domingo, março 17, 2013

Até lá

Aquando da liberalização da economia, a área dos transportes não podia ficar alheia às mudanças. Foi então que, na capital do país mas não só, surgiram os chamados “chapas”. Nesse então, na sua grande maioria eram viaturas de caixa aberta. Não possuíam um mínimo de condições para transportar pessoas. Não possuíam condições nem de conforto nem de segurança. Como certamente muitos de nós estão recordados. Tratava-se de viaturas de caixa aberta, sem cobertura. Eventualmente, poderiam ter cobertura de lona ou de outro material, bancos de madeira a todo o comprimento da caixa e uma escada metálica de acesso. Para subir e para descer. Com o avançar dos anos, este tipo de viaturas foi sendo ultrapassado e posto fora de uso. Substituído por viaturas de caixa fechada. Com condições de conforto universais e as desejadas de segurança rodoviária. Em todo este longo processo, os agora já extintos TPM ficaram parados no tempo. Recentemente, alguém teve a ideia peregrina de lhes ministrar algumas pastilhas de coramina. Com a finalidade de os tentar reanimar e trazer à vida. Mas, ao que se vê, tudo não terá passado de promessas. Feitas em actos, em cerimónias públicas, com muita poupa e circunstância. E com direito a transmissão em diferentes canais televisivos. Promessas de aquisição de centenas de autocarros, para os TPM e para privados. Com o objectivo de resolver o problema dos transportes para os citadinos de Maputo e da Matola. A ideia era, sem dúvida, boa. Ao que parece, o projecto terá falhado. No meio ou como resultado deste falhanço, os chamados “chapas” de caixa aberta voltaram a ganhar espaço. E, aí estão eles, de novo, como “donos e senhores” das nossas artérias, das nossas estradas. Transportando pessoas sem um mínimo de condições de conforto nem de segurança. Transportando pessoas como se as pessoas fossem animais. Gado bovino ou caprino. Perguntar-se-á o porquê de as pessoas, os citadinos, aceitarem o desconforto e os riscos destas condições de transporte. De casa para o serviço e do serviço para casa. A resposta é simples e mais do que elementar. Não possuem qualquer alternativa de deslocação. De premeio com este processo, sucede algo de estranho. Ou muito de estranho. Mesmo de incompreensível. É que não sabemos, desconhecemos, como é possível o Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM) permitir e tolerar a circulação de “chapas” de caixa aberta. Em elevado número. Sem licença de circulação, sem pagarem impostos e, certamente, sem possuírem seguro. Mais, sem fazerem a inspecção mecânica das suas viaturas. Requisitos mínimos para circular que são exigidos ao comum dos cidadãos. A realidade, é que na cidade de Maputo existem dois tipos de citadinos, de cidadãos. Os que estão condenados a pagar taxas e impostos logo que saiam à rua e os outros. Os que nada são obrigados a pagar, aqueles a quem nada é exigido. Ou seja, uns são “filhos e outros enteados”. Sendo mais claro e objectivo, o que os munícipes querem saber dos gestores municipais não é só o quando resolver a anarquia que reina nos transportes públicos. Uma anarquia, ao que tudo indica, premeditada, consentida. É bem mais. É muito mais. É, também, saber quando pensam ter condições para fazer uma eficiente recolha dos lixos domésticos. E, para mudarem a actual lixeira para outro local. Para criarem condições de funcionamento do novo cemitério. Para taparem os buracos, as crateras, de muitas das artérias da cidade capital. Para acabarem com os constantes cortes de energia. Ainda temos paciência para esperar mais algum tempo. Vamos esperar para ver. Até lá.