domingo, agosto 15, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 15 de Agosto, 2004



antes e depois

Luís David

utilizem de outra forma o dinheiro dos nossos impostos


Sabemos todos que o Orçamento Geral do Estado ainda é dependente da ajuda externa. Em significativa percentagem. Também sabemos, todos, que o Governo tem uma elevada dívida interna. Dívida esta resultante da sua atitude em relação às políticas impostas pelo FMI. De uma atitude concordante. Da atitude de fazer muitos, através do agravamento dos impostos, pagar as dívidas contraídas por poucos. De fazer recair sobre os contribuintes votantes o ónus de algumas fraudes. E de não permitir a falência de certos bancos. Trata-se, naturalmente, de uma política discutível. Como discutíveis são todas as políticas. O que não é discutível, por não fazer sentido e não ter qualquer lógica, é a afirmação, tantas vezes repetida, sem que a repetição a transforme em verdade, de que era necessário defender os pequenos depositantes. No contexto da dívida interna, Moçambique não constitui inovação. Também não é achado arqueológico. O que se passa, hoje, no nosso país, é uma simples repetição, uma simples cópia, a papel químico, do que tem vindo a acontecer em muitos outros. Castrados da capacidade e da vontade – sobretudo da vontade – de se assumirem como tal. O resto, tudo o resto, é música mal tocada, é música desafinada. Para fazer boi dormir.


Nos últimos tempos, temos assistido a muitas, a mais do que muitas, formas menos claras, menos criteriosas, de gestão de dinheiro público. De dinheiro do erário público. De dinheiro que vai parar aos cofres do Estado através dos impostos que pagamos. Primeiro, foi o dinheiro gasto pelas mais diversas instituições do Estado em anúncios necrológicos. A anunciar e a expressar dor pela morte de familiares de dirigentes do Estado. E que, ao que podemos ver, contínua. Ora, se um dirigente do Estado pretende expressar os seus sentimentos, pelo passamento de alguém que lhe é querido ou era das suas relações, que o faça com o dinheiro que é seu. O dinheiro do Estado, o dinheiro do Orçamento do Estado, é para outros fins. Assim o entendemos, assim muitos o entendem. Dentro das mesma linha de pensamento, parece estranho o aparecimento, em diferentes jornais, de discursos de dirigentes do Estado. Proferidos nas mais diversas ocasiões. Publicados e pagos sob a forma de publicidade. O exemplo mais recente é o que nos está a ser dado pelo Ministério da Educação. Talvez um mau exemplo. Discurso, resolução, comunicado final de uma reunião, já viu letra de imprensa em tudo quanto é jornal. Acompanhados de farta ilustração, ocupando várias páginas de cada periódico. Ora, considerando que os principais jornais do país apenas chegam, se chegam e quando chegam, às capitais provinciais, estamos perante um exercício inútil e pateta. Um exercício que não visa transmitir conhecimento, decisões e sapiência a muitos mas, apenas, dizer aqui estou eu. Uma estranha forma de olhar para o umbigo, de satisfazer a vaidade pessoal, de alimentar o ego. Uma estranha forma de fazer propaganda pessoal. Com o nosso dinheiro, com o dinheiro dos impostos que pagamos. Com o dinheiro que deveria ser utilizado na construção e apetrechamento de mais escolas. Por favor, utilizem bem, utilizem de outra forma o dinheiro dos nossos impostos.