domingo, agosto 22, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 22 de Agosto de 2004


antes e depois

Luís David


o combate ao crime organizado é um combate desigual


Nos últimos anos, foram muitos os casos de droga detectados no país. Referimo-nos, bem entendido, a casos relacionados com fábricas de produção. Com contentores em trânsito. Também, mais recentemente, com os chamados “correios”. Que, normalmente, viajam de avião e transportam o produto no estômago. Maputo, Matola, Cabo Delgado, Inhambane, outra vez Maputo, são nomes conhecidos dos traficantes. Também das Polícias. Alguns dos traficantes terão sido descobertos e detidos. De entre esses, uns tantos julgados. Outros, libertos em condições que permanecem pouco claras, mais outros de quem nunca mais se ouviu falar do paradeiro. Ao certo, de traficantes, transportadores, fabricantes, “correios”, a memória guarda imagem nenhuma. Porque nunca lhe foi dada imagem alguma a registar. O que sabemos, a única coisa que nos dizem, é que foi encontrado um contentor com droga, descoberta uma fábrica de mandrax, detido um “correio”. Mas, sempre sem rosto, raramente com nome. Daí, talvez, quase de certeza, a esta nossa insensibilidade perante questões relacionadas com a droga. Com o tráfico e a produção em território nacional. Porque, parece ser essa a sensibilidade, assunto de droga é assunto para esquecer. E, o mais depressa possível. Não é assunto para investigar até às últimas consequências. Para esclarecer.



Foi noticiado esta semana, em Maputo, que a polícia sul-africana apreendeu um contentor com “methaqualone”. Um produto utilizado na produção de comprimidos de “ mandrax” . E, que esse contentor tinha como destino Cabo Delgado. Ao que parece, ao que foi dito posteriormente, o proprietário era um conhecido empresário de Nampula. E, aí temos, de novo, o nome de Nampula a ser referenciado nas rotas no crime organizado. Mas, este até pode ser um aspecto secundário. A questão de fundo, a questão principal, está em saber a quem era destinado o contentor. Porque o contentor tinha um destinatário, tinha uma pessoa ou uma empresa a quem era destinado. Mas, todos o sabemos, os contentores não têm pernas nem meios próprios para saírem dos barcos. Nem dos portos. Menos ainda inteligência, mesmo que artificial, para procurarem os destinatários, os donos. Então, alguém deveria ir procurar saber onde estava e levantar ou reencaminhar o tal contentor. Tal não aconteceu por a polícia da África do Sul o ter interceptado no Porto de Durban. Porquê, qual o motivo que evitou uma operação conjunta à chegada ao destino, é matéria que compete esclarecer às polícias dos dois países. Sabendo-se que a droga encontrada no contentor vale um bilião de randes, a nós satisfaz-nos uma resposta bem mais simples. Clara e concreta. Para dizer a quem se destinava o contentor. Enquanto isso não acontecer – e esperamos que aconteça em breve – é pura ilusão falar em combate ao crime organizado. Apesar de estarmos conscientes que o combate ao crime organizado é um combate desigual.