terça-feira, agosto 10, 2004

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de 8 de Agosto, 2004

antes e depois

Luís David

Chegou o tempo de mudar mais do que as moscas

Parece estar a crescer, de forma assustadora, o número de pessoas que tomam os seus desejos por verdades. Por verdades absolutas. Embora possam ser, no seu todo, apenas não verdades Vai daí, tentam, de forma corajosa mas desastrada, talvez desastrosa, convencer-nos de que. Há dias, não muitos, alguém parecia realizado ao poder escrever, ao dar-se o direito de escrever que, depois que a tal freira de nacionalidade brasileira havia saído de Moçambique não mais se havia falado em tráfico de órgãos humanos. Em boa verdade, convenhamos que sim. Em termos de lógica, poderemos consentir que sim. Mas, este consentir que sim, num determinado momento ou até um determinado momento, em nada invalida que possa ter havido mortes de crianças e tráfico dos seus órgãos num tempo anterior. E terá havido. E, este terá havido não resulta de qualquer opinião pessoal, de desejo pessoal. Resulta do posicionamento do procurador-geral República, esta semana tornado público, segundo o qual o relatório final não será divulgado por haver pessoas incriminadas na prática de tais actos. Quem são essas pessoas, continua a constituir, portanto, a questão de fundo. É mistério. Ou segredo bem guardado, Embora se possa presumir que não sejam os camponeses que residem na zona. Esses camponeses, como todos bem sabemos, não tem capacidade para criar galinhas. Não por não saberem como se podem criar galinhas. Mas, isso sim, por não saberem movimentar-se pelas vias escusas que os estrangeiros parecem percorrer, com a maior das facilidades, para conseguirem dinheiro do Estado moçambicanos. Dinheiro dos nossos impostos.

O Conselho Regulador de Águas decidiu, esta semana, ratificar um acordo de entendimento firmado entre a Empresa Águas de Moçambique e a Associação de Moradores da Cidade de Maputo. Cuja finalidade é, como vinha sendo solicitado, distribuir por cada condómino, o custo da água consumida nas áreas comuns. Significa isto que, daqui por diante, o morador de uma flat, de um qualquer prédio, irá pagar, para além da água que consome na sua residência, a parte que é seu dever pagar, gasta nas áreas comuns. Parece simples. Parece simples de entende que assim seja, que assim seja feito. Mais: É fácil de entender que assim deva ser. Mas, não entendem assim, não entendem de igual forma, não possuem qualquer capacidade para entender, menos ainda capacidade de diálogo, os “saloios” que estão a gerir a Electricidade de Maputo a nível da cidade de Maputo. E, o termo “saloios” tem aqui o exacto significado com que foi utilizado num recente e mediático julgamento. Por outras palavras, querendo ser breve, querendo ser breve curto e bruto, a única coisa que mudou, ao longo deste processo, desta luta de anos em defesa de interesses moçambicanos, a única coisa que poderá ter mudado, se é que mudou, foram as moscas. É tempo de se dizer, basta. Chegou o tempo de mudar mais do que as moscas.