o referido programa humorístico, as tais de maravilhas são bem outras. São diferentes. Assim, para os autores do programa da estação de serviço público, os eleitos foram outros. Começam no Cristianinho Ronaldo, passam pela Praia da Costa da Caparica, pela Casa do Benfica nos Estados Unidos da América, pelo restaurante português em Timor-Leste. Mas, tem mais. Muito mais. Tem um pouco de tudo e para todos os gostos. O que significa que num mesmo espaço há espaço para ser e pensar diferente. Trata-se, como é fácil de concluir, simplesmente de uma questão de tolerância. E, em nós, entre nós, começa a ser gritante a falta de tolerância. Por aí e além, continuamos a falar em democracia. Mas, chegado o momento de discutir ideias, acaba a tolerância. Entra-se no discurso ofensivo. No ataque pessoal. Muitas das vezes, pode ser, simplesmente, falta de sentido de humor. Falta de capacidade de aceitar a crítica. Corrosiva sem ser ofensiva. Outras vezes, não. Aí, o problema é mais grave. E, é aí, precisamente, que reside o problema de fundo. Que pode ser resumido na falta de capacidade em aceitar a diferença. Na falta de capacidade de conviver e viver com o que é diferente. E, isto, a muitos níveis e em diferentes situações.

Peço ajuda, de novo, a vetusto dicionário. E aí leio, entre outros significados, que partido é o conjunto de pessoas que seguem as mesmas ideias, especialmente em política. Ignoro e tenho algumas dúvidas se, na sua plenitude, o que transcrevo se ajusta à actual realidade moçambicana. Volto, por tal motivo, ao que se ouve em televisão. No caso concreto, na TVM. É que pasmei, ou se me é permito o termo, aburrei. No sentido de ter ficado burro. Quando ouvi o porta-voz do maior partido da oposição afirmar o que afirmou. Num programa de debate emitido no passado dia 22. Disse ele, para quem o quis ouvir, e fomos, certamente, muitos, na expectativa de escutar coisas novas. Ideias novas. Alternativas de políticas de governação. Mas não. Nada disso. O que ouvimos, logo no início, foi que a RENAMO é um partido que é militar. Ora, todos sabemos, todos conhecemos, as dificuldades enfrentadas por este género de movimentos em se libertarem da carga militaristas. Para serem, simplesmente, partidos. E, partidos despojados de armas, que lutem pelo poder através do voto e da palavra. A ser verdade o que agora nos dizem, e parece ser, estamos um perigoso recuo. Estamos perante uma perigosa ameaça.

domingo, junho 21, 2009

ideias más de pessoas boas

Por uma questão de princípios, não costumo responder a textos que rebatam ou contrariem ideias por mim expressas. Principalmente quando se trate de textos considerados anónimos. Por não assinados. Já outra coisa e bem diferente, é tentar combater ideias com ideias falsas. Com falsidades. Para, depois, tentar branquear a História. De tentar, repetir e fazer aceitar como boa a versão da História dos vencedores. Sem ter a coragem e a honestidade intelectual, também, de ler a História contada pelos vencidos. A versão da História dos vencidos. Neste campo, e a terminar esta breve introdução, aconselho vivamente a leitura do livro “As Cruzadas vistas pelos Árabes” da autoria de Amin Maalouf, de origem libanesa. E, em relação ao qual o jornal “Diário de Notícias”, de Lisboa – e, para quem não saiba, Lisboa é a capital de Portugal -, escreveu: Comprometido entre a oralidade simples da épica e a arrumação dos factos da crónica antiga, o livro é uma lúcida releitura em perspectiva diferente, contada de modo a que os ocidentais percebam, desse conflito multissecular e cheio de sequelas que foram as Cruzadas.


