terça-feira, junho 14, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Junho 5, 2005

Antes e depois

Luís david


consciências pouco tranquilas

A língua que utilizamos como oficial, é uma língua viva. É uma língua em permanente evolução, em permanente mudança. É uma língua que todos os dias absorve novas palavras. É uma língua aberta à criação e à inovação dos seus falantes. Que somos, afinal, muitos milhões. Enraizados por todo o mundo. E, todos nós, cada um de nós, tem o direito de criar palavra nova. De apadrinhar ou de amadrinhar um neologismo. Ou, se assim se entender, a utilizar com significado diferente do encontrado em dicionários, palavras antigas. A escolha é livre. Depende do critério de cada um. Dizer, neste contexto, que palavra muito utilizada, nos últimos tempos, em certos órgãos de Informação, tem sido a palavra bufo. Mais recentemente, passou, até, a falar-se de bufaria. Ora, se no contexto em que a palavra bufo tem sido empregue parece significar apenas polícia secreta, em termos de calão pode ser aceite como significando delator ou denunciante. Isto, estas dúvidas, terão existido até dias muito recentes em relação a bufo. Mais ainda, repita-se, a bufaria. É que, parece, mais correcto, seria escrever bufoaria. Mas, deixemos os neologismos para quem deles gosta.



As dúvidas sobre o significado de bufo e de bufaria, parece terem começado a desaparecer. Esta semana. Finalmente. Finalmente, houve um esclarecimento. E, ficamos todos a saber que, hoje e agora, bufos não são só os polícias. Que, afinal há mais, que há por aí muito profissional que, como classe, cabe na definição de bufo. Quem o afirma é o “Zambeze”, na sua última edição, com o título “Agitação na bufaria: sem necessidade”. E, o articulista, em texto que parece pretender ser didáctico e pedagógico, também analítico e tranquilizador, para si próprio, procura ser claro: A agitação tomou conta dos bufos, classificados e entendidos aqui como sendo, na generalidade, profissionais que lidam com a informação classificada e sensível do País. ] [ Como se vem notando desde há cerca de três – quatro anos, os bufos não são apenas os gendarmes nem os dos serviços secretos.] [ Bufos, nos tempos que correm, são os investigadores que manejam informação sensível, tais como jornalistas, os próprios da secreta, os polícias, os advogados e procuradores de vários níveis. Quero acreditar que, por esquecimento ou omissão, não terá ficado ninguém de fora na lista, na definição de bufos. O que a acontecer, a ter acontecido, até poderia parecer injustiça. E, grave. Num momento em que parece começarem a revelar-se muitas consciências pouco tranquilas.