domingo, maio 10, 2009

pedradas no charco

Estão a tornar-se frequentes declarações públicas de dirigentes, a diferentes níveis e de diferentes áreas, que não devem nem podem cair, imediatamente, no esquecimento. Quer dizer, merecem reflexão e comentário. Ao que leio (“Magazine de 6 do corrente, página 10) e como interpreto, estamos a ser alertados para situações anómalas e anormais. Que muitos conhecem. Mas que poucos se atrevem abordar em público. O que será diferente de publicamente. Haverá, neste presente, quem tenha tomado a iniciativa e tenha tido a ousadia de atirar algumas pedras para as águas estagnadas do charco. Os resultados dessa atitude, corajosa, ainda não são visíveis. Sequer se conseguiu ouvir o coaxar das rãs. Talvez por serem um tipo de batráquio com uma grande capacidade de adaptação ao meio ambiente. E que, ao que tudo indica, na sua constituição actual, antecederam o homem que somos e como somos, em muitos milhões de anos. Dezenas. Por hipótese, centenas de milhões.


O Procurador - Geral da República proferiu, há pouco, uma palestra a pedido da Autoridade Tributária de Moçambique. No decorrer da qual falou, entre muitas outras coisas, de presentes envenenados. E, a determinado passo terá contado um episódio passado consigo. Terá explicado a forma como foi alvo de tentativa de corrupção. Por parte de um comerciante. Que, perante a sua recusa em aceitar o contentor que lhe fora enviado, terá recebido cartões de visita do autor da oferta. Durante a palestra, segundo o mesmo semanário, os agentes das Alfândegas terão denunciado ameaças de que são alvo. Por parte de empresários. Ou de grupos empresariais da capital do país. O jornal não diz quais. Mas, a determinado passo escreve: (...) o director –geral das Alfândegas (...) apelou ao PGR para não ver a corrupção só na função pública, sob o argumento de que ela não está isolada, mas sim está rodeada de vários intervenientes no mercado como é o caso dos empresários. Acrescenta o semanário que Outros funcionários disseram haver casos excepcionais de concessão de benefícios a certa empresa ou empresários, mesmo sabendo-se que só a Assembleia da República é que tem competência para o fazer. Terá havido, também, quem tenha dito ser alvo de ameaças quando resistem aos presentes envenenados, sobretudo se recusam receber ou facilitar a fraude fiscal de mercadorias como é o caso de contentores pertencentes a certos grupos comerciais da capital. Terão dito, alguns funcionários alfandegários, que por recusarem receber esses presentes envenenados, principalmente de contentores, somos ameaçados e nesse dia que isso acontece somos obrigados a dormir fora de casa. Parece não constituir segredo de Estado que os funcionários das Alfândegas que fiscalizam os contentores de certos grupos comerciais são sempre os mesmos. E foram devidamente seleccionados. Por hipótese de trabalho, estarão a ser pagos. Para ficarem calados. O que poderá estar a atormentá-los. Talvez não seja errado sugerir que a indicação dos alfandegários escalados para fiscalizar os contentores de certos grupos comerciais passe a ser feita por sorteio. Para surpresa dos corruptores e alívio da consciência dos honestos. Só assim farão sentido e terão efeito as já muitas pedradas no charco.