domingo, janeiro 17, 2010

As televisões podem fazer mais e muito melhor

Afirma-se, com frequência, que só não comete erros quem nada faz. A afirmação parece lógica. A afirmação parece correcta. Mas, uma questão importa clarificar. Desde já. É que cometer erro por ter feito, é uma coisa. Cometer erro por ter feito mal essa coisa constitui, igualmente, a mesma coisa. Em resumo, o erro está em fazer mal aquilo que deveria ter sido feito bem. E não o foi por falta de conhecimento. Ou por falta de capacidade ou de habilidade para a boa realização. Embora ao fazer, houvesse o desejo e a consciência de que o que estava a ser feito estava a ser bem feito. Quer dizer, nesta lógica, o erro só pode ser detectado, apreciado, avaliado, depois do que se desejava fazer ter sido feito. A menos que o erro possa ser considerado como voluntário. Evitável. Que haja quem cultive o erro por vaidade. Como forma de afirmação pessoal. De, como costuma dizer-se, dar nas vistas. Pela negativa. Comprovadamente. De resto, a vaidade pessoal não conhece limites. Como o não conhece a estupidez. Há erros, há certos erros, que não têm explicação. Alguns são erros larvares. Para os quais nenhum ser racional consegue encontrar explicação.


Em termos de televisão, estamos a assistir a um fenómeno novo. Mas, talvez pouco educativo. Pouco edificante. É que com o louvável objectivo de permitir que os telespectadores possam dar as suas opiniões, em tempo real, certos programas emitem legendas em movimento. Em alguns casos, poucas. Em outros, muitas. Mas, a questão não está no número. Está na sua qualidade. Grandes partes dessas mensagens são não inteligíveis. Não são decifráveis pelo cidadão comum. Muito menos pelo chamado homem da rua. Parecem assentes em códigos de comunicação só acessíveis a pequenas minorias. O que, em termos políticos e de unidade nacional, é extremamente perigoso. Outra parte é pedida e proposta de encontros para os mais diversos fins. Outra parte, ainda, está repleta de erros de ortografia. E, aqui, ao que tudo indica, já não estamos perante o não querer fazer bem. Estamos perante o não saber. Mas, um não saber que pode estar, quando se permita a sua continuidade, a contrariar os esforços oficiais em termos de educação da população. Na generalidade mas, sobretudo, na transmissão do conhecimento da língua oficial. Neste campo, pode afirmar-se, sem receio de desmentido, que as televisões estão a prestar um mau serviço. Que as televisões podem evitar os erros que estão a cometer. Que as televisões podem fazer mais e muito melhor.