terça-feira, abril 13, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 10 de Abril, 2004

antes e depois

Luís David


evitar mais feridos e mortos



Somos um país de campanhas. De semanas comemorativas ou alusivas a. De marchas, contra ou a favor. Para assinalar isto ou aquilo. Depois, depois, voltamos à normalidade. Caímos na rotina. E os males para os quais chamámos a atenção. Os males contra os quais marchámos, ficam. Permanecem. Quando não pioram, quando não se agravam. Planos de acção concertados, sobre questões, sobre males, para o combate ao ilegal e ao imoral, que a todos afecta, não há. Se, acaso os há, não se notam. Daí a degradação de valores morais e cívicos a que assistimos. E, também ao renascer da perigosa e inaceitável prática de fazer justiça pelas próprias mãos. É que abater uma árvore numa qualquer artéria deixou de ser crime. Como imoral parece ter deixado de ser urinar na via pública. Mesmo quando muitos estão a ver. Ilegal parece, também, ter deixado de ser abandonar ou estacionar a viatura em local que impede a passagem de outras. Afinal as luzes de presença, esses “amarelos” acessos servem para indicar que por ali está gente importante. A gente a quem polícia algum ousa incomodar. Como não incomoda o autor do pequeno furto. Tudo isto acontece. Como acontece muito mais. São os novos hábitos dominantes. Mas, maus hábitos. Claro.


Moçambique registou, no ano de 2003, 5.402 acidentes de viação. Em consequência, 1.123 pessoas perderam a vida. Uma média de cerca de quatro por dia. Isto é, em cada dia que passa, há quatro pessoas que morrem nas estradas e artérias citadinas de Moçambique. Muitas outras contraem ferimentos, graves ou ligeiros. Dos custos materiais e indirectos não falam, também, as estatísticas. Depois, as causas, os motivos dos acidentes e das mortes, são quase sempre evasivos. De quando em vez, quando parece estar a iniciar-se trabalho sério e concertado, tudo não passa de ilusão. Recordemos: Recentemente, várias dezenas de viaturas foram mandadas parquear por circularem com documentos obtidos ilegalmente. Mais depois, foi divulgado o afastamento de alguns polícias de trânsito que não cumpriam com a sua missão. Ou, como se disse, eram corruptos. O resultado destas campanhas, destas operações cosméticas, parecem poucos. Até ao momento não são visíveis. Estamos em plena “Semana” comemorativa do Dia Mundial da Saúde que, este ano, tem como lema “Pela Segurança Rodoviária, Evite o Acidente”. Hoje mesmo, Domingo, Maputo deverá estar a ser cenário de uma marcha inserida numa campanha de informação. Mas, cuidado senhores manifestantes: Tomem as necessárias precauções para não serem atropelados. Por um qualquer automobilista que não respeita as regras de trânsito, que corta a prioridade a quem a tem, que avança com o vermelho, que circula, enfim e se lhe apetecer, por cima dos passeios. Ademais, o que pedimos, o que temos o direito de pedir, não é que não se manifestem, não é que não marchem. Tem pleno direito para o fazer. Mas, o que vos pedimos, antes do mais, é para que actuem. Por forma a evitar mais feridos e mortos.