domingo, abril 03, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique, no Jornal Domingo de Abril 3, 2005

antes e depois

Luís David


merece um cacho de bananas

Há certas informações, certas notícias, que pela forma como são divulgadas nos chamam a atenção. Principalmente, quando dizem respeito a questões que alguns de nós nos habituámos a ver de maneira outra, de forma diferente. Por exemplo, o “Notícias” titulava, em edição da semana que passou, que “Sonda da NASA tenta confirmar Einstein”. Pelo conteúdo do texto, poderá não ser exactamente assim. O que a tal sonda parece querer tentar demonstrar é que o bom do homem estava errado quando, há um século , divulgou a sua teoria da relatividade. E, Einstein que, ao que tudo indica, não era pessoa dado a muitos cálculos de matemática, o que tentou demonstrar foi que o espaço e o tempo não são absolutos mas sim relativos. Tanto ao observador como à coisa observada. E que, quando mais rápido for o nosso movimento, mais pronunciados se tornam esses efeitos. Ora, confirmar a teoria da relatividade, como se diz, altera nada de nada. Alterar ou modificar essa teoria, altera, de igual forma, nada de nada. As teorias foram, ontem, como o são hoje, simples convenções. Simples acordos entre cientistas. Que, quando, reunidos em conferência, chegam à conclusão não poder haver conclusão unânime sobre determinada matéria. Possa ou ser interessante, de acrescentar que só no início de década de cinquenta do século passado é que foi aceite uma data definitiva para a idade da Terra. Depois de longos anos de estudos e de controvérsias, Patterson fixou-a em 4550 milhões de anos. A partir desse momento, a Terra passou a ter, finalmente, uma idade. Que, até ao dia de hoje, decorrido meio século, ninguém se atreveu a contestar. Se a idade da Terra é, exactamente, esta ou não é esta, pouco importa. Prevalece o que foi convencionado. E, o que foi convencionado é, em definito, a verdade. A verdade é, sempre foi, uma convenção. Um acordo.


É bom de entender, ao longo dos séculos, das décadas, dos anos, aconteceram muitas outras descobertas. Quiçá, mais importantes. Ou que, possa haver quem assim pense que seja. Ou que possa ser. Um exemplo recente, de ontem, de há dois dias, é o que encontramos na página das Cartas dos Leitores do “Savana”. Um cidadão sueco, em escrita remetida de Estocolmo, interroga, talvez com alguma ingenuidade nórdica: O que aconteceu com os líderes de guerrilha que costumamos apoiar? E, logo a seguir, depois de um ponto final, com direito, óbvio, a parágrafo, não resiste em tirar a conclusão. Exclusivamente sua, pessoal: Hoje, muitos dos ex-líderes da guerrilha e os combatentes pela libertação são presidentes, ministros e membros do parlamento. Os proscritos passaram a ser as novas elites. É. De facto é assim. E assim, terá, fatalmente, de continuar a ser. Pela simples razão de que os proscritos, não lutaram para substituir o colonialismo português pelo moderno colonialismo sueco. Sendo que, o colonialismo dos países nórdicos é, na generalidade, sempre foi, bem pior do que o colonialismo das potências chamadas coloniais. Por ser subtil, por ser feito, modernamente, por via das organizações chamadas não governamentais. Se me permitem, e permitam, aqui deixo o apelo para que este sueco esquizofrénico seja contemplado com um qualquer prémio. Afinal, ele não descobriu que branco que corre à frente de polícia é atleta e preto que corre à frente de polícia é ladrão. Faltou-lhe coragem para o dizer. Mas, mesmo assim, o homem, merece ser premiado. No mínimo, oferecido de boa vontade, merece um cacho de bananas.