Na sua última edição, publicou este Semanário uma local com o título “textos maledicentes”. A primeira parte do qual me é dirigida. Ou pretende ser, pelo simples facto de citar o meu nome. Pois bem, diz o texto, que se identifica como sendo de uma “Sociedade Civil”, que as caravelas que aqui aportavam traziam pedras como balastro. Ora, balastro é uma mistura de areia e pedras britadas com que se cobrem as travessas em que assentam os carris. Ora, que as caravelas possam ter trazido pedras, é provável que sim. Mas como lastro. É que, lastro, é qualquer matéria pesada que se coloca no fundo de uma embarcação para assegurar o seu equilíbrio. De facto, o português é uma língua difícil. Sempre foi! O texto em apreço, refere-se, também, às lutas entre colonizadores e diz que o almirante holandês aprisionou a população portuguesa na vila e exigiu a rendição da fortaleza (...) tendo sido o apoio dado pelos habitantes da costa que ajudaram a fortaleza a resistir trazendo alimentos à noite aos defensores do forte nas suas pirogas. È caso para dizer, mal esclarecidos nativos que, em vez de terem ficado quietos e neutros, optaram por apoiar os ocupantes portugueses. O resultado, que eles não podiam prever, nesse então, foi uma independência com décadas de atraso em relação à maioria dos povos africanos. E, só depois de uma guerra que custou muitas vidas. Quanto ao trabalho voluntário das tripulações e dos nobres no transporte da pedra, não passa de uma invenção para tentar adoçar o colonialismo. Os nobres, nunca terão trabalhado. E, ao que parece, nem o seu estatuto o permitia. Que há memórias de nobres na Ilha, isso há. Mas, séculos depois e quando para ali deportados. Principalmente, do Brasil. A memória dos ilhéus mais velhos, ainda conserva a imagem de nobres a executarem trabalhos forçados. Em obras públicas e devidamente acorrentados. A terminar, dizer que antes de eu haver escrito sobre “As Sete Maravilhas Portuguesas no Mundo”, um semanário de Maputo tinha dedicado uma página ao tema. Ainda antes, antes disso, já ilustres catedráticos da mais antiga Universidade portuguesa, a Universidade de Coimbra, haviam feito um abaixo assinado. Em protesto contra o referido concurso. Nem por isso terão sido acusados de ódio actual ao povo português. Pelo simples facto de que terão, apenas, criticado ideias e iniciativas de outros seus compatriotas. Muito provavelmente que consideram erradas, ideias más de pessoas boas.

domingo, junho 14, 2009

a corda pode partir quando menos se esperar

Na Guiné-Bissau, a terra, mais uma vez, acordou encharcada em sangue. Houve mais mortes. Houve mais dois assassinatos. Um dos assassinados era candidato a Presidente da República. Era candidato às presidenciais cuja realização já foi confirmada para 28 do corrente mês. Recuando no tempo, recordamos que após o assassinato de Amilcar Cabral, a Guiné-Bissau jamais teve paz interna. Desde então, sucederam-se os golpes de Estado e os assassinatos políticos. Até aos nossos dias, o porquê de tanta violência, o porquê de tanta morte, parece não ter sido tema, ainda, devidamente estudado. Ajustes de contas pessoais, rivalidades étnicas, negócios de petróleo, tentativas de controlo das rotas da droga, são hipóteses. São hipóteses de trabalho. E, digamos, como tal, como hipóteses de trabalho, umas não excluem as outras. O que parece poder adiantar-se, com margem mínima de erro, é que a Guiné-Bissau, hoje, continua a ser um Estado ingovernável. Um Estado falhado. Pior, um Estado inviável. Com um povo pobre. Paupérrimo. Enquanto as elites se vão confrontado. Se vão eliminando. Da forma mais primária. Mais primitiva. Perante esta falta de estabilidade, perante esta instabilidade interna, a União Africana deve tomar uma posição. Clara e objectiva. As Nações Unidas têm o dever de fazer bem mais do que estão a fazer. A CPLP também tem deveres a cumprir. É necessário começar por quebrar a inércia e a indiferença. Em situação de recurso, declarar a Guiné-Bissau, por dez, por cinco anos, Protectorado das Nações Unidas. Mas, antes, é preciso dizer que chega de mortes violentas. Que chega de assassinatos. Seja a que pretexto seja.



