domingo, janeiro 25, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo
25 de Janeiro 2004

antes e depois

Luís David


Até à próxima a semana


Domingo passado, pouco depois das 18 horas, ocorreu mais um acidente de viação na cidade de Maputo. De que resultou a morte de uma jovem, vários feridos e elevados prejuízos materiais. Foi no cruzamento das Avenidas 24 de Julho e Lenine. Quando ia a passar pelo local, segundos depois da ocorrência, as vítimas estavam a ser socorridas por populares. E, das pessoas com quem falei, e foram várias, recolhi duas opiniões fundamentais: Uma, a de que o “chapa” circulava a alta velocidade, A outra, de que o sinal luminoso estava avariado e havia sido a causa de um, comprovado, corte de prioridade. Não irei tomar posição a favor de uma ou da outra tese. Havia passado, horas antes, pelo mesmo local, e sei como o semáforo estava a funcionar de forma irregular. Como constituía uma armadilha para automobilista mais apressado. Como, infelizmente, acontece com a maioria dos semáforos das artérias de Maputo. Pensei, então, escrever sobre o assunto. Para perguntar se, na realidade, os responsáveis, ainda em exercício, do Conselho Municipal, têm ou não responsabilidades criminais por estas mortes. Mortes que resultam da negligência e da incompetência de quem ainda está à frente da gestão da capital do país. Depois, bem, depois, decidi que não. É que, pensei eu, a perda de mais uma vida, o que é que isso representa para este bando de imbecis. Aparentemente, nada. Aparentemente, a insensibilidade à morte é total. A menos que nos paguem para não sermos insensíveis. Então, pensei, devo escrever sobre coisa outra, diferente. E, da mesma forma que pensei, da mesma forma o faço.


Li, atentamente, o Editorial da última edição do “Zambeze”. E, concordando com o que está escrito, por conhecer os factos, penso que algo está em falta. E, o que falta mencionar, em “País de escândalos”, são as histórias do urânio enriquecido, que apareceu à vendas nas ruas de Maputo, as do um avião que levantou voo, clandestinamente, algures de uma pista da Zambézia, carregado com pedras preciosas, e as circunstâncias, nunca devidamente clarificadas, da morte do General Marcos Mabote. Investigar estas, e muitas outras questões, que permanecem em aberto, na nossa história recente, é um dever. Um dever, de todos e de cada um. De cada um de nós. De todos nós. Não tenhamos medo de mergulhar no passado. Não tenhamos medo, sobretudo, de admitir todas as hipóteses de investigação sobre as mortes de Carlos Cardoso e de Samora Machel, embora mantidas as necessárias distâncias. .Sobretudo, sobre a pista “russa”. Tenhamos a coragem de manter em aberto todas as hipóteses de investigação. È que, tivesse havido coragem para uma investigação isenta e independente, não teria havido espaço para o dogma e para tanta mentira. Os mitos criam-se, como todos nós sabemos que se criam. A partir de algo que desejamos que exista, que pensamos que tenha existido. Sobre o julgamento do chamado “caso BCM”, nada quero acrescentar. Embora algo pudesse dizer. Por aqui me fico. Até à proxima semana.