segunda-feira, julho 05, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Julho 4, 2004

antes e depois

Luís David

uma situação primária de distribuição da riqueza


Parece ter tido, finalmente, decisão definitiva a construção da catedral da IURD, em Maputo. Melhor dizendo, da não autorização para a construção e da chamada catedral. E, da chamada catedral, porque isto de construir uma catedral não é para todos. Não é para quem quer. Porque o termo catedral tem um significado, preciso, exacto, que nenhum dígito pode comprar. Abreviando, a Assembleia Municipal decidiu não autorizar a construção da referida chamada catedral na Avenida Julius Nyerere. Recuando, um pouco, no tempo, teremos de colocar uma outra questão. O conjunto de construções que existiam no local estavam ou não classificada como património cultural edificado da cidade de Maputo. Faziam ou não faziam parte da história da cidade de Maputo. Parece que sim. O bom senso manda dizer que sim. Daí, a dificuldade em entender-se a persistência com que o antigo presidente municipal continua a vir a público defender a legalidade da obra. Poderá ter recebido não um, nem dois, nem três, mas muitos relógios de ouro. Já agora, e porque todos sabemos que as perguntas não incomodam mas que o que incomoda são as respostas, deixemos mais algumas questões. E, estas, são para saber como e em que condições parte dos terrenos do antigo viveiro municipal foram alienados. Como foram concedidos os terrenos, igualmente para construção, do chamado “caracol”. Por fim, fazendo eco das más línguas cá do burgo, seria importante saber como e em que condições foram concedidos os terrenos na Baixa da cidade, em frente ao antigo bairro da Marinha, para a construção de um centro comercial. Verdade ou mentira, consta que naqueles terrenos existem, subterradas, construções com valor arqueológico. O que terá motivado que, até tempos recentes, nunca tenha sido autorizada qualquer construção no local. Sem dúvida, questões interessantes para a brigada anti-corrupção investigar. Confiemos que sim.



É notório o esforço que está a ser desenvolvido pelos actuais gestores municipais. No sentido de alterar a situação que herdaram. E, o que herdaram é pior do que mau. Não se trata, por conseguinte, de partir do que havia sido feito e avançar, construir, fazer mais e melhor. Trata-se, em muitas áreas, de ter destruir o que foi feito ou deixado fazer. Em outras, de partir do zero, de partir do nada, e fazer alguma coisa. E, quando se parte do zero, alguma coisa, pouca que seja, é sempre muito. Sinais de trabalho, existem. Valas de drenagem, aumento da frota de viaturas para recolha do lixo, limpeza de sarjetas, desde há anos entupidas, alteração de alguns locais de paragem dos chamados e indisciplinados “chapas”, tentativas para disciplinar vendedores, e por aí em diante. Sem esquecer a construção de novos passeios – parece que desta vez o cimento não foi roubado, como aconteceu, em tempos idos, na Karl Max – e a criação de espaços ajardinados em várias outras artérias. Tudo isto, exige trabalho e necessita dinheiro. Falando de dinheiro, torna-se importante saber se e quanto rendem ao Município todos esses espaços de estacionamento privados em diferentes artérias e todos esses painéis publicitários. É que, ou pagam, e pagam bem, sendo essa receita gerida e distribuída em benefício de todos ou, caso não, caso não paguem, torna-se necessário começar a pensar na inutilidade da sua existência. Sem ter de ir mais longe, sem ter de elaborar mais, estamos perante uma situação primária de distribuição da riqueza.