sexta-feira, agosto 11, 2006

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Agosto 6, 2006

antes e depois

Luís David

traça a política quem tem o dinheiro

A crise no Médio Oriente, o conflito entre Israel e o Líbano, parece longe do fim. Ao certo, a Conferência de Roma não produziu os resultados desejados, não foi conseguido um cessar-fogo. Não importa neste espaço, saber quem tem ou não tem razão. È que, para além da razão, há aspectos que parece importante reter. Há aspectos em que vale a pena pensar. Meditar. Por exemplo, no número de mortos, de um e de outro lado. Na destruição de edifícios e de infra-estruturas. No quanto irá custar reconstruir o que foi destruído em poucos dias. Certamente, muitas centenas de milhar de dólares norte-americanos. A que se terá de adicionar o custo do armamento. Que alguém terá de pagar a alguém. Infalivelmente. É cedo para vaticinar quem irá ganhar e quem irá perder esta guerra. O que se pode afirmar é que quem está a ganhar são as indústrias de armamento. Mas, como todos o sabemos, o mundo tem muitas injustiças. Tem destas injustiças. Uns, podem comprar as mais sofisticadas armas para se matarem, para se liquidarem reciprocamente. Outros, poucos são os meios que possuem para evitar morrer devido a uma doença banal e de fácil cura. Quando não devido à fome.


Autoridade sanitárias nacionais divulgaram, há poucos dias, que a malária matou mais de três mil pessoas em Moçambique, apenas no primeiro semestre do corrente ano. Um número de mortes elevado, um número de mortes deveras elevado. Provocado pela simples picada de um mosquito. Certamente, muitos mais milhares perderam a vida por toda a África, no mesmo espaço de tempo. Ora, a malária é uma doença que tem cura. Digamos, até, que é de fácil diagnóstico e de fácil tratamento. Que há muito devia ter sido erradicada do nosso Continente. E que se o não foi, como de facto não foi, não é por falta de conhecimentos científicos. É por motivos outros e bem diferentes. É, muito simplesmente, por falta de dinheiro para comprar medicamentos. É, muito simplesmente por falta de dinheiro para construir fábricas e produzir medicamentos a baixo custo. Quer a doença se chame malária ou HIV/SIDA. É, muito simplesmente, porque ninguém investe numa fábrica de medicamentos quando, depois, não há dinheiro para comprar esses mesmos medicamentos. E aqui chegados, pode colocar-se uma questão. Bem simples. A questão de saber quantas fábricas de medicamentos poderiam ter sido construídas em países africanos com os milhões de dólares já gastos na guerra entre Israel e o Líbano. Ou, até, sendo mais modestos, com o dinheiro gasto em actividades diplomáticas para conseguir o fim do conflito. Certamente, muitas. E, certamente, também, muitos milhares de pessoas deixariam de continuar a morrer por doenças tão facilmente curáveis como a malária. O que sendo, de facto, uma questão de dinheiro também é, em primeiro lugar, uma questão política. Ou seja, que traça a política quem tem o dinheiro.