domingo, novembro 02, 2008

que se pronunciem os donos da verdade

Quando as águas do Nilo saem do leito do rio e inundam as margens, não há motivo para alarmes. Significa que as terras marginais, as terras adjacentes, ficam, naturalmente, fertilizadas. Significa época ou ano de cultura fértil. Abundante. Os homens não podem, não têm meios nem técnica nem poderes para evitar que as águas do Nilo saiam do seu leito normal. Habitual. Mas, em termos agrícolas, em termos de agricultura indígena, sabem como tirar o máximo de benefícios, o máximo de rendimento nas terras cobertas por muitas toneladas de lama. A lama, transportada para as margens pelas águas da inundação, é como que um benefício dos céus. Nós, por cá, parece não termos, fenómenos semelhantes. Nem cultura assim. Nós por cá, temos queimadas. Tema de muita falácia em tempos recentes. Modernamente, chamam de queimadas descontroladas às queimadas feitas pelos nativos. Pelos indígenas. Muito provavelmente, trata-se de um termo sugerido por uma qualquer ONG. Para não dizer imposto. Quer-se dizer, um eufemismo. Ora, digamos, com toda a propriedade, as queimadas, em si mesmas, não são um mal. E, constituem um factor importante na fertilização dos solos. As queimadas não começaram a ser feitas em Moçambique. Nem começaram a ser feitas ontem. Nem há dez, cinquenta ou cem anos. As queimadas começaram a ser feitas em épocas remotas. Remontam ao tempo em que o homem aprendeu a fazer fogo. Aqui, estamos a falar em termos de milénios. As nossas queimadas, nacionais, moçambicanas, não são descontroladas desde ontem nem desde de anteontem. Sempre foram descontroladas. Porque, se quisermos ser sérios e honestos, não há processo de controlar uma queimada a partir do momento em que é lançado fogo na mata. O que está a acontecer, parece simples. Elementar. As queimadas ditas descontroladas começaram a afectar interesses estrangeiros instalados. Interesses do capitalismo selvagem. Que nada têm a ver com a defesa da natureza. E, muito menos, das populações locais.


Dois incêndios no edifício do Ministério da Agricultura e um em serviços dependentes do Ministério das Finanças, em curto espaço de tempo, justificam alguma reflexão. Deveria. E uma reflexão séria e honesta. Mais do que uma reflexão, uma investigação. Que vá para além do que é óbvio e por todos sabido. Da esfarrapada desculpa da falta de meios para combater o fogo. A questão de fundo, nos casos em apreço, não é se existiam ou não existiam meios para combater o fogo. A questão de fundo não está em saber se os edifícios têm ou não escadas exteriores. Todos sabemos que não têm. E, não têm, aqui, como o não têm em nenhum outro país do mundo. Por tal não ser obrigatório. Em nenhum país se obriga a existência de uma escada interior e outra exterior. Sempre e quando exista um elevador. De resto, se o edifício não tinha condições de segurança para albergar um departamento do Estado, deveria ter sido recusado para tal fim. Mas, todas estas questões não passam de questões periféricas. Secundárias. Em definitivo, o que está em questão é saber se estamos perante simples acidentes, perante incidentes ou perante actos de sabotagem. Se sim ou se não, que se pronunciem os donos da verdade.