quarta-feira, agosto 17, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Agosto 14, 2005

antes e depois

Luís David


uma oportunidade perdida


As nossas cidades e, talvez, de forma mais gritante a capital do país, estão a ser, progressivamente, desapossadas de espaços públicos. Espaços públicos destinados ao lazer, ao convívio, ao desporto. Numa cidade com cerca de dois milhões de habitantes, pergunte-se, faça-se um inquérito para saber quantos jovens praticam desporto. Serão, certamente, poucos. Muito poucos. Sabemos todos, sentimos alguns, que em bairros onde era hábito, em dias de descanso semanal, haver espaços onde jovens e menos jovens se entregavam á prática desportiva, esses espaços desapareceram. Desapareceram como espaços de utilização comunitária. Como espaços de confraternização desportiva entre vizinhos de um mesmo bairro, entre gentes de diferentes bairros. Dizer que não há apoio, menos ainda incentivo à prática desportiva, parece elementar. Pergunte-se quantos alunos praticam desporto nas suas escolas e quantas escolas têm competições entre si. Muito provavelmente, a resposta será desoladora. Pergunte-se quantos trabalhadores praticam actividades desportivas, regulares, a nível de suas empresas. Pergunte-se quantas empresas têm uma secção desportiva organizada e a nível de que modalidades. Parece podermos concluir, para já, que não existe qualquer política desportiva. Que não existe qualquer política de massificação do desporto. Que não existem ideias, menos ainda planos, para motivar os jovens moçambicanos para a actividade desportiva. Em diferentes modalidades.


No charco de águas podres, no pântano em que mergulhou, há muitos anos, e parece continuar mergulhado, o desporto nacional, o torneio de futebol juvenil BEBEC bem pode ser considerado excepção. Uma excepção em vias de se expandir para outras cidades do país. Como nota positiva, de intercâmbio e de confraternização entre jovens desportistas de todo o país, apontemos, também, a realização dos Jogos Desportivos Escolares. Que acontecem, como todos sabemos, de dois em dois em dois anos. Questionemos, tenhamos a coragem de questionar, os jovens que participam nesses jogos nacionais, sobre o tipo de desporto que praticam no intervalo dos Jogos. E com que frequência o praticam. A resposta, a resposta, poderá ser bem desoladora. Digamos, mesmo, comprometedora para quem dirige o desporto nacional. Depois, fácil pode ser concluir que se não temos massificação, menos ainda competição interna, pouca ou nenhuma possibilidades temos de competir no plano regional e internacional. Que difícil será fazer içar a Bandeira de Moçambique, por onde haja competição de atletismo, quando Mutola decidir abandonar as pistas. Queiramos ou não, somos, continuamos a ser, demasiado ingratos. Mas, mais do que ingratos, mesquinhos. Talvez altistas. Muito de certeza, sem visão de futuro. Pois, e esta é a realidade pública, por não querermos despender uns poucos milhares de dólares, para permitir um estágio da selecção nacional de hóquei em patins em país estrangeiro, podemos ter comprometido a permanência de Moçambique entre os maiores do hóquei mundial. É facto que, quem pode manda. Embora possa mandar mal. E, se mandou mal, se decidiu mal terá, no mínimo, de arcar com a responsabilidade moral de Moçambique não continuar no grupo dos maiores do hóquei mundial. Temos de saber aproveitar as oportunidades que se nos apresentam. E, esta, foi uma oportunidade perdida.