Ao que foi noticiado, a partir da última terça-feira, Daviz Simango terá sido alvo de tentativa de assassinato em Nacala-Porto. Por elementos da guarda pessoal do líder da RENAMO. O que o terá levado a pedir protecção policial. Trata-se, ao que parece, de uma situação nova entre nós. Em Moçambique. Mas que, se deseja não tenha repetição. Segundo relatos da Imprensa, a arma terá sido, posteriormente, localizada e recuperada numa residência afecta à RENAMO. Já em Nampula, o presidente do MDM terá manifestado a intenção de processar judicialmente o líder da RENAMO. Por ser o mandante do atentado frustrado contra a sua pessoa. Deixemos as investigações para quem tem competência para as fazer. E, enquanto fica a dúvida, existe uma certeza. A certeza de que estes métodos e estes processos não abonam em favor da democracia. A democracia não se consolida nem se afirma com tentativas de assassinatos. A democracia não se impõe pela força das armas. Razão pela qual a Guiné-Bissau é, hoje, um Estado inviável, ingovernável e falhado. Como vários outros. Há, aqui e ao que parece, uma tentativa de, como se diz, esticar a corda. Mas, a corda, como se sabe, parte sempre pelo lado mais fraco, mais frágil. E, a corda pode partir quando menos se esperar.

domingo, junho 07, 2009

uma maravilha do trabalho de escravos

Portugal, os portugueses parece estarem a atravessar um período de revanchismo. Parece estarem, de novo a alimentar a reviver memórias do passado. A recriar ritos para alimentar mitos. Pode dizer-se que Portugal, os portugueses nunca se conseguiram refazer do chamado desastre de Alcácer Quibir. Da derrota na batalha de Alcácer Quibir donde nunca mais regressou Dom Sebastião. Que ficaria para a história, no imaginário colectivo dos portugueses como “O desejado”. Afinal, vítima de uma guerra entre cristão e árabes. De um dos eternos conflitos entre cristão e árabes. Ou, entre árabes e cristão. Também o chamado Quinto Império não passou de um mito. De uma ilusão. De uma miragem. Que ninguém, em momento nenhum, chegou e definir claramente. Porque ninguém sabia o que era. Ou, como devia ser. Depois, em tempos mais recentes, em tempos actuais, tempos nossos, foi engendrada – talvez mal – uma Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa. Ideia antiga, velha de décadas, já cheirosa a bolor, do brasileiro Gilberto Freire. Que Salazar recusou, António de Spínola tentou recuperar e a que outros, seus posteriores, finalmente, deram forma e institucionalizaram. Por fim, aí está, também, sem pernas para andar, sem pernas para ir longe, um acordo ortográfico. Que pretende, que tem a pretensão de tornar igual o que é, por natureza diferente. No meio de tudo isto, deste diz que diz, deste diz que faz mas não faz, deste diz que é mas não é, temos a surpresa. E, a surpresa é mosca que nos cai na sopa. Ou seja, um primeiro-ministro de Portugal a comunicar-se em espanhol com o seu poderoso vizinho ibérico.

De quando em quando, assisto a alguns programas emitidos pelas RTP´s. E, muitas vezes pergunto, de mim para mim, se aquilo a que estou a assistir resulta de simples desconhecimento. De ignorância. De pouca investigação. Ou se, pelo contrário é produto de uma tentativa de branquear a história. É uma versão reciclada da história dos vencedores. Exemplo recente, exemplo acabado, é o de um concurso a que foi dado o nome de “As Sete Maravilhas Portuguesas no Mundo”. No qual foi feito participar a Ilha de Moçambique. Ou, talvez mais especificamente, a sua Fortaleza. Ora, a Fortaleza da Ilha de Moçambique pode, muito bem, não ser a fortaleza que alguns pretendem fazer acreditar que é. A sua construção e a sua arquitectura podem obedecer a padrões da estratégia militar e de ocupação territorial da época. Fora de dúvida, primeiro resultou da necessidade de os ocupantes cristãos se protegerem dos nativos. E, depois, de a partir dali, expulsarem os árabes. Que haviam chegado àquelas terras sete séculos antes. Sempre a já então o insolúvel conflito entre cristão e árabes. A tentativas dos cristão para expulsar os árabes. Ou, se assim se pretender, os islâmicos. Acresce, para terminar, que se a concepção da fortaleza foi de Portugal, a sua construção resulta do trabalho de moçambicanos. Do trabalhos escrevo de moçambicanos. Foram moçambicanos que partiram e arrancaram a pedra do local conhecido como “ponta da Ilha”. E a transportam até ao local onde foi erigida a fortaleza. Muitos perderam a vida. Morreram a trabalhar como escravos. Afinal, esta obra militar que Portugal considera uma maravilha, é uma maravilha do trabalho de escravos