segunda-feira, julho 04, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique, no Jornal Domingo de 3 de Julho, 2005

Antes e depois

Luís david


É tempo de acabar com o oportunismo político


Ignoro se é conhecida ou não a data da publicação do primeiro anúncio publicitário. Em jornal, rádio ou televisão, de um qualquer país do mundo. Mas terá sido, certamente, há muitas décadas. Aliás, isso todos sabemos, os primeiros anúncios publicitários tinham uma função meramente informativa. Davam a conhecer, de forma aparentemente inofensiva, a existência de certos produtos disponíveis e a prestação de determinados serviços. Inicialmente, no seio de comunidades restritas. Depois, o âmbito da publicidade foi sendo alargado. A publicidade passou, em determinado momento, a criar necessidades. A ser um estímulo ao consumo. Quando não, a promover a venda daquilo que ainda sequer havia sido produzido. A determinado momento, a publicidade transformou-se, adquiriu o estatuto de indústria. Adquiriu estatuto próprio. E, tornou-se, até, no suporte financeiro dos mais variados órgãos de Informação. A nível mundial. Claro, há publicidade e há publicidade. E, nem tudo o que parece ser publicidade é, em si, publicidade. Nem tudo o que parece ser meio para atingir um fim, o é. Muitas vezes, algumas vezes, o que parece ser meio para atingir um fim é, em si mesmo um fim. Ora, quando a publicidade deixa de ser meio para atingir um fim, estamos perante uma aberração. E, podemos estar perante a destruição de valores éticos e morais. Como podemos estar perante uma forma aberrante de subverter e de violar regras de mercado. Sem sentido nem glória.


A publicidade em Moçambique tem, como não podia deixar de ter, uma longa história. Uma história de algumas décadas, quando se recua da data independência. Passa por um período de decadência, de quase falência. De quase morte lenta. Depois, volta a ressurgir, recebe novo alento, adapta-se e acompanha a renascente economia de mercado. Mas, sendo esta, sendo este modelo, sendo o modelo de economia adoptado o modelo de uma economia selvagem, o modelo de publicidade é, em si próprio, um modelo de publicidade selvagem. Hoje, com novas técnicas, com nova tecnologia. E, como actividade altamente lucrativa, o que tem mal nenhum. E, daí, o não ser a actividade publicitária em si própria a razão de ser do presente texto. A razão do presente texto é muito outra. Também muito simples. Está em saber como é que as duas operadoras de telefonia móvel vão encontrar justificação para as centenas de milhares de contos que estão a gastar em publicidade. Absolutamente inútil e ridícula. Todos os dias. Digamos, perguntemos, por exemplo, qual o objectivo das seis páginas de publicidade redigida publicadas na edição da última quinta-feira do jornal “Notícias”, por uma dessas operadoras de telefone móvel. E perguntemos, também, o que impede que esse dinheiro esbanjado sem qualquer utilidade em papel de jornal não é destinado a apoiar crianças e idosos necessitados de apoio. A crianças e a idosos que carecem de abrigo. O que impede, o que dificulta, que as empresas de telefonia móvel, ambas as duas, publicitem os seus produtos novos e as vantagens que oferecem aos clientes em espaços reduzidos. E que, nesses mesmos espaços publicitários, reduzidos, façam anunciar o que é que essa redução significa em termos de contribuição para a melhoria das condições de vida das crianças e dos idosos necessitados deste país. A Governadora de Maputo e o Presidente da República, como qualquer personalidade política nacional, não necessitam que a divulgação da sua presença em actos públicos sejam divulgados como publicidade paga. Reservem esse dinheiro, utilizem esse dinheiro em obras de assistência social. É tempo de acabar com o oportunismo político.