sábado, março 04, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Março 5, 2006

antes e depois

Luís David


pensar antes de agir

É de certa forma uma preocupação. A situação começa a preocupar. Acontece que, desde há algumas semanas, sucedem-se, em diferentes jornais, artigos que causam algum alarme, que chocam, uns, que parece afastarem-se do rigor da verdade, outros. Em alguns casos, as fontes de informação resguardam-se no anonimato. Em outros, muitas pessoas pensam que ou segundo as mesmas correntes de opinião para, em ambas as situações tentar convencer o leitor e para sustentar a opinião, a tese, do autor do texto. Aparentemente, trata-se de desinformação. Quer seja consciente ou inconsciente. Digamos que, em determinados casos valem todos os meios para atingir determinados fins. E o fim acaba por ser, na maioria dos casos, quer disso haja ou não consciência, perturbar quem trabalha e procura melhorar a organização. Quem procura mudar, alterar, situações. Como pode ser o pacato cidadão, quando colocado perante situações que não esperava, em relação às quais ignora como agir. E, aqui, tanto podemos falar de saúde, como de televisão, como de tremores de terra. Talvez, também, por hipótese, de gripe das aves. De um modo geral, sem generalizar, o cenário que nos é apresentado é o da catástrofe eminente. Do terror ou do horror. Da ida sem regresso, sem retorno.


Andou bem e célere a Associação dos Médicos de Moçambique, quando veio a público demarcar-se de um anunciado “movimento grevista dos trabalhadores de saúde, incluindo médicos”. “Cujo decurso” como refere em comunicado, teria como consequência muita morte nos hospitais, por desmotivação do pessoal médico.” Acrescenta o texto, que “uma greve que anteveja a morte de doentes fere a essência da Medicina e choca frontalmente com a consciência do ser médico.” Outra posição não seria de esperar, dado que “a profissão médica reger-se por princípios ético-morais nobres e superiores que, mesmo em situação de greve, qualquer que seja a sua motivação, jamais permitiriam que alguma reivindicação pusesse em risco a vida dos doentes.” Difícil seria pensar-se que pudesse ser diferente. Difícil é, também, ter de pensar e de aceitar que, afinal, há quem pensa diferente. E, ao que parece, não se coíbe de recorrer à ameaça e à chantagem para tentar fazer valer direitos que julga legítimos. E que até podem ser legítimos. Mas que nunca poderão ser legitimados pelo processo utilizado. Pelo método usado. É que aqui, numa situação destas, mais do que em qualquer outra, os meios não podem justificar os fins. E a admitir-se, só por si, um tal princípio permissivo, estaríamos a abrir o caminho para a derrocada moral da sociedade. É bom que haja tempo para pensar antes de agir.