domingo, janeiro 20, 2008

cheias e inundações são a mesma coisa

Hoje, como desde sempre, as palavras têm o significado que têm. Ou, muito por hipótese, podem mudar de significado. Adquirir o oposto, até. Como podem, como acontece, também, caírem em desuso. Podem, de igual forma, resistir ao avanço tecnológico. E, tendo sido utilizadas ontem para uma coisa, hoje o serem para coisa diversa. Diferente. Se assim, caso concreto, entre nós, é o da utilização do termo Machimbombo. Ora, o dicionário nos diz que Machimbombo é um ascensor mecânico, para ladeiras íngremes. Ora, pode supor-se, pode-se especular, que o termo para aqui tenha trazido aquando da introdução dos primeiros transportes públicos colectivos. Que foram os desaparecidos carros eléctricos. E que, quando dada por finada a actividade e o uso destes, a definição permaneceu no tempo, Por falta de melhor, de outra mais consequente com o fala popular. E, assim permanece, assim continua a ser utilizada, em paralelo com o neologismo Chapa. Que, quase de certeza, após cumprir a sua missão histórica e vier a ser substituído, a definição irá perdurar. Para os casos ambos aqui referenciados, o que importa concluir é que é a necessidade de comunicação que impõe os termos adequados a cada situação e em cada momento. Aos linguistas e aos dicionaristas, fica uma ingrata missão. Não a de ensinar ou de dizer como se deve falar. Ou não deve falar. O que é falar bem e o que é falar mal. Mas, isso sim, investigar os fenómenos da comunicação. E, explicar o que hajam por bem entender explicar. E, por fim, fixar a língua. Em nenhum momento nem período da História da Humanidade, a língua resultou de coisa outra que não tenha sido a necessidade de comunicação entre os humanos.

As actuais cheias em alguns rios do Centro do país, parece estarem a criar algumas confusões de linguagem. È que há quem pensa, é que há quem considera que se trata de cheias e de inundações. E se assim pensou, assim entendeu dever ser. Dever passar a ser. E, para que uma invenção, uma invencionada, ganhe o estatuto de verdade, nada melhor do que fazer coincidir vozes e textos de jornalistas. E, para tanto, os convencer a divulgarem a espúria concepção. E que, em boa lógica metódica, as populações deste país, passaram a ser obrigadas a fazer acrescer um novo termo ao seu vocabulário. Trata-se da palavra inundações. Ora, quando na memória colectiva destes muitos povos são as cheias que fazem parte da memória colectiva, falar de inundações, não passa de termo para enfeitar relatórios. Depois, e por fim, cheias e inundações significam a mesma coisa.