Durante vários anos, parece que a inflação baixa foi transformada em dogma. Por cá. Sabendo todos nós, mesmo simples aprendizes de economia, que a inflação baixa nunca, em tempo algum, resolveu os problemas de desenvolvimento de país nenhum. Que possa satisfazer o ego dos gestores de algumas instituições financeiras internacionais, isso sim. Mas não só. É que, para além disso, apresenta-se como condição para poderem manter os seus cargos. Os seus salários fabulosos. As suas mordomias. Por terem sido “forçados” a vir trabalhar em países como o nosso. Onde ainda se morre de malária, de cólera, de tuberculose. Também de Sida. Mas, aqui, estamos perante outro negócio. Digamos, em resumo, que ser pobre não é uma fatalidade. É, isso sim, uma inevitabilidade. No sentido em que os ricos não podem viver sem os pobres. Muito embora os pobres possam, perfeitamente, viver sem os ricos. Mesmo que isso lhes custe a vida. O que a vir a acontecer, deixaria os ricos com um dilema por resolver. É que já não havendo mais pobres, deixaria de ser necessária ajuda. E, não sendo necessária ajuda, os muitos milhares que dizem vir ajudar, que estão por cá a ajudar coisa nenhuma, ficam sem emprego. Situação que não constitui problema nenhum para nós, Moçambique. Mas que é susceptível de provocar convulsões sociais, manifestações e agitação nos seus países de origem. E, é aqui que se situa o medo dos doadores. Eles montaram uma complexa máquina que, hoje, não conseguem desmontar. Nem controlar. Podem ter criado uma armadilha de serão as primeiras vítimas. Parece que sim.
O Governador do Banco de Moçambique veio, há poucos dias (“Notícias”de 28 de Dezembro), dizer que O nível de inflação projectada passará de 2 a 3 por cento este ano para um pico de 9,5 por cento em 2010, que num cenário que para o Banco de Moçambique vai dar espaço para que a economia possa crescer. Pouco importa adiantar os argumentos do Governador do BM. O que importa, isso sim, é salientar que as águas começam a ficar separadas. E entender que há quem defende que a solução do problema do desenvolvimento de Moçambique não está em manter a inflação baixa. Reside, talvez, pelo contrário, em permitir uma inflação alta. Mas controlada. Uma inflação alta mas controlada é completamente diferente de uma inflação baixa mas descontrolada. Como tem sucedido nos últimos e muitos anos. Em que as estatísticas nada têm a ver com a realidade. Dizer, por fim, o que todos os economistas sabem. Ou, alguns preferem ignorar. Que o caminhar no sentido do acelerar da economia, exige uma maior intervenção do Estado. No sentido de minimizar, ao máximo, os custos sociais. Passar para os pobres e para os reformados, na sua totalidade, os custos do aumento dos transportes, da alimentação, da saúde, da água, da energia, pode ser um suicídio. Será uma política suicida. Há exemplos recentes de já assim ter sido. Os cidadãos são mais do que meros números estatísticos. São, em primeiro e em último lugar, homens e mulheres. Crianças e velhos. São, seres humanos. Todos somos seres humanos.