quarta-feira, abril 13, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Abril 10, 2005

antes e depois

Luís David


Esperemos para ver


Muito do que hoje sabemos e conhecemos sobre a Igreja Católica, está em dívida para com a Arte. O que sabemos, no que nos foi dado a saber e a conhecer, a Arte representou um papel central e fundamental. Digamos que, ao longo dos séculos, a Arte imortalizou a religião católica. E, não o inverso como até certo momento pareceu ser aceite. Bem, entendido, seja através da escrita, da pintura ou da escultura, a história que nos chegou, a história que nos é transmitida foi, sempre, a história dos vencedores. Mas, longe e distantes ficam os séculos em que a Arte estava ao serviço da religião. Hoje, nos nossos dias, a Arte cedeu o seu lugar à Informação. Exemplo recente, é o da transmissão televisiva, em directo, das exéquias fúnebres de João Paulo II. Muitas estações televisivas estiveram em cadeia, milhões de pessoas puderam assistir à última viagem do Papa. Ele que foi, desde sempre, um Papa viageiro. Mas, se assim aconteceu, foi por o Vaticano o ter querido e o ter desejado. Um Vaticano que, sendo o maior empório do mundo, sabe, de forma exemplar, utilizar, em seu favor e em seu proveito, as mais modernas tecnologias da Informação. Para tentar dar a ideia que mudou, sem ter mudado. Seja quem venha a ser o novo Papa, a Igreja Católica Apostólica Romana irá continuar a ser conservadora. Para o exterior, poderá dar de si uma imagem de progressista. No seu interior permanecerá, para todo o sempre, conservadora. A teologia da libertação continuará, fatal e inevitavelmente, a ser dominada pela teologia da opressão. Foi isto o que nos quis dizer e nos disse a presença de um tão elevado número de Chefes de Estado em Roma na última sexta-feira. A igreja dos pobres, a igreja dos oprimidos, a Igreja de Cristo é, cada dia que passa, uma utopia mais distante.


Conhecido e empossado que foi, o novo Governo de Moçambique começou, desde logo, desde muito cedo, a ser questionado no que respeita aos elementos que o integram. Que o compõem. Para muitos analistas e críticos, o combate ao chamado “deixa andar” não pode ser feito pelos mesmos governantes que, no seu dizer, são os responsáveis por esse mesmo “deixa andar” que agora pretendem combater. Tenho as minhas dúvidas, tenho muitas dúvidas, se a análise é correcta. Primeiro, por pensar que o tempo decorrido ainda não é suficiente para se poder formar uma opinião definitiva. Por pensar que o tempo decorrido ainda não permite avaliar se que o que devia mudar, mudou. E, o que não devia mudar, permanece. Uma questão me parece certa. É que, sendo, embora, em parte significativo, o número dos actuais governantes a nível central de antigos dirigentes a outros níveis, há um desequilíbrio. Um desequilíbrio naquilo que era o antigo equilíbrio. Por outras palavras, muitos dos homens são os mesmos mas a correlação de forças, naquilo que é o seu conjunto, é, objectivamente, diferente. Mudou E, será esta alteração, esta modificação na correlação de forças, o factor de mudanças. Esperemos para ver.