domingo, julho 17, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Julho 17, 2005

antes e depois

Luís david


uma sátira porca e nojenta


Está a acontecer com demasiada frequência, em vários órgãos de Informação. A gente pega, lê, escuta, vê. Depois, interroga se é possível. Ou, como é possível. Como é possível haver tanta falta de respeito pela Constituição, assim como Lei de Imprensa. Como é possível a Ética e a Deontologia serem tão mal tratadas, serem tratadas com tanta falta de respeito. Como é possível continuar a ler o que se vai lendo. Como é possível que jornalistas, que até se dão ao luxo de citar os nomes dos seus mestres, escrevam o que escrevem. Impunemente. Sem que alguém venha a público dizer algo. No mínimo, que o que estão a dizer, a reportar, a escrever, tem nada a ver com jornalismo. Que jornalismo tem regras. Que jornalismo é outra coisa. Que jornalismo é coisa diferente. E que não é o facto de evocaram nomes de jornalistas consagrados, os tais mestres, que lhes dá o direito de escreverem o que andam por aí a escrever. Por não ter sido isso que ninguém lhes ensino


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Na sua última edição (pag. 27), o “Zambeze” titula: “BILENE – Governador de Gaza manda destruir estância turística – O “boer” queixou-se à PGR”. Logo nas primeiras linhas do texto, o jornalista escreve que a referida estância pertencia a um cidadão sul-africano, de raça branca. Ora, ao que se sabe, não existem “boers” japoneses, chineses nem portugueses. Como não existem “boers” pretos. Logo, se era “boer”, tinha de ser sul-africano e tinha de ser branco. Daí, o facto de se texto em apreço não é racista, apontar nesse sentido. O que é, em absoluto, contrário à legislação em vigor. Também, na mesma área, parece estar o “Savana” a resvalar e a aplicar a “lei do vale tudo”. Na sua edição da passada sexta-feira, titula “no informal”: Neguinho é o Nestor. O resto é negrão...”. Assim mesmo, com letra minúscula, referindo-se a José Negrão. E, depois, como legenda de foto publicada na mesma página, começa por dizer: “O JOSÉ NEGRÃO AQUI, NO MEIO ENTRE MÚLTIPLOS QUE O ADMIRARAM E ADMIRAM deixou-nos. Para acrescentar, com evidente sadismo, Muita dor, muita saudade. E um pouco de sátira, mas (....). Ora, fica a dúvida se é possível satirizar, se é possível fazer sátira, sobre a forma como amigos e familiares manifestaram a sua dor em relação a um Homem cujas exéquias fúnebres só viriam a ter lugar no dia seguinte à da saída do referido semanário Depois, sátira, parece ser termo pouco apropriado. Talvez deva falar-se em humor. Em humor negro. Mas, admitindo que possa tratar-se de sátira, trata-se de um sátira que ofendeu, profundamente, amigos e familiares. A quem o semanário em questão, através de anúncio necrológico (pag. 29) ,“À família enlutada apresenta as mais sentidas condolências”. Ora, parece haver aqui alguma contradição. E, por certo, haverá, Ora, se de facto a sátira não foi mais do que uma sátira, foi uma sátira porca e nojenta.