domingo, dezembro 11, 2005

Publicado em Maputo, Moçambique no Jornal Domingo de Dezembro 11, 2005

antes e depois

Luís David


o rabo fora da porta

Filmes policiais, histórias de detectives, séries sobre julgamentos, povoam as memórias de muitos de nós. Histórias, verdadeiras ou de ficção, em que o bem luta por vencer o mal. Histórias, na generalidade, com argumentos excepcionalmente bem concebidos. Muitas das quais, hoje, passadas décadas, permitem fazer recordar que nem sempre o que parece é. Que o que parece ser óbvio é verdadeiro. E que, casos há em que o verdadeiro criminoso pode parecer o mais insuspeito, o mais pacato cidadão. Aconteceu, assim, na ficção. Mas, também pode estar a acontecer igual na realidade. E, a realidade recente pretende mostrar que o crime – especialmente o crime organizado – não terá diminuído. Alterou, isso sim, os métodos de actuação. Modernizou-se. Sofisticou-se. Em última análise, investe, fortemente, nas novas tecnologias de comunicação e de informação. É para este presente, para este hoje, que nos tenta alertar vasta literatura, numerosos trabalhos de investigação editados em tempos recentes. Sobretudo, a partir da queda do Muro de Berlim e, mais recentemente, do desmantelamento da União Soviética. Deixou de ser segredo, sabe-se, hoje, com alguma precisão, com algum rigor, quem controla o tráfico de armas, quem domina as empresas e faz fortunas com a venda ilegal de motores de avião ou de urânio. Naturalmente, resultado do espólio do antigo Exército soviético. Não, necessariamente, apenas no interior do país. Como parece fácil saber alguns nomes de quem está ligado ao tráfico, para o Ocidente, de ouro e de moeda forte. O mesmo pode ser válido em relação aos negócios do petróleo. Contudo, apesar do que se sabe, do que se conhece hoje, a verdadeira dimensão do crime organizado é quase impossível de conhecer. Facto concreto, incontestável, é que o crime organizado, em algumas região do mundo, constitui um perigo para as democracias. Principalmente, para as mais recentes.


Terminada que está a primeira semana do julgamento de “Anibalzinho”, parece haver nenhuma novidade a registar. Ou seja, quanto terá sido dito afigura-se como irrelevante no contexto do apuramento da verdade material. Assim sendo, parece que bem andou o Juiz da Causa ao não permitir a transmissão em directo das audiências. Tenha ou não decidido de forma calculada, a decisão pode ser apontada como tendo tido duas virtudes. A primeira, foi a de ter evitado o gasto de elevadas somas de dinheiro do erário público. De que, como se provou, nenhum bem resultaria para o apuramento da verdade. A segunda, foi a de nos ter evitado o triste espectáculo de ter de ver de ouvir um assassino que procura utilizar todos os meios que lhe proporcionam para se tentar apresentar como herói. Como estando acima ou para além da Lei. Se quiserem, como sendo diferente entre iguais. Ressalve-se, esta igualdade deve ser entendida em termos de democracia e nunca de bandidismo. Porque os bandidos, os ladrões, os assassino, também têm os seus códigos. Morais. Como têm sempre presente a chamada “lei da morte”. Bem entendido, certamente que ninguém espera que de uma sala de audiência com espaço tão reduzido possam sair revelações. Nem pequenas, muito menos grandes. Depois, investigar sobre o autor material de um crime é sempre um processo demorado e complexo. Apesar de o que menos falta serem as pistas de investigação. As hipóteses de trabalho. O perigo, em última análise, é que seguir uma pista pode conduzir a um local onde não se pretende chegar. Ou onde, antecipadamente, se sabe não dever chegar. Mas, por hipótese, também pode, muito bem, acontecer, haver alguém que esteja, desde há muito tempo, a tentar lançar a confusão. Que esteja a tentar, por todos os meios, apontar pistas falsas. Neste caso, e pode ser o caso, corre o risco de ao tentar sair do imbróglio que criou deixar a porta aberta. Talvez pior, deixar o rabo entalado na porta, deixar o rabo fora