domingo, junho 06, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 6 de Junho de 2004

antes e depois

Luís David


Moçambique também tem água mineral


Um dos problemas mais dramáticos, em África, de um modo geral, é o do acesso à água. E, Moçambique, como país africano, confirma a regra. Por um lado, são as longas distâncias que é necessário percorrer para obter um mínimo de quantidade de água. Por outro, conseguir obter água com um mínimo de qualidade. Água com qualidade para o consumo humano. Água potável. E sem custos ou, no mínimo, a um preço acessível. A questão da falta de água, da escassez de água, não era, e provavelmente ainda não deixou de ser, um fenómeno exclusivamente rural. É também, sempre foi, uma questão, um problema urbano. Talvez mais correctamente, suburbano. Estamos recordados, certamente, muitos de nós, do que sucedia antes da independência. E, certamente, também já no depois. Quem queria ter água e tinha possibilidades económicas, mandava abrir um furo no quintal da sua residência ou nos terrenos anexos à cantina. Depois, sem necessidade de qualquer tipo de publicidade, esperava que os vizinhos mais necessitados de água lhe fossem bater à porta. E, aproveitava para fazer negócio. Vendia água em latas de vinte litros. Ao preço que pretendia. Reclamações sobre o valor cobrado e a qualidade seriam poucas. As autoridades da época diziam ser um negócio ilegal. Mas, para além de uma posição mais agressiva contra um ou outro cantineiro de quem não gostassem, ficavam-se, sempre, por uma posição contemplativa.


Recentemente, há poucas semanas, assistimos, todos, ao despoletar de uma polémica sobre a qualidade de certas marcas de água que é engarrafada e vendida em Moçambique. E, quando seria de esperar que as diferentes associações, ditas de defesa do consumidor, viessem a público dar a conhecer a sua posição, dizer se as águas em questão podem ou não ser consumidas como boas, assistimos ao silêncio. Da mesma forma que terá passado quase despercebida a posição do Ministério da Saúde sobre a matéria. Poderá, certamente, haver razões ou interesses económicos outros para que assim tenha sido necessário acontecer. Mas, recuemos, mais uma vez, no tempo e recordemos. Quando, em meados de década de setenta, a empresa que explorava a água da Namaacha pretendeu desenvolver o negócio e, para o efeito fazer publicidade, mandou realizar todo um conjunto de análises laboratoriais. Na expectativa de que a água tivesse alguma qualidade excepcional. Mas não tinha. E, certamente, também hoje não tem. Era, segundo as análises da época, bacteorologicamente pura. O que já não era mau. E que será uma qualidade que conserva. Ao que se sabia na época, não havia em Moçambique água mineral. Hoje, parece haver. É que, para além de tantas águas, que se diz colhidas na fonte e transportadas em cisternas para o local de engarrafamento, uma é engarrafada nas Montanhas de Goba. E, mais se diz, nos jornais, é mineral. A não ser água mineral, estaremos perante um caso de publicidade enganosa. A ser água mineral, e é bom provar que o é, ficaremos todos muito satisfeitos. É que Moçambique também tem água mineral.