domingo, maio 18, 2008

deixem trabalhar quem quer trabalhar

De tempos em tempos surgem, entre nós, notícias que muito bem nos poderiam deixar alarmados. Preocupados. Mas não, não devem. Não haverá razão, não haverá motivo para tanto. É que, aparentemente, tentam ser denúncias. Denúncias do que se pretende sejam ilegalidades. Denúncias do que se pretendem sejam violações de direitos consagrados universalmente. Por convenções. Mas, as convenções são isso mesmo. São convenções. São convénios. São acordos de princípios. Não são leis. Salvo quando inclusas no ordenamento jurídico interno de um Estado. Assim, as denúncias, muitas dessas pretensas denúncias de pretensas violações podem não ter em vista a defesa dos direitos dos hipotéticos violados. Podem ter objectivos outros. Em completo alheiros aos seus interesses, como pessoas, e ao interesse nacional. Serão, então, denúncias fomentadas e alimentadas por interesses outros. Como começa a tornar-se frequente. Demasiado habitual. Passam uns bons pares de anos, recordo, foi noticiado um caso de prostituição infantil em Chimoio. Que envolvia soldados das Nações Unidas em missão de paz. Notícia que, nas custou perceber, na época, terá sido incentivada por quem queria impor-nos determinados valores morais. Falsos. De falsa moral. Ou, na pior das hipóteses, assentes em premissas falsas. Valeu, na altura, a corajosa intervenção do actual Ministro das Obras Públicas e Habitação. À época governador provincial. Ao explicar que não se tratava de crianças mas de adolescentes. E, por aí em diante. Com argumentos suficientemente convincentes. Para se perceber, para alguns terem percebido, que a moral não é um valor em absoluto. Que não é um valor em si. Ou, se assim, convenhamos, não passa de um valor relativo. Ou variável.


Já muito depois, passemos ao recentemente. Ao hoje. Ao tempo em que há por aí uns tantos de híbridos e de híbridas que, a coberto de capas de bem fazer, vieram em frente com campanhas a favor do coitadinho. E, o coitadinho é o miúdo ou o jovem que, em mercados ou junto de estabelecimentos comerciais, se propõe transportar compra de quem comprou. A troco de algumas moedas. Não, não se pode ver mal nisso. Ninguém de boa fé pode ver como mal a prestação de um serviço a troco de pagamento. Já no plano inverso, sim. A concepção de coitadinho e a expressão estamos aqui para ajudar, só queremos ajudar, comportam profunda carga racista. Pode ser, e será, involuntária. Inconsciente, até. Mas é, objectivamente, um posicionamento racista. Primário. Ainda esta semana (quarta-feira), o jornal “Notícias” escrevia que “Orfandade propicia mão-de-obra infantil”. E relatava o caso de alguns jovens, dos seus 13 anos, que, na cidade da Beira, vendem ovos para apoiar o sustento familiar. Ora, se os jovens fazem negócio por conta própria, como parece ser o caso, tem mal nenhum. E deveria, isso sim, ser louvada a sua iniciativa. Como deveriam ser divulgadas, enaltecidas e encorajas todas as iniciativas de trabalho. Individual e colectivo. Afinal, do que mais precisamos são de incentivos ao trabalho socialmente útil. Continuamos, cá entre nós, com muitos pruridos importados sobre o trabalho. Uma vezes são as crianças, outras as mulheres, outras ainda a defesa de interesses mesquinhos. Tudo, no conjunto, para impedir de trabalhar quem pretende trabalhar. E, objectivamente, em defesa, não dos direitos de quem trabalha mas de direitos inversos. Então, deixem trabalhar quem quer trabalhar.